coordenada por Maria Silvia Hanna, convida a todos para uma conversa com
Angela Negreiros, Paula Borsoi, Romildo do Rêgo Barros e Ruth Cohen,
que são os responsáveis pelos quatro eixos temáticos que irão orientar
os trabalhos das mesas simultâneas. Nessa ocasião, vamos escutá-los
sobre a chegada dos trabalhos e sobre os temas que serão aprofundados em
cada um dos eixos.
deixe para a última hora!! Os detalhes para o envio estão no Blog das
XXV Jornadas.
Comentário ao texto “Palabras Preliminares” (MILLER, 2006)
El amor en las psicosis nos enseña
sobre el amor en general… Ó será por último que, el sujeto psicótico no
ama, sino su delirio, según lo expresado por Freud?…las psicosis pueden
entonces enseñarnos mucho sobre esa locura común que es el amor y sobre
la transferencia. (MILLER, 2006, p.11)
Darei no texto dois pontos que podem nos ajudar a pensar sobre as
questões do amor. Primeiramente, o fato de que “o amor é sempre
narcísico” (MILLER, 2006, p.10) e, depois, a relação de proximidade que
há entre o amor e a loucura, tal qual assinalada por Miller.
No que se refere à psicose, o narcisismo se pronuncia através da
erotomania, no delírio erotômano, que vem servir de defesa ao que vem do
Outro, uma vez que a metáfora simbólica do Nome do Pai está foracluída.
Desse modo, o que vem do campo do Outro é ameaçador para o sujeito
psicótico, e seu delírio é o recurso de que dispõe para dar conta do
real. Seria preciso que a castração simbólica estivesse inscrita, sendo
essa a condição de possibilidade para fazer barreira ao que vem do outro
real como algo ilimitado. Miller destaca que o amor na psicose, segundo
Lacan, é “um amor morto” (2006, p.10), ou seja, “mais que em qualquer
outra parte o sujeito só ama a si mesmo, ou um ideal pelo qual substitui
a realidade do parceiro” (2006, p.11), o que nos leva a indicar que a
observação de Freud quanto ao amor para o sujeito psicótico é de que
“ele não ama senão o seu delírio” (2006, p.11).
Inversamente, podemos dizer que “amar é antes de tudo querer ser
amado” (MILER, 2006, p.11), mesmo que seja às expensas de se fazer
objeto do outro no amor. Tal fato pode nos demonstrar o que afirma
Miller, que entre o amor e a loucura há um limite tênue, à diferença de
que estar na posição de falo do Outro, como consequência do narcisismo,
tem resultados distintos para o sujeito psicótico, como demonstrado por
Freud e Lacan nos casos Schreber e Aimée.
E quanto ao amor de transferência? Trata-se de um amor que traz as
marcas, o traço de um amor passado, de uma experiência vivida. Desse
modo, é dessa experiência que o sujeito estabelece o laço transferencial
com o outro. Será o início de um tratamento que poderá levar ao que, na
psicanálise, designamos como novo amor.
E quanto à psicose, o que tem Miller a dizer? Ele traz à luz a
capacidade de invenção do analista, o que implica que este possa
permitir o deslocamento das insígnias significantes para que a
transferência se dê e, através da sua escuta, possa recolher os detritos
da língua passíveis de se tornarem novas invenções, não mais de ordem
ameaçadora, mas que apontem na direção de um novo amor.
Referências
MILLER, Jacques-Alain et al. Palabras Preliminares. Em: El amor en las Psicosis. Buenos-Aires: Paidós, 2006, p. 9-12.
Psicose Ordinária: um comentário
Por Lenita Bentes
“Posso agora refletir sobre o motivo
que me levou a sentir na época a necessidade, a urgência e a utilidade
de inventar este sintagma – psicose ordinária. Diria que foi para
driblar a rigidez de uma clínica binária: neurose ou psicose”. (MILLER, 2008, p.402)
O que ganhamos com o sintagma psicose ordinária é que este traz
precisão ao vasto campo da psicose, flexibilizando o binarismo
neurose-psicose, sem ferir as formulações de Freud e Lacan quanto às
estruturas classicamente definidas.
Entretanto, a Psicose Ordinária é uma categoria clínica lacaniana,
mais precisamente recolhida de seu último ensino, a qual lança luz sobre
tipos de funcionamento frequentes que muito embaraçam a clínica.
Trata-se da nada rara clínica denominada por Miller como Psicose
Ordinária, que não tem definição rígida, mas provoca um grande “eco
clínico”.
O diagnóstico impossível de concluir encontra um campo teórico
clínico espesso. A Psicose Ordinária é um “terceiro excluído” da clínica
binária neurose-psicose. É uma clínica dos pequenos indícios, das
nuances, das tonalidades. Contudo, mostra com clareza a compensação da
foraclusão do Nome-do-Pai que Lacan enfatiza desde seu primeiro ensino.
Valho-me da escritora Clarice Lispector, numa passagem esclarecedora:
“devemos ter muito cuidado quando tocamos no que nos parece ser o
defeito de alguém, pois, muitas vezes, é em torno dele que ela organiza a
sua vida”.
Referências
MILLER, Jacques-Alain. A psicose ordinária. Belo Horizonte: Scriptum, 2012.
Encontros na pólis
Por Roberta D’Assunção
Em sua apresentação do Centro
Inter-disciplinar de Estudos sobre a Criança (Cien), Judith Miller nos
convoca a pensar “em que real o discurso do mestre está confrontado no
seu esforço de normatização.” (MILLER, 1998) Real que interessa ao
psicanalista ouvir dos pequenos grupos que habitam essa pólis
inter-galáctica atual.
Recentemente, tivemos uma conversação* no
CienRio inspirada pelo testemunho vivo e corajoso do pai de um
adolescente autista. A lida diária e ininterrupta com o filho, bem como a
dificuldade em encontrar um lugar no sistema educativo e na cidade para
os dois, foram difíceis de suportar e tiveram efeitos segregativos.
Se a lei que torna obrigatória a
oferta de mediação escolar garante uma vaga para a criança no discurso
pedagógico, durante a conversação percebemos que será necessário ainda
um “bom encontro” para que a criança faça parte do cotidiano escolar.
Necessário mas nem sempre possível. A
possibilidade surge na fala da diretora de uma escola sobre o
“apaixonamento” de uma criança autista por seu colega de classe que a
leva a participar das atividades e se enlaçar nas amizades. O colega foi
escolhido pela criança como seu mediador, desafiando as expectativas de
contratar um profissional especializado para tal.
A presença do analista no Cien
introduz uma lógica não dogmática e ajuda a manter vivo o real em torno
do qual esses discursos circulam, abrindo brechas para crianças,
adolescentes, pais e profissionais criarem suas respostas, “pois coloca
em jogo novos elementos extraídos da contingência do encontro naquela
conversação.” (BARROS, 2017) O psicanalista tem como tarefa destacar os
significantes emblemáticos destes encontros contingentes que os
laboratórios recolheram nas ruas, Caps, abrigos, escolas, hospitais, e
que produzem um caldo rico de práticas e falas inéditas na cidade.
*A conversação contou com
participantes dos laboratórios do CienRio: “A criança entre a mulher e a
mãe”, “Singularizar o cuidado”, “Brincante”, “Digaí-Escola”, “Infância
Errante” e “Pipa-Voada”.
Referências
MILLER, Judith. Cien: Apresentação por Judith Miller. Correio. São Paulo: EBP, n. 21-22, nov.1998.
BARROS, Maria do Rosário Collier do Rêgo. A prática interdisciplinar do Cien. In: Brown, N.; Macedo, L.; Lyra, R. (Orgs.) “Trauma, solidão e laço na
infância e na adolescência: experiências do Cien no Brasil”. Belo
Horizonte: EBP, 2017.
Leia mais–> https://loucuraseamores2017.wordpress.com/page/3/