Um sujeito procura análise
porque o saber constituído de seu sintoma claudica. Este é o momento em que o
sintoma se apresenta como impossível a assumir, porque o rompimento de seu
envelope formal coloca a céu aberto o que escapa à representação, à ação do pensamento
(gedanken) e que permanece como um resto que Freud, no seu “Projeto …”
denomina de “a coisa” (das Ding). Em consequência, a angústia surge como sinal.
porque o saber constituído de seu sintoma claudica. Este é o momento em que o
sintoma se apresenta como impossível a assumir, porque o rompimento de seu
envelope formal coloca a céu aberto o que escapa à representação, à ação do pensamento
(gedanken) e que permanece como um resto que Freud, no seu “Projeto …”
denomina de “a coisa” (das Ding). Em consequência, a angústia surge como sinal.
Buscar um analista
torna-se, então, uma das saídas possíveis. Busca-se, no analista, um saber que
possa restituir a eficácia do envelope rompido, na esperança que seja
devolvido, ao sujeito, a sua certeza de ser na singularidade própria de seu
sintoma. É Albert Camus, numa passagem que só os escritores criativos produzem,
quem diz muito bem do que se trata: “Ele não era nada senão esse coração
angustiado, ávido de viver, revoltado contra a ordem mortal do mundo que o
tinha acompanhado durante quarenta anos, esse coração que batia sempre com a
mesma força contra o muro que o separava de toda e qualquer vida, querendo ir
mais longe, ir além e sobretudo saber*, saber antes de morrer, saber finalmente
para ser*, uma só vez, um só segundo, mas para sempre.”
torna-se, então, uma das saídas possíveis. Busca-se, no analista, um saber que
possa restituir a eficácia do envelope rompido, na esperança que seja
devolvido, ao sujeito, a sua certeza de ser na singularidade própria de seu
sintoma. É Albert Camus, numa passagem que só os escritores criativos produzem,
quem diz muito bem do que se trata: “Ele não era nada senão esse coração
angustiado, ávido de viver, revoltado contra a ordem mortal do mundo que o
tinha acompanhado durante quarenta anos, esse coração que batia sempre com a
mesma força contra o muro que o separava de toda e qualquer vida, querendo ir
mais longe, ir além e sobretudo saber*, saber antes de morrer, saber finalmente
para ser*, uma só vez, um só segundo, mas para sempre.”
É, portanto, pela via do
saber que começa uma análise e neste começo está a transferência: o amor ao
saber.
saber que começa uma análise e neste começo está a transferência: o amor ao
saber.
Responder deste lugar de
saber, no entanto, poderá produzir alguns efeitos, mas nunca uma análise. Por
isso é importante distinguirmos, com Gerard Miller, “a entrada em análise de
seu começo (…) se quisermos dar conta desses alongamentos que se estiram sob
o nome de uma análise, sem jamais iniciarem”.
saber, no entanto, poderá produzir alguns efeitos, mas nunca uma análise. Por
isso é importante distinguirmos, com Gerard Miller, “a entrada em análise de
seu começo (…) se quisermos dar conta desses alongamentos que se estiram sob
o nome de uma análise, sem jamais iniciarem”.
Para que uma análise possa
acontecer é fundamental a intervenção de um analista.
acontecer é fundamental a intervenção de um analista.
Novamente uma distinção se
faz necessária. Quando Lacan, em sua conferência intitulada “A terceira” nos
diz que “chama sintoma ao que vem do real”, ele explicita que este, o sintoma,
só se acalma se lhe nutrem de sentido, de tal maneira que só há duas saídas: ou
o sintoma prolifera ou se reinventa. Ora, proliferar o sintoma não é bem o
objetivo de uma análise, nem muito menos é seu objetivo extinguí-lo. O
fundamental é que não nos esqueçamos de que na base do sintoma está uma
impossibilidade que, sendo de estrutura, se define por: “não há relação
sexual”. É a partir mesmo desta impossibilidade que o sentido insiste no
‘automaton’ da cadeia significante.
faz necessária. Quando Lacan, em sua conferência intitulada “A terceira” nos
diz que “chama sintoma ao que vem do real”, ele explicita que este, o sintoma,
só se acalma se lhe nutrem de sentido, de tal maneira que só há duas saídas: ou
o sintoma prolifera ou se reinventa. Ora, proliferar o sintoma não é bem o
objetivo de uma análise, nem muito menos é seu objetivo extinguí-lo. O
fundamental é que não nos esqueçamos de que na base do sintoma está uma
impossibilidade que, sendo de estrutura, se define por: “não há relação
sexual”. É a partir mesmo desta impossibilidade que o sentido insiste no
‘automaton’ da cadeia significante.
Não nutrir o sintoma para
que este prolifere, ou como usualmente escutamos: não responder às demandas do
analisante propiciando a ele a oportunidade de escutar por detrás dos ditos, é
função do analista. Uma interpretação não é, pois, aberta a todos os sentidos
mas ao real que constitui o núcleo do sintoma e aí se coloca como um x
impedindo que as coisas andem. Ao visar este núcleo, este para-além da
significação, a interpretação ou o dizer silencioso do analista – e aqui me
refiro ao silêncio da falta de palavras [S(A/)] – é que vai promover uma volta
a mais a partir mesmo do um-a-menos de sua resposta.
que este prolifere, ou como usualmente escutamos: não responder às demandas do
analisante propiciando a ele a oportunidade de escutar por detrás dos ditos, é
função do analista. Uma interpretação não é, pois, aberta a todos os sentidos
mas ao real que constitui o núcleo do sintoma e aí se coloca como um x
impedindo que as coisas andem. Ao visar este núcleo, este para-além da
significação, a interpretação ou o dizer silencioso do analista – e aqui me
refiro ao silêncio da falta de palavras [S(A/)] – é que vai promover uma volta
a mais a partir mesmo do um-a-menos de sua resposta.
Esta volta a mais só será
possível se o analista não ceder de seu desejo, permitindo que os efeitos do
reinado do objeto ‘a’, enquanto semblante, levem o sujeito à experiência de
desamparo (Hilflösigkeit), condição primordial ao surgimento do desejo. É o que
se pode mostrar ao desenhar sobre a topologia do Grafo do Desejo, um Oito
Interior.
possível se o analista não ceder de seu desejo, permitindo que os efeitos do
reinado do objeto ‘a’, enquanto semblante, levem o sujeito à experiência de
desamparo (Hilflösigkeit), condição primordial ao surgimento do desejo. É o que
se pode mostrar ao desenhar sobre a topologia do Grafo do Desejo, um Oito
Interior.
Esta volta a mais pode-se dizê-la
correlativa de um tempo para compreender na medida que, frente à frente com a
demanda do Outro, e não mais submetido a um “querer” do analista, o analisante
poderá dizer, como o fez outro dia uma cliente: “Saí daqui preocupada com a
última sessão. Parece que eu estava sempre querendo falar coisas que lhe
interessassem.” Este é um sinal claro da presença de uma transferência e, mais
ainda, de um certo saber que aponta para um mais-além da demanda, dizendo que
uma análise poderá acontecer.
correlativa de um tempo para compreender na medida que, frente à frente com a
demanda do Outro, e não mais submetido a um “querer” do analista, o analisante
poderá dizer, como o fez outro dia uma cliente: “Saí daqui preocupada com a
última sessão. Parece que eu estava sempre querendo falar coisas que lhe
interessassem.” Este é um sinal claro da presença de uma transferência e, mais
ainda, de um certo saber que aponta para um mais-além da demanda, dizendo que
uma análise poderá acontecer.
No entanto, muitas vezes
este percurso é paralisado, é interrompido, ou pode até ir um pouco além deste
ponto, quando o saber que o sujeito adquiriu durante este tempo de compreender
apresenta-se como suficiente. Para manter-se não sabendo o analisante faz a
opção pelo luto do analista para, assim, poder sustentar seus ideais e a crença
num Outro. Esta é a esperança de poder evitar saber da “perda forçada” que a
entrada na linguagem impõe ao sujeito.
este percurso é paralisado, é interrompido, ou pode até ir um pouco além deste
ponto, quando o saber que o sujeito adquiriu durante este tempo de compreender
apresenta-se como suficiente. Para manter-se não sabendo o analisante faz a
opção pelo luto do analista para, assim, poder sustentar seus ideais e a crença
num Outro. Esta é a esperança de poder evitar saber da “perda forçada” que a
entrada na linguagem impõe ao sujeito.
Podemos denominar este
momento de uma saída terapêutica aí, onde uma análise didática poderia ter
começado.
momento de uma saída terapêutica aí, onde uma análise didática poderia ter
começado.
Em sua “Nota aos Italianos”
Lacan já dizia desta possibilidade ao afirmar que a humanidade não deseja saber
e que “não há analista, senão quando um desejo lhe vem”.
Lacan já dizia desta possibilidade ao afirmar que a humanidade não deseja saber
e que “não há analista, senão quando um desejo lhe vem”.
Quando, ao contrário, um
passo a mais pode ser dado, o que temos é uma “segunda entrada em análise”.
Este termo, introduzido por Gerard Miller é relembrado por J. A. Miller em seu
artigo sobre “As saídas de Análise”: “poderíamos nos perguntar se não há
sempre, em certo sentido, uma segunda entrada em análise. O sujeito entra em
análise antes de efetivamente saber o que é uma análise; por isso é necessário
que o analista intervenha para confirmar sua opção”.
passo a mais pode ser dado, o que temos é uma “segunda entrada em análise”.
Este termo, introduzido por Gerard Miller é relembrado por J. A. Miller em seu
artigo sobre “As saídas de Análise”: “poderíamos nos perguntar se não há
sempre, em certo sentido, uma segunda entrada em análise. O sujeito entra em
análise antes de efetivamente saber o que é uma análise; por isso é necessário
que o analista intervenha para confirmar sua opção”.
A confirmação desta opção,
acredito, não se faz pela via do saber, mas sim por um consentimento com a
experiência do inconsciente. Quando menão se faz pela via do saber, mas sim por
um refiro a consentimento, tenho em mente o que Lacan nos diz em seu Seminário
VII – A Ética da Psicanálise: quando, uma vez cumprido o ato do assassinato do
pai da horda primitiva, “se instaura um consentimento inaugural que é um tempo
essencial na instituição da lei, quanto à qual a arte de Freud será vinculá-la
ao assassinato do pai, de identifica-la à ambivalência que então funda as
relações do filho com o pai, isto é, ao retorno do amor após efetuado o ato.”
acredito, não se faz pela via do saber, mas sim por um consentimento com a
experiência do inconsciente. Quando menão se faz pela via do saber, mas sim por
um refiro a consentimento, tenho em mente o que Lacan nos diz em seu Seminário
VII – A Ética da Psicanálise: quando, uma vez cumprido o ato do assassinato do
pai da horda primitiva, “se instaura um consentimento inaugural que é um tempo
essencial na instituição da lei, quanto à qual a arte de Freud será vinculá-la
ao assassinato do pai, de identifica-la à ambivalência que então funda as
relações do filho com o pai, isto é, ao retorno do amor após efetuado o ato.”
Destaco o “retorno do amor”
para dizer que aqui também, nesta passagem, o amor de transferência se enlaça
neste ponto onde o sujeito vê, para além do narcisismo, o Outro como a própria
presença da morte, espreitando. É o momento em que, já não mais podendo ter a
garantia da sobrevivência deste Outro de suas virtudes, o sujeito encontra no
amor o signo que vai sustentar o giro de quarto de volta do discurso. Uma
segunda entrada em análise poderá acontecer.
para dizer que aqui também, nesta passagem, o amor de transferência se enlaça
neste ponto onde o sujeito vê, para além do narcisismo, o Outro como a própria
presença da morte, espreitando. É o momento em que, já não mais podendo ter a
garantia da sobrevivência deste Outro de suas virtudes, o sujeito encontra no
amor o signo que vai sustentar o giro de quarto de volta do discurso. Uma
segunda entrada em análise poderá acontecer.
Esta é uma passagem que
podemos definir como sendo de um saber sobre o inconsciente para, consentir com
a experiência do inconsciente.
podemos definir como sendo de um saber sobre o inconsciente para, consentir com
a experiência do inconsciente.