Neste segundo informe da Manhã do Cartel, convido-os a um início de conversa, aquecendo a atividade da Diretoria da EBP-SP, dia 31 de maio, em Ribeirão Preto, com o escrito de Cristiana Gallo, membro da Comissão de Cartéis da EBP, em que apresenta sua experiência. Boa leitura!
O cartel multiuso
« Pensando sobre o tema de nossa Manhã do Cartel, « Os usos possíveis do cartel », gostaria de contribuir para a nossa conversa, apresentando o cartel, assim como já se falou do analista, como « cartel multiuso ».
Posso dizer, a partir de minha própria experiência, que este dispositivo criado por Lacan, que pode reunir 4+1 em torno de um tema comum, de fato funcionou como porta de entrada para a sua Escola, uma vez que o trabalho se instalou sem que existisse saber sobre o seu ensino e menos ainda sobre a sua Escola. Parecia muito democrático e animador fazer conviver a questão de cada um em torno de um mesmo tema, diferente dos grupos de estudos de que já participara, e com a presença de alguém que animava o trabalho de todos e também tinha o seu próprio trabalho a fazer: o +1!
O reconhecimento obtido mais tarde é de que a entrada na Escola de Lacan se dá pela via do trabalho: o cartel é um convite ao trabalho num pequeno grupo. Contudo, o convite reserva a experiência de que neste pequeno grupo não contaremos com a transmissão do saber do Mestre (nos bons casos!), mas com a possibilidade de movimentar a questão que nos é particular; experimentamos, solitariamente, o que é possível obter a partir deste laço de trabalho.
Lacan pretendeu uma Escola fundada essencialmente na prática do cartel e não das conferências, encontros, seminários, colocando a perspectiva de um trabalho em que todos, um a um, ficam implicados.
Neste ponto, sigo reconhecendo o cartel como instrumento eficaz para atravessar momentos de impasse nas construções teóricas, na prática clínica e para estabelecer as conexões possíveis entre a psicanálise e os outros discursos. Nessa medida, posso testemunhar os momentos em que me servi do cartel em minha formação como analista e, para além dela, os momentos em que o cartel também serviu para pensar a própria Escola.
Uma questão que para mim percorre esta breve reflexão é a do tempo de trabalho de um cartel, uma vez que podemos verificar o quanto este instrumento se presta a múltiplas possibilidades. Lacan falou de um trabalho que percorresse um ano e no máximo dois, para que depois fossem buscados novos grupos para onde se poderiam endereçar novas questões. Entre « pressa e espera », o cartel pode nos servir no tempo exato de execução de um trabalho, findo o qual, começamos o próximo… »
Silvia Sato
Coordenadora da Manhã do Cartel
Membro da Comissão de Cartéis da EBP-SP
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