Domingo, 13 de abril de 2014 – 11h00 [GMT + 1]
Número 393
Eu não teria faltado ao Seminário por nada no mundo— Philippe Sollers
Ganhamos porque não temos outra escolha — Agnès Aflalo
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Uma entrevista do presidente da IPA
Uma entrevista do presidente da IPA
A Stefano Bolognini, primeiro psicanalista italiano eleito presidente da IPA, perguntei tudo o que queria saber sobre a psicanálise, sem nunca ter feito uma.
Filippo La Porta, para revista on-line (trad. fr.: Maggiorino Genta. Texto apresentado do modo como foi extraído da internet).
As pessoas dizem: « Eu faço análise… », mas, na verdade, se trata de alguém que acaba de começar uma psicoterapia. Qual a diferença fundamental entre os dois?
– A diferença é a mesma que existe entre duas pessoas que vivem juntas ou que se vêem uma fez por semana. Na análise, além da questão do ambiente (divã-poltrona ou o lugar de face a face), a frequência contribui a uma exploração profunda e permite a criação de um lugar emocional entre analista e paciente… A isso denominamos de « coabitação psíquica ».
A psicanálise é um fato cultural, um conjunto de teorias sobre aspectos do funcionamento do psiquismo do homem, mas ela é, primeiramente, uma terapia. Qual o sentido atualmente empreendido em uma análise, como se ela não se trata apenas de uma aventura intelectual e de uma experiência cognitiva?
– Por volta de trinta anos, vários intelectuais empreenderam uma análise para enriquecer seu mundo, bem mais que para se tratar, ou visando uma mudança, muitas vezes eles descobriam que a intelectualizarão poderia ser, pelo menos em parte, uma defesa. Hoje em dia, esse tipo de demanda não existe mais: uma análise demandava um sacrifício econômico, que na época era mais suportável, as pessoas « se falam » bem menos, vai à questão central: ou seja, o mal estar e o estado da necessidade dos ressentimentos.
A psicanálise, certamente, serve para a compreensão dos problemas dos indivíduos, mais porque ela é muitas vezes utilizada de maneira inapropriada para a compreensão da sociedade.
– A utilização da psicanálise para a compreensão do funcionamento dos grupos e da sociedade começou em 1921, quando Freud escreve « Psicologia das massas e análise do eu ». O modelo da vida psíquica individual não pode ser aplicado tal qual a psicologia da sociedade, contudo não se pode negar que existem certas analogias entre o funcionamento psíquico de grandes grupos e aqueles referentes ao do indivíduo. A pertinência dessas comparações dependerá de quem as faz.
Na psicanálise, há uma primazia do psiquismo sobre a moral. O psicanalista não julga. Na Itália, Flaiano disse, nós temos um só inimigo, « o árbitro dos jogos de futebol, pois ele porta um julgamento ». Tudo isto poderia nos desresponsabilizar ?
-No quadro da perversão, a confusão entre o bem e o mal é estrategicamente utilizada de maneira a desorientar o sujeito e lhe fazer perder o contato interno com estas distinções fundamentais. A técnica da psicanálise demanda o exercício da suspensão do julgamento, enquanto se aguarda as associações dos pacientes, para poder ascender a explorações de sua vida interior, o paciente deve poder se sentir escutado com uma boa neutralidade da parte do outro. Mas, quando a confusão tem uma origem perversa, o analista deve esclarecer a dinâmica de tudo isto. A psicanálise implica uma posição de responsabilidade consciente do paciente: por exemplo, o paciente não é « culpado » de seus desejos reprimidos ou conscientes, na capacidade onde ele não os coloca em ato, mas ele é « responsável », e no momento ele amadurece no reconhecimento da existência e significado. Ele pode querer matar um inimigo (nós não podemos « decidir » a partir dos nossos sentimentos e de nossas fantasias); mas ele vai com o seu senso de responsabilidade, não cometer este ato.
A psicanálise oferece a cada um, a possibilidade de extasiar, sendo o protagonista de si. A análise faz de nossa existência, um relato fascinante. Não corremos o risco de satisfazer o narcisismo das pessoas?
– Sim, mas é frequentemente e exatamente isso que acontece de certas partes pouco desenvolvidas, mas o paciente precisa. Não é a maioria dos casos, de mimar um sujeito narcisista, mas sim, para reforçar o sentimento de valor e de consciência de si das pessoas (ou certas partes deles) que não foram encontrados, ao curso de seu desenvolvimento, contendo um receptivo. Além disso, existe também os narcisistas de verdade, aqueles que quando encontram uma resposta técnica exatamente oposta, para torná-los conscientes do seu modo de ser e transformar este modo.
Eu nunca empreendi uma análise, porque sou cauteloso da relação não igualitária com o analista, que tende « naturalmente » a abusar do poder que lhe é atribuído.
A relação não igualitária não pode e não deve ser, pois o analista tem uma responsabilidade funcional fundamental no seu trabalho com o outro. Mas, sobre o plano humano existe uma igualdade absoluta entre os dois: eles são duas pessoas que devem se tratar como tal.
Isso que se passa de maneira planejada no curso da relação psicanalítica, ocorreu durante séculos normalmente, foi produto de uma felicidade espontânea, para o desenvolvimento e o afeto (Adorno), sem ter recorrido ao artifício de sessões e seus rituais. Você verdadeiramente pensa que antes de Freud, a humanidade se portava realmente pior?
-A psicanálise , quando ela é bem conduzida, oferece ao indivíduo, de maneira melhor focada e consciente, isto é o que ele precisa para crescer. Várias pessoas sabem estar na relação com os outros com profundidade e empatia, que são valiosos dons naturais. Mas, a empatia psicanalítica é outra coisa: ela possui uma complexidade técnica diferente, por exemplo, ela implica a integração de diferentes partes do paciente, que possuem oposição entre si, como o amor e o ódio, sentidos ao mesmo tempo em relação a uma pessoa…
Será que existem outros modos, além da psicanálise, para elaborar o mal estar, como por exemplo, a dança (isto o psicanalista Elvio Fachinelli me disse um dia)?
– Sim, existem outros modos, nos diferentes casos, que podem ajudar muito uma pessoa, mas eles exercem uma ação diferente e uma ação mais limitada; isto não é mais superficial. Estas atividades podem ser úteis, mas raramente elas são realmente transformadoras, dentro de um sentido estrutural e duradouro.
Para alguns terapeutas, hoje o inconsciente quase desapareceu: as pessoas não se reprimem mais com nada, (não se pode interditar mais nada, ao contrário eles nos demandam gozar, tornando o consumo de serviço). Mas, agora nosso problema não é mais tanto de « libertar-nos », mas, ao contrário, de fortalecer um ego mais frágil.
– Sim, não é bem assim. Não tanto no sentido que o inconsciente não existe mais em absoluto, mas no sentido de que ele é menos reprimido, enquanto que o Ego central é mais frágil, fragmentado e confuso. No passado, para as pessoas era necessário de um supereu opressor; hoje, elas necessitam se reintegrar, encontrar « objetos » (no sentido de pessoas e relações) confiáveis e capazes de construir relações que tenham sentido e consistência. O homem contemporâneo é, muitas vezes, arrogante e confuso e, francamente, bem mais necessitados do que eles pensam.
Comentário
por Antonio Di Ciaccia
por Antonio Di Ciaccia
Isto foi fruto do desejo de uma jornalista, Luciana Sica, que muito cedo se foi, quando fez quatro psicanalistas de formações diferentes assinarem um « Manifesto pela psicanálise », no La Repubblica1, após um ataque contra a psicanálise diariamente no mundo da entrevista ao Il sole 24 Ore, ao discutir sobre o autismo. Esta iniciativa teve por resultado, a publicação de Einaud, de um pequeno livro, In difesa della psicoanalise².
Eu não me esqueci de auxiliá-lo (para utilizar o termo do futebol), Stefano Bolognini, um desses quatro autores, como eu mesmo, forneci na apresentação do livro da magnífica biblioteca florentino. Mas, o tema do autismo favorece uma aproximação de todos estes que discutem a psicanálise. É diferente quando se aborda a psicanálise propriamente dita.
Sempre com a gentileza que é característica das nossas discussões, eu desejaria sublinhar alguns pontos de discordância ao que se propôs afirmar o senhor S. Bolognini na entrevista concedida ao a revista on-line Europa.
Esta entrevista esclarece o fazer, me parece, a diferença que foi estabelecida entre certos conceitos da psicanálise e o ensinamento de Lacan. Nós sabemos que estes conceitos são múltiplos. Nós sabemos também que Stefano Bolognini, no seu novo cargo de presidente da IPA, deve saber reunir as diferentes linhas teóricas espalhadas a partir do freudismo.
Portanto, reduzir a experiência analítica a uma relação entre duas pessoas não faz eliminar o próprio inconsciente.
Certamente, duas pessoas estão presentes fisicamente, e em uma psicanálise, mas ele não se presta a ser o suporte de um aparelho que é o verdadeiro ator: de um lado, o suporte desse trabalho que o sujeito do inconsciente, o inconsciente do analisante, e, de outro lado, o suporte, não vou dizer a encarnação, deste objeto, ao lado do analista, que para o sujeito, « o amor que move o sol e outras estrelas », Dante.
Nessa perspectiva, a experiência analítica toma outra forma. Por exemplo, a diferença entre psicanálise e psicoterapia não reside em um padrão, ou em outro, embora a falha para o operação possa ser feita, não uma frequência. Ao invés disso, uma batida, uma pulsação, uma abertura e fechamento do inconsciente, sobre o modo de uma zona erógena. O que se visa não é uma coabitação psíquica, mas um lugar onde repousa um dito, uma « dit-mension ».
Na medida em que avanço, eu me permitiria sublinhar outros dois pontos.
O primeiro é que a psicanálise exige certos sacrifícios, que, aliás, se atualizam no pagamento (por isso que seria essencial que Sócrates tivesse sido pago, a psicanálise teria sido inventada bem antes de Freud), mas a maioria toma como forma, uma perda. Isto consiste em um esvaziamento do peso do gozo que se torna uma pluma na asa do desejo. O outro ponto reside no fato de que, na perspectiva analítica, o bem e o mal, não se correlacionam com o senso comum, porque o Norte não é mais dado pela moral, mas por uma ética, que é a do bem dizer.
Caro Stefano, permita-me me endereçar a você, como fiz por várias vezes por e-mail, para nós, a psicanálise, para você e para mim, uma paixão.
[1] Cf. Artigo de Lucina Sica para o la Repubblica em 22 fevereiro 2012, reprisado no Lacan Quotidien.
2 S. Argentieri, S. Bolognini, A. Di Ciaccia, L. Zoja, In difesa della psicoanalisi, Rome, Einaudi, 2013. Antonio Di Ciaccia apresenta este livro, entre outros, para a Dedicação da Livraria do IX° Congresso da AMP no Centro de Conversõs,quarta-feira, 16 de abrial as 14 :30 às 15 :00 h.
LIDO HOJE
por P-G. Guéguen
por P-G. Guéguen
9 de abril
Irène Théry : Relatório arquivado
« A lei deve levar em conta, segundo eles (os autores do relatório), a grande metamorfose do parentesco e, mais geralmente, a família e o parentesco nas sociedades ocidentais contemporâneas ».
A saber, o aumento da união livre e dos nascimentos de crianças fora do casamento, a banalização das separações, o surgimento de famílias recompostas e o desenvolvimento da homoparentalidade, e uso crescente dos recursos dos nos países menos desenvolvidos… Artigo de Gaële Dupont, Le Monde.
10 de abril
Fato de verificação filosófica
« A justiça sem força é impotente. Força sem justiça é tirânica ». Estas foram as duas frases citados por Manuel Valls, às 15:38 de terça-feira, 08 de abril . Seu objetivo é « endireitar na França, corrigindo a justiça ». Manuel Valls, posteriormente, promete « fazer tudo » para que « nosso país seja forte e justo ». Para apoiar sua proposta, ele vem argumentar a autoridade, citando Pascal. Mas, se a frase está bem presente em seus Pensamentos, ela não tem o sentido que Valls parece lhe dar.
Para o filósofo, há duas instâncias que são a força e a justiça e estas estão intrinsecamente ligadas, devendo trabalhar juntas. No entanto, existe uma ordem de distribuição. A justiça não pode vir primeiro, segundo Pascal, pois está sujeita à « disputa », escreveu ele. Em compensação, « a força é mais o reconhecível e sem disputa ». Esta é a força que é necessária para impor à justiça. Continua, Pascal: « Assim, poderíamos dar força à justiça , porque a força contradisse a justiça e disse que ela foi injusta e disse que era ela que estava certa ». A justiça não triunfa sobre a força, é a força que é capaz de impor a sua própria concepção de justiça. « E, portanto, não pode fazer do que é justo, forte, fizemos o que é forte apenas. »
É com estas palavras que termina o pensamento de Pascal. Artigo Valentin Schmite , Slate
11 de abril
Fato 1, fato 3, o fato #!**
«A « concierge » economy for the very rich has grown up side by side with the defective service economy for everyone else. In trying to escape mass-produced services, many wealthy people have turned to concierge-like doctors, bankers, etc., with whom they can have more personal relationships. « In the concierge economy… information systems are used to supplement rather than replace the skills of employees. There are no digital scripts at the Goldman Sachs private bank. »» Article de Robert Skidelsky, The New York Review of books.
Uma mulher por cima
« The biggest reason of all that the « why » question matters so much for Clinton is that she is a woman. Consider this Gallup poll from March, which asked Americans about the most positive reasons for Clinton’s presidency. The top answer, selected by 18 percent of respondents, was that she would be the first woman president. Just nine percent said it would be her foreign policy experience. Three percent said it would be that she is capable, competent and qualified. Two percent said it would be her intelligence. And another two percent said it would be because Bill Clinton would return to the White House and could act as her adviser.
Fair or not, Clinton will be defined by her gender unless she puts forth a vision that goes beyond that issue. » Article de Jena McGregor, The Washington Post.
Lacan Cotidiano
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edição cecile favreau, luc garcia, bertrand lahutte
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Tradução: Renally Xavier
Comunicação: Mª Cristina Maia Fernandes
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