Controle, supervisão, superaudição*
Mario Izcovich
Quando comecei meus estudos na Faculdade de Psicologia, dois must estavam em uso. No começo do curso, era « obrigatório » começar uma análise e, em seguida, apenas iniciada uma prática clínica, fazer um controle – que então se chamava supervisão – se tornava também « obrigatório ».Nesse segundo « must », buscava-se uma pessoa que orientasse nossos primeiros passos clínicos.Eu me lembro de uma certa sensação de perplexidade suscitada por minhas primeiras experiências de controle. Eu expunha meu caso de maneira muito ordenada e o analista concluía com esta única fala: foi bem.Minha passagem por muitas experiências de controle me levou a pensar que certamente deveria existir uma clínica da supervisão, segundo modalidades variadas.Em todos os casos, me parecia claro que, na prática lacaniana, a supervisão escapava a um standard. De fato, havia um percurso da supervisão que, do « must », passava ao questionamento desse dispositivo permitindo que se desdobrassem tanto o desejo quanto a transferência.Essa sensação de perplexidade reaparecerá bem mais tarde quando, cursando a universidade há três anos, percebi que os psicólogos não somente não estavam em supervisão, como também mal conheciam seu funcionamento (não abordávamos a questão da análise). Eles me assinalavam que se orientavam segundo um certo « senso comum ».No que me concerne, a prática da supervisão não tem mais nada a ver com o que eu buscava no começo, ou seja, um conselho e uma orientação. Para mim, é uma prática na qual a transferência está em jogo e onde cada um trabalha seus próprios impasses. É uma conversação na qual o sujeito põe à distância a solidão do consultório e trabalha sobre as questões que lhe surgem.Neste ponto de meu raciocínio, eu me perguntava sobre a questão da supervisão no momento atual. O que dizem os jovens analistas, os colegas?Perguntei a muitos deles a razão de eles fazerem uma supervisão. Eis aqui algumas respostas a essa curta experiência:Algumas respostas vão no sentido de verificar a orientação do tratamento, como o resume a seguinte frase:… » verificar se a orientação para um caso está a propósito como o supomos »… (R. Godínez).Outras respostas se referem ao não saber e à posição do analista: … « O psicanalista, diante de seus pacientes, está igualmente submetido a esse não saber… A psicanálise faz uma aposta ética muito clara: o psicanalista deve preservar, a qualquer preço, esse não saber concernente ao paciente, para engajá-lo a elaborar seu próprio saber sobre ele mesmo »… (E. Molleda)Por fim, todos concordam sobre o fato de que análise e supervisão coincidem, é necessário tratar os impasses subjetivos e a questão do desejo do analista: … « o que se obtém é da ordem de um saber sobre a posição do analista e de sua relação com o inconsciente » … (C. Grifoll). « As ressonâncias da intervenção do supervisor concernem não apenas à direção do tratamento, mas também à formação e à análise pessoal. Não se trata de dar conta de sua prática a um terceiro, mas de trabalhar os impasses encontrados pelo praticante com o desejo do analista e com seu ato » …(C. Lotito); « … supervisão e análise se juntam e se articulam entre si »… (R. Godínez).A supervisão deve manter o caráter específico do um por um: é assim que aparecem, entre quase todos os colegas, novas questões provenientes de seu ponto de vista singular, como a da « surpresa » (P. Villate), da solidão do analista : …. « Pois, embora sempre sozinho nesse momento crucial, mais vale não permanecer assim depois dele » (M. Chang); « … da confusão inicial se extrai, em seguida, uma articulação »… (R. Sicart); a faísca « por vezes você encontra essa faísca que faz você ir mais longe e o afasta do saber repetido, simplificado e manufaturado, para voltar a sustentar o lugar do analista »… (E. Molleda).Nas respostas acima, constatamos que a supervisão permite tratar as consequências do ato analítico. A questão da transmissão, fora do nosso campo lacaniano, permanece em aberto.Agradeço a: Myrian Chang, Rosa Godínez, Carmen Grifoll, Ceres Lotito, Esperanza Molleda, Rosalina Sicart, Elena Serra e Pablo Villate.Tradução para o francês: Marie-Christine JannotTradução para o português: Vera Avellar Ribeiro*Expressão utilizada por J. Lacan por ocasião de uma Conferência proferida na Columbia University em 1975.
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