Sexta-feira, 25 de maio de 2012٠ 22h40 [GMT+ 1]
NÚMERO 215
Eu não teria faltado a um Seminário por nada nesse mundo— Philippe Sollers
Nós ganharemos porque não temos outra escolha— AgnÈs Aflalo
▪ AUTISMOS ▪
HISTÓRIA DE UM REFLEXO
Yasmine Grasser
Madame Z.:
B., esta é a sua história! Espero que um dia você possa lê-la. Ela
começa em fevereiro de 1983, num dia daquele mês, em que eu esperava a
visita das senhoras X e Y. Depois das apresentações e de explicar as
razões que me levavam a querer cuidar de uma criança deficiente (na
época deficiente motora), a Senhora Y nos fez algumas perguntas sobre
nossa infância, sobre o modo como tínhamos sido educados e sobre nossa
vida atual.
B., esta é a sua história! Espero que um dia você possa lê-la. Ela
começa em fevereiro de 1983, num dia daquele mês, em que eu esperava a
visita das senhoras X e Y. Depois das apresentações e de explicar as
razões que me levavam a querer cuidar de uma criança deficiente (na
época deficiente motora), a Senhora Y nos fez algumas perguntas sobre
nossa infância, sobre o modo como tínhamos sido educados e sobre nossa
vida atual.
Assim
começa o diário da Senhora Z., B não lerá a sua história, ele não lê,
ele não fala. A Senhora Z. rapidamente compreenderá isso. Seu diário é o
testemunho de um encontro entre uma criança diabética e autista e uma
família que se tornou a sua. Ele tinha 5 anos e já tinha passado 3 anos
de sua vida em hospitais. A partir dos 8 anos, de 1986 até 1994, ele
freqüenta o IME onde eu era psicóloga. Seu encaminhamento aos 16 anos
para um hospital-dia para jovens adultos não funcionará. Desde então, e
até hoje, B. vive em tempo integral com “sua” família, a família da
Senhora Z. Ele tem 34 anos.
começa o diário da Senhora Z., B não lerá a sua história, ele não lê,
ele não fala. A Senhora Z. rapidamente compreenderá isso. Seu diário é o
testemunho de um encontro entre uma criança diabética e autista e uma
família que se tornou a sua. Ele tinha 5 anos e já tinha passado 3 anos
de sua vida em hospitais. A partir dos 8 anos, de 1986 até 1994, ele
freqüenta o IME onde eu era psicóloga. Seu encaminhamento aos 16 anos
para um hospital-dia para jovens adultos não funcionará. Desde então, e
até hoje, B. vive em tempo integral com “sua” família, a família da
Senhora Z. Ele tem 34 anos.
A
Senhora Z. me dera uma cópia de seu diário antes que B. tivesse deixado
o IME. Depois de relê-lo, chamei-a. Ele se lembrava. Ela sabia da
campanha sobre o autismo. Falamos longamente. A Senhora Z. deixara suas
interrogações em seu caderno.
Senhora Z. me dera uma cópia de seu diário antes que B. tivesse deixado
o IME. Depois de relê-lo, chamei-a. Ele se lembrava. Ela sabia da
campanha sobre o autismo. Falamos longamente. A Senhora Z. deixara suas
interrogações em seu caderno.
Ela escreveu, em 1988, sobre sua profissão «família acolhedora»:
É difícil? Quando me fazem essa pergunta, eu respondo NÃO e
sinceramente eu acho isso. É uma profissão apaixonante. Tenho a
satisfação de dizer a mim mesma que houve um resultado positivo, mas
quantos sacrifícios. Ela sentia que recebera pouco apoio dos
serviços sociais, talvez por não terem recursos, assim como ela, diante
de uma criança que tinha manifestado uma vontade impressionante de
viver. Desse ponto de vista, nada mudara, me diz ela, mostrando-se
preocupada com o futuro.
É difícil? Quando me fazem essa pergunta, eu respondo NÃO e
sinceramente eu acho isso. É uma profissão apaixonante. Tenho a
satisfação de dizer a mim mesma que houve um resultado positivo, mas
quantos sacrifícios. Ela sentia que recebera pouco apoio dos
serviços sociais, talvez por não terem recursos, assim como ela, diante
de uma criança que tinha manifestado uma vontade impressionante de
viver. Desse ponto de vista, nada mudara, me diz ela, mostrando-se
preocupada com o futuro.
Ela estava lendo sobre o autismo e passou a anotar, a partir de 1987, o que lhe inspirava a leitura de A fortaleza vazia. Ela observara que as crianças na escola de Bettelheim circulavam «por toda parte normalmente», ela escreve: eu adotei esse princípio, a fim de que B. pudesse perceber os perigos. Ela
manteve esse princípio, pude constatar, na época, que ela gostava de
acompanhar os progressos de B. Ela recopiara esta frase de Bettelheim: «nunca tocamos no sintoma». A lição é freudiana, sabia ela disso? A frase seguinte mostra como ele tirou partido disso : Desde
que B chegou em casa, emitia sons fortes e muitas vezes repetidos,
todos os dias, sem parar, durante vários meses e pouco a pouco esses
sons foram desaparecendo… (devo dizer que às vezes eu o sacudia para fazê-lo calar-se, ele parava e depois recomeçava com mais força)… isso não adiantava nada…. Ele tinha também o hábito de pegar uma colherinha e de esfregar a parte de trás nos lábios…
manteve esse princípio, pude constatar, na época, que ela gostava de
acompanhar os progressos de B. Ela recopiara esta frase de Bettelheim: «nunca tocamos no sintoma». A lição é freudiana, sabia ela disso? A frase seguinte mostra como ele tirou partido disso : Desde
que B chegou em casa, emitia sons fortes e muitas vezes repetidos,
todos os dias, sem parar, durante vários meses e pouco a pouco esses
sons foram desaparecendo… (devo dizer que às vezes eu o sacudia para fazê-lo calar-se, ele parava e depois recomeçava com mais força)… isso não adiantava nada…. Ele tinha também o hábito de pegar uma colherinha e de esfregar a parte de trás nos lábios…
Ao
escrever em seu caderno, desde o início, os sintomas que tomavam conta
do comportamento de B., assim como sua evolução, eu percebi ao relê-lo,
que a Senhora Z compreendera sozinha, ao
longo dos anos, que esse comportamento desprovido de sentido não tinha
nada a ver com a doença que atingia o corpo da criança. Escrever lhe permitira se defender do insuportável do real fora de sentido do sintoma sobre o qual Freud mostrou que, se ele fala, não desaparece sozinho, resiste, e que temos que aprender o que fazer com ele. A
tentativa da Senhora Z. no que diz respeito a « boas práticas
educativas », para falar como os comportamentalistas, não consistiu em
modificar pela força a criança que lhe confiaram, mas sim em procurar
reeducá-la enquanto Outro que a ama, responsável pela vida deste pequeno autista cuja diabete não chegava a se estabilizar. O modo como ela se situava lhe era próprio e tinha feito com que ela reinventasse para B. uma prática freudiana.
escrever em seu caderno, desde o início, os sintomas que tomavam conta
do comportamento de B., assim como sua evolução, eu percebi ao relê-lo,
que a Senhora Z compreendera sozinha, ao
longo dos anos, que esse comportamento desprovido de sentido não tinha
nada a ver com a doença que atingia o corpo da criança. Escrever lhe permitira se defender do insuportável do real fora de sentido do sintoma sobre o qual Freud mostrou que, se ele fala, não desaparece sozinho, resiste, e que temos que aprender o que fazer com ele. A
tentativa da Senhora Z. no que diz respeito a « boas práticas
educativas », para falar como os comportamentalistas, não consistiu em
modificar pela força a criança que lhe confiaram, mas sim em procurar
reeducá-la enquanto Outro que a ama, responsável pela vida deste pequeno autista cuja diabete não chegava a se estabilizar. O modo como ela se situava lhe era próprio e tinha feito com que ela reinventasse para B. uma prática freudiana.
O caderno da Senhora Z. me lembra a «tentativa» de Fernand Deligny que apostou em dividir um lugar para se viver na região de Cévennes com crianças autistas. Esse homem se recusava categoricamente a falar sobre as crianças, a objetivá-las, a coisificá-las. Ele fechava suas portas àqueles que insistiam em ver nele somente um especialista francês em autismo, um expert. Mas ele dizia e escrevia para aqueles que ele recebia, que nunca deixaria de lutar contra «as marcas pedagógicas profundas[i]”e contra toda a forma de «instituição terapêutica». F. Deligny e a Senhora Z., tornaram-se involuntariamente sócios virtuais do Outro sanitário e social do autismo.
Deligny pregava «a inovação» contra os saberes instituídos sempre superegóicos;
a Senhora Z. queria que os serviços sociais respeitassem «a criança
deficiente». Essas crianças que não falam e das quais ninguém queria
saber, «Os filhos do silêncio» como
escrevera Deligny, deram a cada um deles, a Deligny e à Senhora Z, uma
idéia sobre o real que faz a humanidade do sujeito que fala. Os dois
tentaram transmitir isso, cada um a seu modo, a seus contemporâneos. Mas
a posição deles permanecia militante. Seria inútil hoje lutar sozinho como F. Deligny contra o saber-que-sabe-e-que-se-impõe-a-todos, ou adotar sozinha contra todos, como a Senhora Z., a posição daquela que não hesita em resistir aos moralistas-de-má-fé porque acredita nisso.
a Senhora Z. queria que os serviços sociais respeitassem «a criança
deficiente». Essas crianças que não falam e das quais ninguém queria
saber, «Os filhos do silêncio» como
escrevera Deligny, deram a cada um deles, a Deligny e à Senhora Z, uma
idéia sobre o real que faz a humanidade do sujeito que fala. Os dois
tentaram transmitir isso, cada um a seu modo, a seus contemporâneos. Mas
a posição deles permanecia militante. Seria inútil hoje lutar sozinho como F. Deligny contra o saber-que-sabe-e-que-se-impõe-a-todos, ou adotar sozinha contra todos, como a Senhora Z., a posição daquela que não hesita em resistir aos moralistas-de-má-fé porque acredita nisso.
O mundo mudou. Os significantes-mestres que eram causa de seus combates perderam toda a atualidade sob a pressão da globalização.
A verdade que eles guardavam apagou-se. O discurso do mestre não
oferece mais significantes referentes, não garante mais o
profissionalismo das equipes, não preserva mais as práticas nem o
“savoir-faire”. O discurso universitário produz principalmente
especialistas-avaliadores cujos interesses estão mais ligados aos
efeitos mercantilistas da ciência, ele não leva a saber mas a fabricar a
mais-valia. Lacan
foi o primeiro a perceber que o saber mudara de status, descera ao
ranking de sintoma individual e que a verdade que esse saber escondia
era apenas gozo.
A verdade que eles guardavam apagou-se. O discurso do mestre não
oferece mais significantes referentes, não garante mais o
profissionalismo das equipes, não preserva mais as práticas nem o
“savoir-faire”. O discurso universitário produz principalmente
especialistas-avaliadores cujos interesses estão mais ligados aos
efeitos mercantilistas da ciência, ele não leva a saber mas a fabricar a
mais-valia. Lacan
foi o primeiro a perceber que o saber mudara de status, descera ao
ranking de sintoma individual e que a verdade que esse saber escondia
era apenas gozo.
A nova ética comporta prescindir do Outro e no lugar, criar um laço social do modo de gozar que veicula seu sintoma[ii]. A experiência da psicanálise permite extrair duas formas de laço social: o comunitarismo que reúne em torno de um significante ou de um sintoma federativo; a série que se funda no testemunho singular do um por um.
Acontece que o significante autismo encontra-se hoje no cerne dessas
duas formas de laço social. Por um lado, este significante une os
especialistas em educação cujos métodos entusiasmam os pesquisadores;
por outro lado, os sujeitos ditos autistas de alto nível testemunham um a
um para defender sua singularidade. Os primeiros querem o bem do
sujeito a ser educado, os segundos querem existir, com razão, e serem
ouvidos. A psicanálise se interessa por todos porque ela se interessa « pelo sujeito em pleno exercício[iii] »,
pelo saber que ele produz, pelo seu testemunho. Além disso, ela é um
recurso para o «sujeito» – aquele que ousa ainda pensar que ele é «um
sujeito traumatizado» pelos falsos saberes do Outro sanitário e social
que se tornou político-cientista, pelo seu desejo e seu gozo. Eu vou
esclarecer esse ponto clinicamente.
Acontece que o significante autismo encontra-se hoje no cerne dessas
duas formas de laço social. Por um lado, este significante une os
especialistas em educação cujos métodos entusiasmam os pesquisadores;
por outro lado, os sujeitos ditos autistas de alto nível testemunham um a
um para defender sua singularidade. Os primeiros querem o bem do
sujeito a ser educado, os segundos querem existir, com razão, e serem
ouvidos. A psicanálise se interessa por todos porque ela se interessa « pelo sujeito em pleno exercício[iii] »,
pelo saber que ele produz, pelo seu testemunho. Além disso, ela é um
recurso para o «sujeito» – aquele que ousa ainda pensar que ele é «um
sujeito traumatizado» pelos falsos saberes do Outro sanitário e social
que se tornou político-cientista, pelo seu desejo e seu gozo. Eu vou
esclarecer esse ponto clinicamente.
B.,
aos oito anos, era pequeno para a sua idade. Ele era uma criança
barulhenta que só andava na ponta dos pés encostando nas paredes. Ele passava o tempo todo ou olhando a água que escorria numa pia ou olhando a maçaneta de uma porta de alumínio.
Essas duas atividades, diferentes, o excitavam muito. Elas eram
acompanhadas de sons estridentes onde se alternavam séries de sons
modulados e gritos incompreensíveis. A atividade «pia» acontecia na sala
onde ele devia ficar com os outros, a atividade «maçaneta de porta»
acontecia num lugar onde ele ficava sozinho. Perto da pia, B.,
indiferente aos outros, deixava-se atrair e absorver totalmente pelo
barulho da água ressoando nos canos. Perto de um corredor, onde passava
muita gente, B. ficava encostado com um ombro no marco da porta,
encolhido, olhando a maçaneta ou mexendo com ela. Distinguir esses dois
comportamentos foi muito importante. Perto
da pia, o mundo lhe era indiferente. Perto da porta, sua presença
sonora, barulhenta, cansativa, lhe valia muitas vezes algumas palavras
dos que passavam. Nem sempre ele se mostrava insensível a essas
palavras. Foi nesse ponto que eu o encontrei.
aos oito anos, era pequeno para a sua idade. Ele era uma criança
barulhenta que só andava na ponta dos pés encostando nas paredes. Ele passava o tempo todo ou olhando a água que escorria numa pia ou olhando a maçaneta de uma porta de alumínio.
Essas duas atividades, diferentes, o excitavam muito. Elas eram
acompanhadas de sons estridentes onde se alternavam séries de sons
modulados e gritos incompreensíveis. A atividade «pia» acontecia na sala
onde ele devia ficar com os outros, a atividade «maçaneta de porta»
acontecia num lugar onde ele ficava sozinho. Perto da pia, B.,
indiferente aos outros, deixava-se atrair e absorver totalmente pelo
barulho da água ressoando nos canos. Perto de um corredor, onde passava
muita gente, B. ficava encostado com um ombro no marco da porta,
encolhido, olhando a maçaneta ou mexendo com ela. Distinguir esses dois
comportamentos foi muito importante. Perto
da pia, o mundo lhe era indiferente. Perto da porta, sua presença
sonora, barulhenta, cansativa, lhe valia muitas vezes algumas palavras
dos que passavam. Nem sempre ele se mostrava insensível a essas
palavras. Foi nesse ponto que eu o encontrei.
Fiquei um certo tempo perto dele. Foi
preciso algum tempo antes que eu percebesse que B. não sonorizava sua
agitação ao mexer com a maçaneta. A operação era mais complexa. Era, na realidade, a passagem de um reflexo de luz na maçaneta que ele mexia que comanda sua excitação e suas séries moduladas. Quando
não aguentava mais, ele gritava, pulava, tampando todos os orifícios do
rosto com seus dez dedos. Nesses momentos, ele podia dar uma olhada em
volta e ver o outro. Eu passei a ficar, cada vez mais, longos períodos
no corredor perto dele. Minha presença insistente e silenciosa acabou por intrigá-lo. Ele
interrompia às vezes sua agitação sonora para me olhar com o canto dos
olhos e depois recomeçava. Pouco a pouco ele começou a me esperar. Ele
seguiu minhas passagens do olhar. Ele olhava principalmente meus pés.
preciso algum tempo antes que eu percebesse que B. não sonorizava sua
agitação ao mexer com a maçaneta. A operação era mais complexa. Era, na realidade, a passagem de um reflexo de luz na maçaneta que ele mexia que comanda sua excitação e suas séries moduladas. Quando
não aguentava mais, ele gritava, pulava, tampando todos os orifícios do
rosto com seus dez dedos. Nesses momentos, ele podia dar uma olhada em
volta e ver o outro. Eu passei a ficar, cada vez mais, longos períodos
no corredor perto dele. Minha presença insistente e silenciosa acabou por intrigá-lo. Ele
interrompia às vezes sua agitação sonora para me olhar com o canto dos
olhos e depois recomeçava. Pouco a pouco ele começou a me esperar. Ele
seguiu minhas passagens do olhar. Ele olhava principalmente meus pés.
B. começou a me seguir e sempre morria de rir ao olhar meus pés. Eu acabei me rendendo à evidência. Naquele lugar, bem iluminado pela luz do dia, eu transportava em meus sapatos o «seu» reflexo. Mas eu não tinha para ele mais nenhuma importância. Depois de meus sapatos, foi a vez de meu molho de chaves atrair seu interesse. Uma
dessas chaves me permitiu ter acesso ao jardim dos maiores onde eu ia
com frequência. Passei a ter o hábito de deixar o molho de chaves na
porta de minha sala à sua disposição.
dessas chaves me permitiu ter acesso ao jardim dos maiores onde eu ia
com frequência. Passei a ter o hábito de deixar o molho de chaves na
porta de minha sala à sua disposição.
Não havia uma certeza de que B. pudesse ficar no estabelecimento. As equipes gostam de progressos visíveis e de atribuí-los a elas. Houve o imprevisível. Seguindo os deslocamentos de « seu » reflexo, B. entrou em minha sala e me achou. Ele não deu meia-volta. Nunca esquecerei a troca de olhares entre ele e eu, franca, direta, interrogadora. Mas
que risco nós dois corremos! Diante dos meus olhos, de repente, B.
tinha ficado completamente mole. Ele estava tendo uma crise de
hipoglicemia. Eu
toquei em sua mão pela primeira vez e lhe falei do carrinho que eu
tinha nas mãos para ele – eu sabia que ele gostava de carrinhos.
Como resposta, o reflexo de um sorriso iluminou por um instante seu
rosto envelhecido. Ele não estava ansioso. Deitou-se no tapete, aceitou
minha ajuda e eu chamei a enfermeira para trazer açúcar.
que risco nós dois corremos! Diante dos meus olhos, de repente, B.
tinha ficado completamente mole. Ele estava tendo uma crise de
hipoglicemia. Eu
toquei em sua mão pela primeira vez e lhe falei do carrinho que eu
tinha nas mãos para ele – eu sabia que ele gostava de carrinhos.
Como resposta, o reflexo de um sorriso iluminou por um instante seu
rosto envelhecido. Ele não estava ansioso. Deitou-se no tapete, aceitou
minha ajuda e eu chamei a enfermeira para trazer açúcar.
Eu
sabia que B. corria sempre o risco de entrar em coma hipoglicêmico. Uma
forte emoção podia desencadear nele uma secreção de adrenalina e levar a
um consumo importante de açúcar. Mas sob
aquele sorriso, havia um sujeito, um sujeito que queria ser representado
junto a um Outro atento, que não tinha medo de seus comas, junto a um
Outro que desejava que ele vivesse.
sabia que B. corria sempre o risco de entrar em coma hipoglicêmico. Uma
forte emoção podia desencadear nele uma secreção de adrenalina e levar a
um consumo importante de açúcar. Mas sob
aquele sorriso, havia um sujeito, um sujeito que queria ser representado
junto a um Outro atento, que não tinha medo de seus comas, junto a um
Outro que desejava que ele vivesse.
A partir deste momento, nossos contatos se multiplicaram. B. vinha me ver espontaneamente e eu ia vê-lo quando sabia que ele não estava em alguma atividade. Ele gostava de pintar.
Ninguém mais falava de sua saída do IME. Ele fazia muito menos barulho e
pisava com os pés completamente no chão. O dia a dia de sua diabete não
trazia mais problemas. O ano de 1988 foi crucial,
eu encontrei ecos dele no diário da Senhora Z. quando ela escreveu que
para sua grande surpresa B. não era surdo como lhe haviam dito. Naquele ano, ela o inscreveu em sua cidade numa exposição de pintura e recebeu um prêmio.
Ninguém mais falava de sua saída do IME. Ele fazia muito menos barulho e
pisava com os pés completamente no chão. O dia a dia de sua diabete não
trazia mais problemas. O ano de 1988 foi crucial,
eu encontrei ecos dele no diário da Senhora Z. quando ela escreveu que
para sua grande surpresa B. não era surdo como lhe haviam dito. Naquele ano, ela o inscreveu em sua cidade numa exposição de pintura e recebeu um prêmio.
B. pronunciará discretamente nesta ocasião uma palavra, mas permanecerá depois em silêncio. Posteriormente, ele passa a puxar, preso a extremidade de um barbante, que ele arrastava atrás de si, todo o seu mundo : um sapato, uma colherinha de açúcar, uma xícara para o seu iogurte, um carrinho. Ele se sentia
orgulhoso. Quando o deixei, ele não precisava mais do barbante.
A
Senhora Z. me diz ao telefone: «ele está como você o deixou,
tranquilo». A tranquilidade evocada é aqui o nome da presença do Outro
que a seu tempo teve sua eficácia junto a este sujeito.
Senhora Z. me diz ao telefone: «ele está como você o deixou,
tranquilo». A tranquilidade evocada é aqui o nome da presença do Outro
que a seu tempo teve sua eficácia junto a este sujeito.
[1] Deligny, F., Les enfants et le silence, editora Galilée, Paris, 1980
2 Miller, J.-A, e Laurent, É., L’Autre qui n’existe pas et ses comités d’éthique (1996-97), Curso de orientação lacaniana, Departamento de Psicanálise, Paris VIII, inédito.
3 Miller, J.-A., “L’enfant et le savoir”, título das próximas jornadas de 2013 do Instituto da criança, site<www.ecf.org>.
▪ ENTREVISTA ▪
publicada na revista semanal La Vie em 24 de maio de 2012
tradução a seguir
EU DEVERIA TER
POR GÉRARD MILLER. Eles são conhecidos, amados, muitas vezes poderosos, às vezes temidos. Mas que olhar têm sobre si mesmos?
Professor
de psicologia clínica na universidade de Rennes-II, psicanalista membro
da Escola da Causa Freudiana, Jean=Claude Maleval publica Surpreendentes Mistificações da psicoterapia autoritária- (Navarin, o Campo Freudiano).
de psicologia clínica na universidade de Rennes-II, psicanalista membro
da Escola da Causa Freudiana, Jean=Claude Maleval publica Surpreendentes Mistificações da psicoterapia autoritária- (Navarin, o Campo Freudiano).
JEAN-CLAUDE MALEVAL
“Nosso cérebro não é um computador”
Em que idade o senhor descobriu Freud pela primeira vez?
-Aos
17 anos, no primeiro ano do segundo grau. Estava vivendo uma grande
história de amor que me fazia sofrer e não era fácil, na época, falar
sobre isso, nem com meus pais, nem com meus amigos. Eu não era um aluno
brilhante, mas lia muito e, um dia, me deparei com um livro de bolso de
Freud, os Três Ensaios sobre a teoria sexual. O título me atraiu,
o li quase escondido e fiquei apaixonado! Decidi então ir à biblioteca
de Colombes e procurar todas as suas obras disponíveis.
17 anos, no primeiro ano do segundo grau. Estava vivendo uma grande
história de amor que me fazia sofrer e não era fácil, na época, falar
sobre isso, nem com meus pais, nem com meus amigos. Eu não era um aluno
brilhante, mas lia muito e, um dia, me deparei com um livro de bolso de
Freud, os Três Ensaios sobre a teoria sexual. O título me atraiu,
o li quase escondido e fiquei apaixonado! Decidi então ir à biblioteca
de Colombes e procurar todas as suas obras disponíveis.
O senhor disse então a si mesmo: “Um dia me tornarei psicanalista”?
-Disse
a mim mesmo, mas não era simples imaginar isso. Meu pai era operário da
indústria ótica, minha mãe bancária, eles tinham pouca cultura e mal
sabiam quem era Freud – a psicanálise me parecia ao mesmo tempo
complicada e inaccessível. E mais tarde, convencido de que eu devia
fazer medicina, pensei em me tornar professor de filosofia.
a mim mesmo, mas não era simples imaginar isso. Meu pai era operário da
indústria ótica, minha mãe bancária, eles tinham pouca cultura e mal
sabiam quem era Freud – a psicanálise me parecia ao mesmo tempo
complicada e inaccessível. E mais tarde, convencido de que eu devia
fazer medicina, pensei em me tornar professor de filosofia.
Como o senhor pôde começar uma análise?
-Estudante
procurei o Bapu, o Bureau de ajuda psicológica universitária que me
encaminhou para uma psicanalista. Foi pouco antes do maio de 1968 e eu
me lembro que tendo sido preso numa manifestação pela polícia eu faltei a
uma sessão… que ela me cobrou e eu fiquei com raiva! Por outras
razões, essa análise durou pouco e o Bapu me encaminhou para Laurence
Bataille, com quem eu fiquei sete anos.
procurei o Bapu, o Bureau de ajuda psicológica universitária que me
encaminhou para uma psicanalista. Foi pouco antes do maio de 1968 e eu
me lembro que tendo sido preso numa manifestação pela polícia eu faltei a
uma sessão… que ela me cobrou e eu fiquei com raiva! Por outras
razões, essa análise durou pouco e o Bapu me encaminhou para Laurence
Bataille, com quem eu fiquei sete anos.
Tendo
se tornado hoje uma das sumidades da psicanálise na universidade, como o
senhor explica que a descoberta freudiana seja tão contestada?
se tornado hoje uma das sumidades da psicanálise na universidade, como o
senhor explica que a descoberta freudiana seja tão contestada?
–
Isso se deve em primeiro lugar à ascensão do cognitivismo que concebe o
cérebro como um computador. Ora, o computador não tem afetos, não tem
gozo, e é isso que é terrível no cognitivismo: ele rejeita toda a
dimensão afetiva, emocional. É um combate permanente para manter a
psicanálise contra essa abordagem do ser humano.
Isso se deve em primeiro lugar à ascensão do cognitivismo que concebe o
cérebro como um computador. Ora, o computador não tem afetos, não tem
gozo, e é isso que é terrível no cognitivismo: ele rejeita toda a
dimensão afetiva, emocional. É um combate permanente para manter a
psicanálise contra essa abordagem do ser humano.
Em seu último livro, o senhor explica que os desvios das técnicas “cognitivo-comportamentais” ameaçam também a psicoterapia.
–
São métodos autoritários que encontram sua origem na hipnose, onde um
mestre terapeuta dirige o trabalho, buscando modelar seu paciente,
torná-lo de acordo com o mito do “homem normal”.
São métodos autoritários que encontram sua origem na hipnose, onde um
mestre terapeuta dirige o trabalho, buscando modelar seu paciente,
torná-lo de acordo com o mito do “homem normal”.
Terapeutas reconhecidos conseguiram de fato provocar epidemias de transtornos mentais induzindo a falsas lembranças?
-Sim,
terapeutas americanos, por exemplo, persuadiram pacientes de que eles
tinham sofrido sevícias na infância, de que tinham sido vítimas de
cultos satânicos, o que teve conseqüências terríveis, como a prisão ou
mesmo a morte de alguns pais. Essas terapias usam e abusam dos poderes
da sugestão que nós recusamos justamente porque somos psicanalistas.
terapeutas americanos, por exemplo, persuadiram pacientes de que eles
tinham sofrido sevícias na infância, de que tinham sido vítimas de
cultos satânicos, o que teve conseqüências terríveis, como a prisão ou
mesmo a morte de alguns pais. Essas terapias usam e abusam dos poderes
da sugestão que nós recusamos justamente porque somos psicanalistas.
______________________________________________________________________
Jean-Claude Maleval
acaba de publicar
Surpreendentes mistificações da psicoterapia autoritária
e
Escutem os autistas!
▪ ECOS E INFORMAÇÕES ▪
Publicado pela Editora Belles-Lettres, um feito da edição erudita francesa.
Um «must» para os erasmianos !
OS ADÁGIOS DE ERASMO
Paris, 16 de dezembro de 2010.
Testemunho colhido por Paméla Ramos.
Jean-Christophe
Saladin é um personagem pouco comum no mundo das Letras. Há vários
anos, esse Don Quixote humanista incansável vem defendendo esse projeto
louco de enfim traduzir na França os 4151 adágios de Erasmo
indispensáveis à cultura de todo homem de bem, e no entanto muito raros
(exceto a edição de Toronto para consulta em inglês, completa e
científica, mas desencorajadora para o leitor culto não especializado).
Reunindo em torno dele um grupo de aproximadamente sessenta tradutores
de todas as partes, ele pôde enfim anunciar o lançamento deste
incrível objeto de edição: uma caixa com cinco volumes encadernados,
bilíngüe em latim-francês, dos Adágios de Erasmo. Prosélito, transversal
e prescritivo à semelhança do « Príncipe do humanismo » a quem, ele e sua
excelente equipe, acabam de prestar um grande serviço, ele nos explica a
elaboração e a necessidade de tal obra, transmitindo-nos ao mesmo tempo
o prazer da redescoberta dos Antigos pelos Modernos – ainda que os
tempos atuais não se prestem muito a isso. Ler a entrevista de Jean-Christophe Saladin.
Saladin é um personagem pouco comum no mundo das Letras. Há vários
anos, esse Don Quixote humanista incansável vem defendendo esse projeto
louco de enfim traduzir na França os 4151 adágios de Erasmo
indispensáveis à cultura de todo homem de bem, e no entanto muito raros
(exceto a edição de Toronto para consulta em inglês, completa e
científica, mas desencorajadora para o leitor culto não especializado).
Reunindo em torno dele um grupo de aproximadamente sessenta tradutores
de todas as partes, ele pôde enfim anunciar o lançamento deste
incrível objeto de edição: uma caixa com cinco volumes encadernados,
bilíngüe em latim-francês, dos Adágios de Erasmo. Prosélito, transversal
e prescritivo à semelhança do « Príncipe do humanismo » a quem, ele e sua
excelente equipe, acabam de prestar um grande serviço, ele nos explica a
elaboração e a necessidade de tal obra, transmitindo-nos ao mesmo tempo
o prazer da redescoberta dos Antigos pelos Modernos – ainda que os
tempos atuais não se prestem muito a isso. Ler a entrevista de Jean-Christophe Saladin.
▪ A ROSA DOS LIVROS ▪
Claudio Magris, Alphabets, Paris, Gallimard, 2012, 552 p. 29,50 €.
Nathalie Georges-Lambrichs
Uma vida na literatura
Seu nome Magris na global Trieste
Alphabets : isto é, uma abertura que não cessa de ser declinada para melhor retornar a seu Auftakt.
Magris fala do que ele gosta, escreve sua « odisséia literária » (p.
17) e revisita aqueles sem os quais, diz ele, « eu não seria o que sou »
(id.). Trata-se de numerosas breves notícias, formalmente próximas da Guerra do gosto, convites a leituras e releituras, publicadas em sua maioria ao longo dos dez últimos anos no Corriere della Sera.
Magris fala do que ele gosta, escreve sua « odisséia literária » (p.
17) e revisita aqueles sem os quais, diz ele, « eu não seria o que sou »
(id.). Trata-se de numerosas breves notícias, formalmente próximas da Guerra do gosto, convites a leituras e releituras, publicadas em sua maioria ao longo dos dez últimos anos no Corriere della Sera.
Mas esse livro labirinto comporta também em seu âmago alguns verdadeiros ensaios. Assim, «Praga ao quadrado»,
(1978), onde Magris examina os entrelaçamentos que formam os passos e
as páginas dos escritores e seus personagens na cidade pelo prisma da
literatura: « Quanto mais se acentua a discordância entre a vida e o
papel, mais nos agarramos com paixão à vida de papel » (p.189).
(1978), onde Magris examina os entrelaçamentos que formam os passos e
as páginas dos escritores e seus personagens na cidade pelo prisma da
literatura: « Quanto mais se acentua a discordância entre a vida e o
papel, mais nos agarramos com paixão à vida de papel » (p.189).
Qual
é o impacto da literatura, não somente no estilo de vida dos escritores
de língua alemã (mas também nos de língua tcheca, pois o estudo se
estende por um século e meio) onde « desde a geração que precedia Kafka
está eludida toda relação com a realidade política e social? (p. 195)
Como é que se recorta e se fortifica, com a cumplicidade dos escritores e
dos leitores, o gênio fatal do lugar cuja atmosfera não cessa de
destilar « a nostalgia [que] se decanta como nostalgia de nostalgia »
(p. 184)? Como é que Praga fomenta o destino daqueles que ela assombra e
que a assombram? O
que é que ela tem então – o que lhe dá, cada escritor,
involuntariamente? – para que cada um termine por erigi-la « como força e
como centro mítico de sua própria vida, [para] fazer dela a luz
misteriosa e escondida que, sem que a vejamos, ilumina o mal estar »?
(p. 201).
é o impacto da literatura, não somente no estilo de vida dos escritores
de língua alemã (mas também nos de língua tcheca, pois o estudo se
estende por um século e meio) onde « desde a geração que precedia Kafka
está eludida toda relação com a realidade política e social? (p. 195)
Como é que se recorta e se fortifica, com a cumplicidade dos escritores e
dos leitores, o gênio fatal do lugar cuja atmosfera não cessa de
destilar « a nostalgia [que] se decanta como nostalgia de nostalgia »
(p. 184)? Como é que Praga fomenta o destino daqueles que ela assombra e
que a assombram? O
que é que ela tem então – o que lhe dá, cada escritor,
involuntariamente? – para que cada um termine por erigi-la « como força e
como centro mítico de sua própria vida, [para] fazer dela a luz
misteriosa e escondida que, sem que a vejamos, ilumina o mal estar »?
(p. 201).
Fascinada
por esse « mal estar », decido me orientar nesse labirinto através de
um índice de nomes próprios onde encontro o de Freud, discreto: cinco
ocorrências. A primeira evoca o momento freudiano na vida de Umberto
Saba, a segunda a invenção do conceito de pulsão de morte, as terceira e
quarta, relativas a Hoffmann, lembram por duas vezes a pertinência da
leitura freudiana.
por esse « mal estar », decido me orientar nesse labirinto através de
um índice de nomes próprios onde encontro o de Freud, discreto: cinco
ocorrências. A primeira evoca o momento freudiano na vida de Umberto
Saba, a segunda a invenção do conceito de pulsão de morte, as terceira e
quarta, relativas a Hoffmann, lembram por duas vezes a pertinência da
leitura freudiana.
Resta a última, sobre a qual vou me deter.
Filho de Joyce e de Freud
Um narrador clandestino:
por que Magris nomeia assim Vinicio Ongaro (p. 451-457)? É que V.
Ongaro não é « um clandestino cultural reconhecido», mas « um autêntico
clandestino ». Ele tornou-se ainda mais clandestino, desde que conheceu o
sucesso relativo, mas inquestionável. (O Google não dá uma referência
em francês). Magris encontra em V. Ongaro alguém que se preocupa em
habitar um lugar adequado a sua prática: ele se situa entre a verdadeira
notoriedade que garante uma entrada no clube e a perda da excitante
virgindade do autor desconhecido e inédito, com uma perseverança penosa.
Magris gosta daquele escritor verdadeiro que sabe mostrar o suficiente
para calcular e continuar a « narrar a vida », a pintá-la « em seu
fluxo opaco » (p. 452). Ele se detém mais longamente em dois romances: Ameaça confidencial, e depois Malnisio.
por que Magris nomeia assim Vinicio Ongaro (p. 451-457)? É que V.
Ongaro não é « um clandestino cultural reconhecido», mas « um autêntico
clandestino ». Ele tornou-se ainda mais clandestino, desde que conheceu o
sucesso relativo, mas inquestionável. (O Google não dá uma referência
em francês). Magris encontra em V. Ongaro alguém que se preocupa em
habitar um lugar adequado a sua prática: ele se situa entre a verdadeira
notoriedade que garante uma entrada no clube e a perda da excitante
virgindade do autor desconhecido e inédito, com uma perseverança penosa.
Magris gosta daquele escritor verdadeiro que sabe mostrar o suficiente
para calcular e continuar a « narrar a vida », a pintá-la « em seu
fluxo opaco » (p. 452). Ele se detém mais longamente em dois romances: Ameaça confidencial, e depois Malnisio.
Oliviero
Benet, protagonista do segundo, é um médico neurologista (exatamente
como Ongaro, aliás). Ele « escutava, disponível, paternal e curioso, as
pessoas, suas fantasias e suas obsessões, as histórias, a vida; ele
penetrava nas espirais da angústia de seus pacientes com a leveza de um
gato […] sugerindo um medicamento sem prometer milagres, mas inspirando
uma confiança que já era terapêutica e pronto para agarrar, sem
demonstrá-lo, com uma pata felina, a serpente da angústia para
extirpá-la. Havia em seu rosto e em seu comportamento algo da retidão
clara e da beleza melancólica de Freud mascarada sob uma ironia
bondosa».
Benet, protagonista do segundo, é um médico neurologista (exatamente
como Ongaro, aliás). Ele « escutava, disponível, paternal e curioso, as
pessoas, suas fantasias e suas obsessões, as histórias, a vida; ele
penetrava nas espirais da angústia de seus pacientes com a leveza de um
gato […] sugerindo um medicamento sem prometer milagres, mas inspirando
uma confiança que já era terapêutica e pronto para agarrar, sem
demonstrá-lo, com uma pata felina, a serpente da angústia para
extirpá-la. Havia em seu rosto e em seu comportamento algo da retidão
clara e da beleza melancólica de Freud mascarada sob uma ironia
bondosa».
Assim
Ongaro nos dá, não somente um precioso indício do grau de reabsorção de
Freud e da psicanálise na cultura, mas, sobretudo, essa fineza na
literatura que é um estilo de vida justo e adequado ao próprio objeto
com o qual se depara o escritor.
Ongaro nos dá, não somente um precioso indício do grau de reabsorção de
Freud e da psicanálise na cultura, mas, sobretudo, essa fineza na
literatura que é um estilo de vida justo e adequado ao próprio objeto
com o qual se depara o escritor.
Os
psicanalistas farão seu mel deste elogio irônico e amoroso do
clandestino contemporâneo, que coloca em evidência e sem nomeá-la a carta
psicanalistas farão seu mel deste elogio irônico e amoroso do
clandestino contemporâneo, que coloca em evidência e sem nomeá-la a carta
roubada.
______________________________________________________________________
▪ ECOS E INFORMAÇÕES ▪
« A Therapy », by Roman Polanski
Maio 2012
_____________________________________________________________________
LACAN COTIDIANO
publicado pela editora navarin
INFORMA E REFLETE TODOS OS DIAS A OPINIÃO ESCLARECIDA
▪ comitê de direção
presidente eve miller-rose [email protected]
difusão anne poumellec [email protected]
conselheiro jacques-alain miller
redação kristell jeannot [email protected]
▪equipe do Lacan Quotidien
▪para o instituto psicanalítico da criança daniel roy, judith miller
▪membros da redação :
– colunistas,
– lacanquotidien.fr bertrand lahutte & marion outrebon
– a revista de imprensa armelle gaydon
▪para babel
-Lacan Quotidien na argentina e na américa do sul de língua espanhola graciela brodsky
-Lacan Quotidien no brasil angelina harari
-Lacan Quotidien na espanha miquel bassols
-responsável pela tradução de Lacan Quotidien no brasil maria do carmo dias batista
▪designers viktor&william francboizel [email protected]
▪técnica mark francboizel & family & olivier ripoll
▪lacan et livrarias catherine orsot-cochard [email protected]
▪mediador patachón valdès [email protected]
Seguir Lacan Quotidien:
▪[email protected] ▫ lista de informação das atualidades da escola da causa freudiana e dos acf ▫ responsável: philippe benichou
▪[email protected] ▫ lista de difusão da eurofederação de psicanálise
▫ responsável : gil caroz
▪[email protected] ▫ lista de difusão da associação mundial de psicanálise ▫ responsável: oscar ventura
[email protected] ▫ lista de difusão da new lacanian school of psychanalysis ▫ responsáveis : anne lysy et natalie wülfing
▪[email protected]
▫ uma lista sobre a psicanálise de difusão privada e promovida pela
associação mundial de psicanálise (amp) em sintonia com a escola
brasileira de psicanálise ▫ moderadora: maria cristina maia de oliveira
fernandes.
▫ uma lista sobre a psicanálise de difusão privada e promovida pela
associação mundial de psicanálise (amp) em sintonia com a escola
brasileira de psicanálise ▫ moderadora: maria cristina maia de oliveira
fernandes.
PARA LER OS ÚLTIMOS ARTIGOS NO SITE www.lacanquotidien.fr
CLIQUE AQUI.
______________________________________________________________________
• À atenção dos autores
As propostas de textos para publicação no Lacan Quotidien devem ser enviadas por e-mail ou diretamente no site lacanquotidien.fr clicando em « proponha um artigo »,
Arquivo
Word ▫ Fonte: Calibri ▫ Tamanho dos caracteres : 12 ▫ Entrelinha: 1,15 ▫
Parágrafo : Justificado ▫ Notas: devem ser mencionadas manualmente no corpo do texto, no fim deste, fonte 10 •
Word ▫ Fonte: Calibri ▫ Tamanho dos caracteres : 12 ▫ Entrelinha: 1,15 ▫
Parágrafo : Justificado ▫ Notas: devem ser mencionadas manualmente no corpo do texto, no fim deste, fonte 10 •
______________________________________________________________________
•À atenção dos autores & editores
Para a sessão Crítica de Livros, queira enviar os trabalhos a NAVARIN ÉDITEUR, la Rédaction de Lacan Quotidien – 1, rue Huysmans 75006 Paris. •
______________________________________________________________________
Tradução: Márcia Bandeira