Segunda-feira, 18 de junho 9 h 00 [GMT + 1]
NÚMERO 223
Eu não teria perdido um Seminário por nada no mundo— Philippe Sollers
Nós ganharemos, pois não temos outra escolha — Agnès Aflalo
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Pascal Dusapin, é Joyce !
por Armelle Gaydon
3 perguntas à Valentine Dechambre
É a primeira vez em nosso campo que é publicado um trabalho sobre a relação entre música e psicanálise, a partir de uma abordagem lacaniana. Em uma série de entrevistas concedidas a psicanalistas da ECF, sob a direção de Valentine Dechambre, o grande compositor de música contemporânea Pascal Dusapin apresenta questões inusitadas sobre seu ato de criação. A essas entrevistas, que surpreendem pelo seu teor joyciano, seguem-se artigos e análises de colegas da Escola: François Ansermet, Nathalie Georges-Lambrichs, Jacqueline Dhéret e ainda outros.
Se Lacan não tinha uma teoria da arte, «podemos com ele nos orientar sobre as questões da arte – sobre a arte de analisar, igualmente» (F. Regnault). Colegas o fizeram na literatura, no teatro – mas nunca na música, fora alguns trabalhos medíocres. A tal ponto que a tarefa pareceu impossível. Por que e como se tornou possível com Pascal Dusapin?
Pascal Dusapin é um compositor que tem a preocupação de transmitir o que antecipa sua criação musical, «essa alguma coisa antes da música», «essa parte confusa, aquela que ignoramos» que encontra o próprio objeto da psicanálise. Fez isso de maneira notável no ano em que foi professor no Colégio de França. Propus-lhe esse encontro com psicanalistas, alunos de Lacan e de Jacques-Alain Miller. Encontro que se impunha. Suas elaborações sobre a necessidade da escrita musical ressoam com o que Lacan diz de Joyce, quando procura delimitar o real em jogo na psicanálise, a partir do próprio ato criador.
A longa e viva conversação que constitui o miolo do livro testemunha a confiança do compositor a respeito do discurso da psicanálise para tentar dizer – e não explicar! – dessa discordância, dessa verdade indecifrável do corpo, que ele coloca no próprio princípio de sua criação.
«Procuro minha casa», ele pode nos dizer em uma entrevista, com uma modéstia pouco habitual a um artista de seu porte, o mais tocado de sua geração nas encenações internacionais com Pierre Boulez.
Dessas entrevistas que se desenvolveram em quatro tempos na rua Huysmans, ele disse «que elas se parecem com o trabalho dele», testemunhando do êxito do que era para nós, apenas uma aposta: nos fazermos passadores da maneira excepcional pela qual Pascal Dusapin se responsabiliza em sua arte por essa parte obscura do gozo que não se relaciona com nada.
Os especialistas dizem da música de Pascal Dusapin, que é impossível situá-la na música contemporânea. É verdade que escapa à exigência experimental e formal que essa disciplina atualmente aceita e seduz os pesquisadores em neurociências (vejam o site do IRCAM): a técnica informática acaba transformando tais compositores mais em engenheiros do som do que em artistas, no sentido lacaniano daquele que se faz artesão do que se impõe do sintoma. A audácia criadora de Pascal Dusapin, fora dos aparelhos da tradição, reencontra a ética da psicanálise, de sua prática, no ponto dessa responsabilidade do real.
Portanto, nesse livro, nada de psicanálise aplicada à arte, mas arte aplicada à psicanálise?
Sim. Pascal Dusapin apresentou-se a nós como um Joyce da música. Uma referência que agrada muito o compositor, nem que seja pela alegria que ele encontra em seu trabalho, um manejo da letra musical que não espera nada dos efeitos de sentido, como podem testemunhar também seus libretos de ópera. «Alegrar-se» está no princípio desta obra, excepcional por seu manejo rigoroso da escrita. Ele nos ensina quanto o corpo libidinal surge do corte, dito de outro modo, o quanto este último pode se experimentar como vivo a partir do ato que faz corte. O que rompe é também o que permite fazer o enovelamento o corpo à língua: eis aí o ensino da obra de Pascal Dusapin – que reencontra o de Jacques Lacan.
Acredita-se, em geral, que Jacques Lacan era alheio à música porque pouco se expressou sobre o assunto. Ora, ele frequentava os concertos de Boulez, Berio ou Stockhausen. Que diz Lacan sobre a música?
Lacan assistia aos concertos do Domínio Musical onde se encontravam os artistas mais engajados na luta contra os conformismos artísticos. Mesmo que as referências à música sejam discretas em seu Seminário, os destaques à língua musical são numerosos. Entre outras coisas, penso no que ele disse à propósito da tonalidade e da modulação no Seminário 24, no momento em que fala dos nós, numa referência à poesia chinesa, para dizer do trabalho do sintoma (1). Isto é apenas um exemplo. Esse trabalho ainda está por fazer. Quando leio Lacan, escuto uma música que não se opõe à discordância…
(1)Jacques Lacan, O Seminário, Livro 24, L’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre (1976-77), Lição do 19 de abril de 1977, inédito.
Valentine Dechambre (Dir.), Pascal Dusapin. Flux, trace, temps. Entretiens sur la musique et la psychanalyse.Fluxo, marca, tempo, inconsciente. Prefácio de Richard Peduzzi, posfácio de François Ansermet, Nantes, Editions Cécile Defaut, Collection Psiqué, junho de 2012.
À venda na ECF-Echoppe, Fnac.com, e livrarias.
Escutar e ver : Paixão – by Pascal Dusapin & Sasha Waltz.
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Deixar-se ensinar pelo testemunho dos pais:
« Louis no dia a dia »
Por Elisabeth Pontier
O livro de Gersende e Francis Perrin, «Louis, pas à pas», lançado em abril de 2012 (1), testemunha o desespero dos autores face ao filho Louis, autista, e as dificuldades que encontraram para achar um interlocutor. Este é um livro, é necessário dizê-lo, de um encontro falho com a psicanálise, pois foi em direção aos detentores do método ABA que esses pais se voltaram definitivamente. O livro foi escrito essencialmente pela mãe de Louis.
O que podemos nós aprender da experiência singular dessa mãe?
Gersende está inicialmente sozinha ao notar as dificuldades de seu filho, e isso durante mais de dois anos, o que, sem dúvida, deve ter sido muito demorado, pois ela não é escutada por ninguém, nem pelo pai da criança. Sinal de nosso tempo, o saber se expõe mas do que se supõe: ela será a primeira, devido à sua procura insistente na Internet, a fazer o diagnóstico.
Essa mulher tem uma relação à escrita: «Eu sempre me soltei na escrita». Esta se torna seu verdadeiro parceiro e se estrutura em torno das dificuldades de Louis: ela se faz secretária do filho. Esse trabalho de escrita, batizado «Louis no dia a dia», lhe permite claramente se sustentar, e é, também, um objeto capaz de fazer laço social. A acolhida feita a esse objeto é de fato determinante no seu encontro com os profissionais.
O «dito» psicanalista que ela consulta para Louis a conduz pelo caminho do sentido, que não tem nada a ver com o dela, forçagem interpretativa que só pode provocar uma legítima rejeição. Pode-se deduzir dessa orientação que não se trata de um psicanalista orientado pelo ensino de Lacan.
A demanda de normalização dos comportamentos de Louis aparece como um efeito do tratamento pela ABA do apelo desta mãe para construir um saber aí fazer com o gozo do filho dela. Essa mulher recolhe, de fato, com muita fineza, junto à criança, aquilo que desencadeia suas crises de angústia e também o que pode apaziguá-las, adotando soluções singulares. Mas não encontrará ninguém para receber o paciente e esse precioso trabalho.
Infelizmente, ele pouco ou nada vale face ao rolo compressor ortopédico ABA, para quem tudo pode e «deve» se tornar objeto de uma aprendizagem sob o olho onipresente da câmera. A palavra em si é rebaixada a um comportamento entre outros, que se separa em «cadeias», assim reduzida a um código que se aprende a golpes dos «reforçadores». No entanto, se os comportamentos adaptados substituem progressivamente os «erros» de comportamento, a «compreensão» continua fazendo falta pela ausência de enovelamento entre o gozo e o código que a criança aprende a usar.
Quanto à “ilhota de competências” (2) de Louis, ligada aos metrôs do planeta, ilhota reconhecida pelo seu poder de «enquadramento» (3) do gozo, observada num primeiro tempo pela mãe, torna-se, com o método ABA, um comportamento «invasivo» e «insidioso» que ameaça sua «adaptação».
Uma adaptação a qual preço?
Talvez nunca o fiquemos sabendo, exceto se um dia Louis, como outros autistas antes dele, nos fizer saber.
(1) Gersende et Francis Perrin, «Louis, jour a jour», Jean-Claude Lattès, abril de 2012
(2) Jean-Claude Maleval, «L’autiste et son voix», Seuil, outubro de 2009
(3) Ibidem.
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Sábado, 30 de junho 10h-13h e 15h-18h
na Maison de la Mutualité, Paris 5e
A escuta dos autistas
Conversação clínica com Jacques-Alain Miller
Conceitos e casos
enviados antecipadamente aos inscritos,
os textos serão discutidos in loco,
num intercâmbio improvisado entre os autores e a sala
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CONVERSAÇÃO ORGANIZADA PELA UFORCA
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