Sumário
A Crônica de Clotilde por C. LeguilO psicanalista hoje, do invisível ao visível
Da Espanha
22 de novembro de 2011 CARTA ABERTA E ALEGRE A RAFAH NACHED
INVENÇÕES+INSTITUIÇÕES
Uma iniciativa como nenhuma outra: O “Institut Hospitalier Soins Etudesd’Aubervilliers” (I.H.S.E.A)(Yves-Claude Stavy)
PETITE GIRAFE
Lançado o n°3, de novembro, as NEWS do “Institut de l’enfant”Editorial, por Judith Miller________________________________________________
Por mais que diga Descartes, às vezes é preciso saber não trocar seus desejos e servir-se deles para mudar a ordem do mundo. A posição estóica de amor ao destino é também aquela que pode conduzir a renunciar à toda crença em seu próprio pensamento e em sua própria palavra, para sempre apoiar o discurso corrente em nome da necessidade pragmática.Phillippe Sollers, nesse mesmo número dos Inrocks, retoma, por sua vez, a concepção sartreana de engajamento, opondo-a ao caráter medroso e pusilânime dos intelectuais e universitários que preferem se isolar das contingências do mundo, para ficar entre eles em sua torre de marfim. Mas, diz ele, « à força de não querer ter as mãos sujas, eles terminam por não ter mão nenhuma ». Parece-me que essa necessidade de engajamento do intelectual tomou um novo aspecto no começo do século XXI, que é também aquele da necessidade de engajamento dos psicanalistas. É, talvez também, uma das razões pelas quais a vida intelectual encontra no mundo psicanalítico um novo sopro, que ela parece às vezes ter perdido no mundo universitário. Em um momento da civilização que lhe é profundamente hostil, o das neurociências e do comportamentalismo, mundo onde se pensa o comportamento humano em termos de herança genética ou aprendizagem, mundo onde se tenta sempre apagar o traço do desejo e do engajamento subjetivo nas condutas humanas para substituí-los por estudos estatísticos que comparam os fenômenos humanos com os comportamentos animais, nesse mundo, o psicanalista não pode mais considerar que seu campo de ação não concerne senão à vida íntima, e que o resto não é de sua conta. O psicanalista é chamado a se exprimir publicamente em sua solidão e sem que ninguém o tenha comandado para isso.
Quando apareceram na França os Escritos de Lacan, Sartre, em 1966, deu três conferências no Japão, reunidas sob o título “Defesa para os intelectuais ». Ele lembrava em que sentido o intelectual é, por definição, « alguém que se mete nisso que não é de sua conta » e, por consequência, tem o direito de se exprimir na ausência de toda competência especializada, porém, simplesmente, em nome de uma certa ideia de civilização e do humano. Não entrarei aqui no debate dos erros de Sartre em seus engajamentos políticos, mas quero simplesmente reter alguma coisa como uma posição face à civilização que nos concerne de perto hoje no campo psi. Sartre tinha, de fato, percebido que os progressos da ciência iriam ter como efeito substituir os pensadores pelos experts e ele tinha, como consequência, antecipado o desaparecimento de todo pensamento possível dos próprios cidadãos. Cerca de cinquenta anos mais tarde, esse diagnóstico toma toda sua amplitude, pois os próprios políticos de preferência se remetem aos experts que só respondem em termos de avaliação quantitativa, para saber o que é necessário fazer em matéria de educação, de saúde mental e de política em geral. É por isso que a ação de BHL junto ao governo de Nicolas Sarkozy faz, de repente, ressoar um engajamento que indica toda uma outra ideia, ao mesmo tempo do pensamento e da política. É porque existe uma ação que significa também a possibilidade de não renunciar à palavra singular, quando a própria ordem do mundo gostaria de nos fazer crer que hoje só os estudos estatísticos podem fazer avançar a civilização.
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CARTA ABERTA E ALEGRE A RAFAH NACHEDComitê de Apoio a Rafah Nached da ELP
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INVENÇÕES+INSTITUIÇÕES
– I –Uma iniciativa como nenhuma outra: o Instituto Hospitalar Cuidados Estudos de Aubervilliers (I.H.S.E.A.)
(Yves-Claude Stavy)
O I.H.S.E.A abriu suas portas em setembro de 2009 e acolhe alunos do Liceu, da Segunda série à Final. Ainda que o conjunto dos cursos sejam dispensados pelos professores da Educação Nacional, esse Instituto faz parte integrante de nosso serviço (1). Tendo recebido o aval dos dois Ministérios envolvidos (o da Saúde e o da Educação Nacional), a iniciativa efetivamente se origina dos impasses encontrados em nossas próprias práticas cotidianas com certos adolescentes em grande sofrimento, que têm um grande investimento em seus estudos e que não poderiam continuar a frequentar os cursos no seio dos liceus da atualidade. Ponto de promoção “para todos” nos estudos, de nossa parte tratava-se, antes de tudo, de não impedir tal adolescente – e não outro – tendo encontrado nos estudos uma maneira semelhante a nenhuma outra de circular no mundo, de prosseguir… no interior de sua própria escolha sintomática. Uma aposta bem pouco considerada, infelizmente, nos liceus submetidos a diretivas rígidas, apresentando o “para todo x” como uma esperança… o que é o cúmulo do cúmulo quando um adolescente se revela como não podendo vestir-se de nenhuma “esperança” estabelecida! Os jovens a quem dissemos sim, não são necessariamente alunos brilhantes, longe disto, mas os professores da Educação Nacional que se ofereceram para se engajar na Iniciativa testemunham, desde já, sua surpresa em encontrar entre seus alunos, vários estilos de relações sérias com os estudos, ao mesmo tempo autênticos e distintos uns dos outros, num lugar de ensino, no entanto, tão improvável. No IHSEA há momentos dos cursos nos quais nós não intervimos. E há encontros com alunos pelos atores do serviço: cada um destes escolheu se orientar com Freud e Lacan na sua prática cotidiana. Os alunos são acolhidos por um período de ao menos um ano escolar (dois , às vezes, três, se necessário). É, então, uma aposta na duração. Nós estamos preparados para promover tal admissão, mas não nos abstemos de fazer um “aperfeiçoamento” pontual. Ao fim do ano, o aluno passa a uma classe superior ou repete; são os professores que decidem. O acolhimento encontra seu termo ao fim de um ano escolar ou pode requerer um segundo ano, talvez um terceiro: são os cuidadores que escolhem. Certas estruturas Tratamentos e Estudos escolhem antigos psicólogos para ocupar a função de professores. Nós não queríamos isso sob nenhum pretexto: nada de psicoeducadores, mas professores da Educação Nacional voluntários, continuando, aliás, a exercer meio período no seu liceu de origem, o liceu Le Corbusier d’Aubervilliers, situado a algumas centenas de metros do IHSA, com o qual fizemos intercâmbio. Certos cursos necessitam de uma logística de que não dispomos (laboratório de química, em particular). Esses ensinamentos são dispensados no liceu Le Corbusier. Então: nada de “professores-terapeutas”. A exigência é crucial… para os cuidadores do serviço também: tentarem se fazer parceiros do sintoma singular de um adolescente, é – para cada enfermeiro, psicólogo ou psiquiatra envolvidos – ir ao contrário das práticas prêt-à-porter, hoje cada vez mais impostas sem cessar, em todos os campos da sociedade… com a cumplicidade de seus próprios atores.
-II-‘Uma admissão extrema’(Yves-Claude Stavy)
PETITE GIRAFE
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Tradução: Angela Folly Negreiros