▪ A VIDA COMO ELA É▪Philippe Sollers em L’Éclaircie O passarinheiro de luz por Pierre Stréliski ▪ O outono em Pequim (II) ▪Beida por Nathalie Charraud LacanQuotidien.fr#Avante, Campo freudiano! programas>> Dizer Joyce, ler Joyce
#Cinema>>Shame : «tudo deve ser retomado desde o início, a partir da opacidade sexual» par Jean-Noël Donnart
>>Shame ou o afeto que anda com o gozo do Um, por Paulo Siqueira
▪ A VIDA COMO ELA É▪ Philippe Sollers em L’Éclaircie O passarinheiro de luz “Amante ou irmã, seja a doçura efêmera de um glorioso outono ou de um por do sol” Baudelaire, Canto de OutonoEm fevereiro de 2010, quando aparece Trésor d´amour , Sollers encontra Lucie e seu manuscrito de Casanova, e é o amor. Depois da morena e veneziana Minna desse Trésor, eis uma outra morena, parisiense esta, mas igualmente bela, tanto quanto a loura Ludivine, heroína da opus precedente (Un vrai roman), e esse fio precioso que se segue numa busca infinita e crente… – “Você é crente? Sim, quando escrevo, quando escuto Les suítes françaises, quando vejo Guernica, quando ouço Cosi fan tutte(…), quando espero Lucie.” (pag. 89) – parece se fixar aqui em uma interpretação, uma reminiscência, um esboço de sentido; um ponto de capitonné se amarra, perspectiva simples, quase freudiana, onde a série se fecha por ter sua origem em uma lembrança que são as primeiras palavras do livro: “É imediato. Não posso ver um cedro sem pensar que uma grande benção emana dele e se estende pelo mundo.” (pag. 11) E esse cedro infantil é sua irmã maior Anne, que ia buscar esse pequeno Joyau na escola, e com quem ele queria se casar aos 11 anos, e que beija aos 30, na Línea d´ombra , ao lado da punta della dogana , lugar sagrado por esse beijo apaixonado. O autor”ainda se arrepia com isso”. E é o clarão, com efeito, no sentido do esclarecimento: a seqüência – Ludivine, Minna, Lucie è mille è tré – se organiza a partir de Anne. Lucie é como uma heroína de Hitchcock, diz Sollers, mas, diferente do cineasta americano, é no começo que nos dão a significação, a signatura rerum. Mas, eis que no clarão, “a luz chove” para dissolver o sentido ou eternizá-lo. As Liebes Bedingungen enfim não são nada e os olhos de ébano que iluminam Anne, Lucie, como iluminam o quadro de Berthe Morizot de Manet, ultrapassam qualquer significação, que seria medíocre de qualquer maneira. Os encontros amorosos esclarecem o primeiro romance Une curieuse solitude? Talvez, mas pouco importa: “Lucie é sem porque; há somente o como”.E é o elogio da beleza. A pedra branca da igreja Santa Geremia e Santa Lucia brilha ao sol da manhã, se refletindo no espelho do grande canal, na outra ponta de Veneza. Sua estrutura é perfeita e sobre sua fachada, inscrito no mármore, este epitáfio: “Lucia, Virgine di Siracusa, martire di Cristo in questo Tempio riposa implori all Itália al Mondo Luci Pace”. A luz e a paz, oxímoro que Sollers defende talvez: ser solar, mesmo se anuncia que o pseudônimo que escolheu para escrever vem de Sollers Ars – “Inteiramente arte” – se mostrar à luz, ali onde se trata, no entanto, só de um “para viver feliz, vivamos escondidos”. Então, passa-se da sombra (Linea d´ombra) à luz, do quarto parisiense à Veneza ou à Ré, onde as casas se escondem atrás dos muros brancos, da escrita que se lê aos divertimentos secretos (“Desentediemo-nos”). A arte, o verbo será o que permite essas mutações. Sollers terminou uma conferência em nossa Escola (LNA n.o 2, 2003) com essas palavras: “Ô Word save us”. A carne se fará verbo e vocês deverão – é o conselho que dá aos homens – ser comíveis (pag. 22) É o preço a pagar para contornar a morte (“Evito a morte tanto quanto possível”, pag. 28), talvez também a castração? J-A. Miller, em um artigo sobre Sollers, assinalava: “essa luva jogada às mulheres para excitar sua curiosidade em visitar as ruínas de um esplendor fálico digno da hora ardente.” (LNA, n.o 7)E ao avesso de Houellebecq, “ciumento das mulheres”, que se inventa como pintor (La carte le territoire), Sollers fala dos pintores e da pintura. “E eu também sou pintor”, escreve ele após Montesquieu, mas sua pintura são as palavras. Observa, aliás, com uma alegre ironia, que se tivesse sido pintor, “estaria rico e não andaria de TGV e sim de helicóptero.” “Sou um fracassado, é claro, e contente em sê-lo.” (pag. 142)Há que se ler sua descrição dos quadros de Manet. “Berthe Morizot au bouquet de voilettes” do Museu Orsay, jogo de sombras e de luzes, variações sobre o negro – contra o toque claro do impressionismo – obra prima da qual Valéry dizia que “não poria nada acima desse retrato” – é o fio que sustenta o conjunto do romance. Os olhos negros de Berthe – na realidade eram verdes – são também os olhos de Lucie e Anne. Esse negro é o que importa para esse clarão (l´éclaircie), como mostra o trecho escolhido para a contracapa do romance.Manet é um mestre, “Ele tem uma grande saúde” (“Eu daria a Alsace e a Lorraine para estar perto de ti”, escreve ele para sua cara Suzanne, durante a operação da comuna). Sollers eleva Manet à altura de Ticiano – “Manet” é “Ele fica” em latim – e ele diz “desse virtuose do incesto” que “ao contrário de Édipo, ele tem dois olhos a mais” (pag. 89).Há que se ler também suas páginas sobre Picasso e sua descrição jubilosa do quadro “Jolie Eva”, também chamado “Le violon”. “Jamais Eva foi tão bela” (pag. 185), e ela toma pela mão uma seqüência encantadora –“ Lucie, minha irmã, meu violão” – que Sollers declina com prazer: “É preciso escutar as palavras que compõem os elementos de um violão”, etc. (pag.186)Há também a música, Haydn e a Inglaterra – e Bordeaux – contra Wagner e a ocupação de Veneza pelos austríacos. Há algumas raivas. Haverá, em suma, que se escutar o próprio Sollers no Colégio dos Bernardinos, em 23 de janeiro, falar da “Palavra da arte”.De tudo isso, aplaude-se uma admiração sem conta pelo Belo, um respeito pelo Grande (“Um debutante, quaisquer que sejam as insolências futuras, deve passar pelos encontros com a memória e a experiência dos artistas ou escritores mais velhos” (pag. 191) e um gosto por aquilo que Lacan exigia do próprio analista: “Que o passarinheiro seja um letrado” (E, pag. 641)Atrás dessa paisagem, o quê há? Atrás desses lugares recorrentes – a trilogia Ré, Paris, Veneza, tendo aqui, a mais, a China e a duna de Pilat – , atrás desses instantes – esse esforço de uma “desatenção de todos os instantes”, atrás dessa crença que é também um “fazer crer em “, o quê há ? Não há nenhum segredo, ao contrário, há uma confissão que se cochicha: “Quem amou Manet, quem amou Picasso?” (pag. 184). Acrescentamos: Quem amou Sollers? E pensamos também, ao ler “Felizes os que encontram o clarão de suas irmãs na devastação geral” (pag. 205), nos versos de Virgílio: “Incipe parve puer risu cognoscere matrem”. Sollers é digno de conhecer o leito da deusa, como indica a citação de Heidegger que ele escolheu como epígrafe de seu blog. E sua “curiosa solidão”, Lacan assim a parafraseou, dedicando-lhe seus Escritos: ”Não se é tão só afinal.” (Lacan mesmo). Pierre Stréliski
▪ O outono em Pequim (II) ▪BeidaNathalie CharraudÉ minha primeira conferência em Beida, a Universidade de Pequim, em 26 de outubro de 2011, às 18 horas. A noite cai, e tenho que dar apenas alguns passos, já que meu hotel é no seio da Universidade. Mas para que não me perca, a estudante que me acompanha há dois dias vem me buscar. Na véspera, ela me mostrou os caminhos mal iluminados por entre as árvores, que ela gosta de percorrer, pois eles se tornam cheios de mistérios no escuro. Citava os professores ilustres que passaram por ali, e que moraram em casas que apenas eram vistas e que hoje estavam abandonadas. Divertia-se imaginando estar lhes seguindo os passos. Atravessamos um corredor do prédio de Filosofia e achei emocionante ver escrito em uma primeira porta, não o nome de um professor, mas “Epistemologia”, na seguinte “Estética”, depois “Ética”, e enfim “Filosofia européia”, e o escritório da Sra. Du: “Filosofia francesa”! Abrir uma porta para entrar na epistemologia ou na ética é um sentimento de estranheza carrolliana que nos atinge. Beida, outrora situada, desde sua fundação em 1898, a leste da Cidade Proibida, foi implantada em 1952, bem a oeste, no local de um conjunto religioso americano que gerou então nesse lugar a Universidade Yanching. As igrejas desapareceram, mas permanecem ainda algumas construções antigas, espalhadas em meio a caminhos que cortam sempre um pouco mais os arredores da cidade para aí construir novos edifícios. Em alguns momentos, as bicicletas parecem se tocar nas ruas do campus, de tão numerosas, e a gente se pergunta como elas não caem. Os longos carros a serviço dos professores devem esperar pelo direito de se dirigir a uma das portas que levam à terceira avenida, e encontrar outros engarrafamentos. Foi o que descobri na semana seguinte, indo para outra universidade, Renda ou Universidade do Povo.As mesas da sala estavam dispostas em circulo e os estudantes sentados. A Sra. Du fez um longo discurso para me apresentar. Fiquei um pouco inquieta, pois não me traduziam nada, mas confiei nela. Visivelmente ela me conhecia bem, sem, no entanto, ter me perguntado nada. A internet é decididamente muito eficaz!Minha conferência foi intitulada est:« Jacques Lacan, uma ética do desejo »Senhoras e senhores, caros colegasEstou muito honrada em falar na Universidade de Pequim, que tem uma reputação de prestígio através do mundo. Agradeço particularmente à Professora Du Xiaozhen que me convidou para falar de Jacques Lacan. Ela iniciou seus numerosos alunos na filosofia francesa contemporânea e sei que muitos deles se especializaram no estudo desse pensador difícil que é Jacques Lacan.Lacan morreu há trinta anos, mas continua a marcar a cultura francesa de forma muito viva. Sua maneira própria de fazer sua crítica, sua desconstrução de valores os mais assentados, é uma maneira de psicanalista.Ao contrário de Freud que desconfiava da filosofia por suspeitar que esta pretendesse ser uma “visão de mundo” (Weltanschaung), Lacan nunca deixou de se referir a muitos pensadores, que parecia conhecer de maneira profunda. Ele os estudava para descobri-los sozinho, claro. Devemos todos passar por isso para adentrar em uma obra. Mas, ele também sabia se dirigir a especialistas quando um problema particular se colocava para ele, tanto quanto seus conhecimentos em cada domínio provinham das melhores fontes.Como vocês sabem, ele se interessou particularmente por filósofos chineses, depois de ter estudado chinês com o Professor Paul Demiéville. Nos anos 70, estudou passagens de Mencius e Lao-Tseu, com a ajuda de François Cheng. Nunca esteve na China, e em 1975 se recusou a vir com um grupo de intelectuais franceses, para não referendar um regime então problemático.Hoje estou especialmente feliz em estar aqui com vocês, o que representa para mim um verdadeiro retorno a Pequim, o terceiro, pois já passei por aqui em 2008 e 2010. É a cada vez uma volta à cidade de minha infância, onde vivi de fato até os oito anos de idade (bem antes de 1970!). Foi, portanto, aqui que aprendi a ler e a escrever.Isto para dizer que minha aproximação com a China não é filosófica, mas pessoal. Claro, Pequim mudou muito, mas lhes asseguro que reencontro muitas das sensações, dos odores, dos gostos, quando passeio nos hutongs ou nas avenidas do centro da cidade. Perdi a língua chinesa, mas meu inconsciente, ah! é muito chinês.Quando Lacan fala do Outro, não é para designar uma alteridade no sentido dos filósofos. Diferencia o pequeno outro do grande Outro. O pequeno outro é meu semelhante, meu alter ego, sobre o qual projeto muitas histórias e muitas fantasias. O grande Outro é aquele da cultura, das regras sociais, da linguagem que habito sem mesmo sabê-lo. O grande Outro, ou melhor, o discurso do Outro, isto é o inconsciente. É constituído pelos extratos de linguagem acumulados desde a infância. É um efeito das palavras pronunciadas e ouvidas, um efeito da ordem simbólica, ou seja, da linguagem da qual somos muito mais as marionetes. No meu caso, o Outro é muito chinês. O Outro não no sentido em que ele representaria uma diferença máxima, como propõe François Jullien. Ao contrário, ele reina em meu inconsciente e determina muitos aspectos de minha sensibilidade.É, pois, pela psicanálise que faço esse retorno à China e que tentarei transmitir-lhes, ao longo das conferências e seminários previstos, alguns elementos da teoria de Lacan, que lhes permitirão, espero, abordar sua leitura e seu estudo mais facilmente.I. O retorno a Freud.II. A ética se distingue da moral corrente: dimensão do real.III. O tempo lógico.IV. O movimento da modernidade.V. O desejo como falta-a-ser , aberto à interpretação do Outro.VI. A sublimação e o sintoma – Soluções éticas?Estavam presentes pessoas que não tinham aulas naquele momento! Esse primeiro encontro foi muito agradável, pois professores de francês estavam presentes e contribuíram de maneira muito viva com a tradução para o chinês. As questões giraram bastante em torno da falta-a-ser, que é exatamente um ponto crucial quando se aborda a questão do desejo. Comentário das fotos pela autora: 1 – A porta principal de Beida. 2 – A autora com a Sra. Du e a acompanhante. 3 – O Palácio de Verão, próximo de Beida. 4 – O Palácio de Verão.
LacanQuotidienpor Victor Rodriguez#Avante>Campo freudiano, programas>> Dizer Joyce, ler Joyce
Por iniciativa da Biblioteca da Escola da Causa Freudiana, da Associação da Causa Freudiana Île-de France, l´Envers de Paris, o Cien, a Seção Clínica Île-de-France, duas noites excepcionais em torno de James Joyce:Sábado, 21 de janeiro de 2012, as 20h30, no Théâtre de l´AquariumLa Cartoucherie – Route du Champ de Manouevre – 75012- ParisApresentação da peça Finnegans Wake – Cap. I – seguida de um encontro com o diretor Antoine Caubet, o elenco, e Jo Attié, Jacques Aubert, Judith Miller e François Regnault, membros da Escola da Causa Freudiana.Segunda – feira, 13 de fevereiro de 2012, às 21h15, Ler Joyce, com Lacan, na Escola da Causa Freudiana, R. Huysmans, 1 – 75006 – Paris.Para ler Joyce, nos servimos de Lacan e aí encontramos ensinamentos para a Psicanálise. O espetáculo de Antoine Caubet nos permite ouvi-lo dizer. Esta tensão entre dizer Joyce e lê-lo será certamente fecundo para continuar a conversa iniciada no primeiro encontro e fazer ressoar esse texto em diversos contextos.#Cinema>>Shame : «tudo deve ser retomado desde o início a partir da opacidade do sexual», por Jean-Noël Donnart “Shame, o novo filme do britânico Steve Mac Queen é admirável por mais de uma razão. Em particular, indica de maneira impressionante as linhas de força do discurso contemporâneo quanto à relação com o gozo, que J-A. Miller resumiu há alguns anos com o matema: a > I. Não é tampouco anódino que este artista lhe dê tal título.“>>Shame ou o afeto que anda com o gozo do Um, por Paulo Siqueira
“Tudo que concerne o sexo é tratado aqui somente em segundo grau, por uma espécie de colocação em perda que cria uma distancia entre o espectador e as imagens mais sexuais.”
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Lacan QuotidienPublicado por navarin editorINFORMA E REFLETE 7 DIAS SOBRE 7 A OPINIÃO ESCLARECIDA ▪ comitê de direçãopresidente eve miller-rose [email protected]difusão anne poumellec [email protected]conselheiro jacques-alain miller redação kristell jeannot [email protected]▪ equipe do Lacan Quotidienmembro da redação victor rodriguez @vrdriguez (sur Twitter)corretora da crônica Mancamento radiale anne-marie sudrycorretora do artigo Leitura de uma obra christine maugindesigners viktor&william francboizel [email protected]técnica mark francboizel & familylacan e livrarias catherine orsot-cochard [email protected]mediador patachón valdès [email protected]▪seguir Lacan Quotidien:٠[email protected] ▫ lista de informação das atualidades da escola da causa freudiana e das acf ▫ responsável : anne ganivet٠[email protected] ▫ lista de difusão da eurofederação de psicanálise ▫ responsável : gil caroz٠[email protected] ▫ lista de difusão da new lacanian school of psychanalysis ▫ responsáveis : anne lysy et natalie wülfing٠[email protected] ▫ uma lista sobre a psicanálise de difusão privada e promovida pela associação mundial de psicanálise (amp) em sintonia com a escola brasileira de psicanálise ▫ moderator : maria cristina maia de oliveira fernandesPARA LER OS ÚLTIMOS ARTIGOS NO LacanQuotidien.fr CLIQUE AQUI. Tradução: Cássia M. R. Guardado