Sexta-feira, 02 dezembro 2011 00h00 [GMT+1]
NÚMERO 105
Eu não faltaria a um Seminário por nada neste mundo – Philippe Sollers
Nós venceremos porque não temos outra escolha – Agnes Affalo
CRÔNICA – BALTIMORE 5h DA MANHÃ
O Partido do Não, o « TEA PARTY » e » Ocupem Wall Street »
Pierre – Gilles Guéguen
JANELA
Pina de Win Wenders por Daphné Leimann
Lacan Quotidien.fr
por Victor Rodriguez
Correio
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CRÔNICA – BALTIMORE 5H DA MANHÃ
O PARTIDO DO NÃO, O « TEA PARTY » E « OCUPEM WALL STREET »
Pierre – Gilles Guéguen
Fui levado a reler o livro editado por Agalma em 1999 e intitulado « A psicose ordinária« . Encontrei a alavanca desta crônica, mas darei a chave no fim.
Meu interesse, de saída, foi focalizado pelo retorno à política de Newt Gingrich. Antigo speaker republicano da câmara dos representantes, Newt Gingrich negociou duramente com Clinton e obteve dele importantes concessões para as teses neo conservadoras de seu partido, antes de ser aquele que forçou o Presidente a fechar o governo (paralisação do governo – government shutdown) em 1995 – isto quer dizer, por exemplo, que o governo federal deixou de pagar seus funcionários. Foi uma decisão muito séria que Clinton assumiu e que Obama fez tudo para evitar recentemente. Ora, eis que as sondagens dotam Newt Gingrich, que chegou atrasado às primárias republicanas, com uma porcentagem superior a de outros candidatos (27%). Michele Bachman, candidato do Tea Party, Herman Cain, candidato financiado pelos irmãos Koch, biliardários da indústria de refinamento de petróleo, ou ainda Rick Peny, Ron Paul ou Mitt Romney estão distantes dele.
Ele demorou a se colocar em campanha, mas hoje é favorito porque apresenta uma figura do mestre não–tolo, ao mesmo tempo dotado de séria experiência nos corredores do poder, ao contrário dos outros candidatos republicanos que acumulam gafes e erros quando não são idiotas (des casseroles). Os democratas sublinham sua brutalidade, seu cinismo e criticam sua carreira recente, que constitui essencialmente em amoedar seu caderno de endereços até o ponto de que, até os americanos – entretanto acostumados ao lobbying – se mobilizam (1).
Num artigo publicado no New York Review of Books (2), o universitário Andrew Hacker lembra que os USA são um país onde os cidadãos votam pouco. E, sobretudo, nas eleições legislativas que ocorrem no meio do mandato do Presidente. Isto explicaria a vaga republicana que assegurou aos conservadores em 2010 o controle da câmara dos representantes. Há também a oposição sistemática do partido republicano em participar do jogo político e da prática do « filibustering« , ou seja, do bloqueio sistemático do Senado, que cresceu exponencialmente com a chegada de Obama ao poder. Assim o partido republicano apareceu como o « Partido do Não », perseguindo em tudo a recusa sistemática do jogo político e visando unicamente a saída de Obama. (cf. as declarações do chefe da minoria republicana do Senado, Milch Macconell).
O Grand Old Party reflete o movimento radical do Tea Party que Andrew Hacker descreve com precisão. O movimento do Tea Party goza, com efeito, de sólida influência no partido republicano, sem que, entretanto, seja formalizada, nem que muitos membros do congresso ousem reclamar disto abertamente. Não é nem um partido e nem uma comunidade de opiniões, mas uma « erupção libertária » que atraiu indivíduos « convencidos de que podem fazer tudo sozinhos, se forem deixados livres ». Eles rejeitam, em particular, toda pretensão dos Estados e mais ainda, do Estado Federal, de exercer o menor controle sobre suas vidas. Eles discutem « valores » tradicionais sociais que partilham contra o aborto, contra a Previdência Social e o Medicare, contra o casamento homossexual, pela livre posse de armas. Mas no fundo, como bem pontua o autor do artigo, eles querem ser livres até o ponto em que todo laço social obrigatório, como os impostos ou outras demandas do Estado, toque no que eles consideram ser o coração mesmo de seu ser. Sobre este solo têm sido erguidos os totalitarismos. É um apelo ao desligamento que eles veiculam e que a « Política do Não » aplicada pelo partido republicano nutre, contribuindo com o desgosto sempre crescente dos americanos da classe popular para com « Washington ». Todos podres!
O movimento « Ocupem Wall Street », espontâneo e popular, entretanto, não é o espelho de esquerda do Tea Party. É um movimento populista, certamente também utópico, mas inacreditável na paisagem americana. Certamente em New York, mas há também manifestações em 17 grandes cidades – Oakland notadamente – com as provocações e as « quebradeiras » que se podia esperar nos encontros. Há pouco ele tomou um novo rumo, sempre na defesa de Main Street contra Wall Street, levando adiante o slogan de 99% contra 1% deslocando o acento sobre a reforma fiscal, mas também organizando manifestações – de acordo com os sindicatos – sobre as infraestruturas que ameaçam arruinar a ponte de Brooklin a New York.
Movimento sem líder, « Ocupem Wall Street », é uma resposta « liberal » – no sentido americano – à política demasiado moderada de Obama. O economista, prêmio Nobel e cronista do New York Times Paul Krugman, não parou desde 2008 de reprovar o Presidente por não haver explorado logo após as eleições, sua imensa popularidade. Ele considera que o Presidente tomou medidas muito tímidas, notadamente ao que concerne à recuperação dos empregos – o « Stimulus » -, a política de grandes obras e a regulação bancária. Ele lhe reprova, sobretudo, haver tentado, a todo preço, fazer o partido republicano participar do jogo democrático na Câmara dos Representantes e no Senado. Ele perdeu tempo e fez concessões que danificaram gravemente as reformas sociais que ocuparam seus dois primeiros anos de mandato.
Foi a decepção do eleitorado democrata que favoreceu a irrupção da revolta. « Ocupem Wall Street » também está à espera de um mestre, todavia não é o mesmo que o movimento do Tea Party pede.
O mestre que inspira « Ocupem Wall Street » é um mestre que ousou um ato diante do qual Obama, por sua vez, até o presente, recusou: Franklin Roosevelt ousou o confronto e não o compromisso. Ele ganhou as eleições para o segundo mandato com um programa de austeridade e de grandes trabalhos que a grande depressão havia deixado aos USA. Em seu discurso de Madison Square Garden, em 1936, ele dizia isto:
« Durante quatro anos vocês tiveram uma administração que, em vez de girar os polegares, arregaçou as mangas. Nós continuaremos a fazê-lo.
Tivemos que lutar contra os velhos inimigos da paz – o monopólio empresarial e financeiro, a especulação, o antagonismo de classes, o sectarismo, os exploradores da guerra.
Eles começaram a considerar o governo dos Estados Unidos como um apêndice de seus próprios negócios…
Nunca antes as forças estiveram tão unidas contra um candidato. Elas são unânimes em seu ódio contra mim – e este ódio eu o endosso, eu o acolho …
Eu gostaria que se dissesse de meu segundo mandato, que foi aquele no qual essas forças encontraram seu mestre. »
Obama chamado ao ato pelas forças de « Ocupem Wall Street » saberá interpretar este apelo, que é um apelo à solidariedade, em oposição ao do Tea Party?
Um apelo à religação (rebranchement) sobre um laço social digno. Foi o que Roosevelt, De Gaulle, Churchill fizeram em sua época, foi o que Bernard Henry Levy soube fazer ouvir a Sarkozy. Algumas forças concretas pedem um intérprete que não as deixe derivar para a utopia (cf. o artigo de Anaëlle Levovits-Quenehen a respeito dos indignados) É preciso que alguém ouse levantar-se e ocupar este lugar. Obama poderia fazê-lo?
Voltemos agora à página 355 do livro « A Psicose Ordinária (3) ». Jacques – Alain Miller produz aí o seguinte esquema:
Lalangue (alíngua) ◊ Laço Social
Ele acrescenta um comentário sobre o nascimento do conceito de alíngua (lalangue) em Lacan. Como a linguagem veicula a norma e como, depois de 1968 na França iniciou-se o « proibido proibir » de servir-se da operação de mestria.
De cara, p.336, alíngua (lalangue) se distingue de linguagem. O que chamamos linguagem é feita de alíngua (lalangue) mais o elemento social que a normaliza. De onde emerge o significante mestre? Da rotina própria à relação social? Da conversação? Do laço social? Mas, se não há laço social sem o significante mestre? É um circulo ».
A partir daí, forjando o conceito de alíngua (lalangue), Lacan convida o psicanalista a servir-se do Pai, num mundo em que se deve passar sem ele. Não é um apelo ao pai bicho-papão (fouettard), é um apelo a um pai que saberia dizer sim ao mais particular do sujeito e ligá-lo, por isso mesmo, ao laço social. Isto não é, de modo algum, desprezo pelo Significante Mestre, nem mesmo pelo Mestre, nem ainda pelo « poder », este espantalho foucaultiano. É um mestre que interpreta a sociedade no sentido de uma conexão e não de uma desconexão. Lacan, igualmente, desconfia dos « anarlistas ». O mestre esperado hoje é um mestre capaz de produzir o Ato que se destaca do blá-blá-blá administrativo da « governança ». Do mesmo modo, convém ao psicanalista produzir o ato que reconecte ao laço social os sujeitos desbussolados.
Seria preciso comentar longamente o matema da punção que o esquema comporta. Ele supõe um lugar topológico e uma ruptura de continuidade. Uma chicana que não põe em continuidade direta a operação do psicanalista e a do servidor do Estado. Entretanto, a Psicanálise não é inimiga do político, pelo contrário. Decididamente, o Tea Party e « Ocupem Wall Street » não são da mesma veia. Um acentua o isolamento dos desbussolados, o outro espera um intérprete que saberia dar peso ao laço social de solidariedade mínima, a que ele chama de seus desejos. É na virada do ato que se situa a nobreza do político. O que me dá vontade de reler as belas páginas de Koyré sobre a República de Platão (4).
Roosevelt soube encarar esta nobreza; Obama poderia fazê-lo?
(1) Rachel Madow Show de 21-11-2011 MSNBC.
(2) New York Review of Books, vol. LVIII nº 1318 – Agosto 2011. Hacker, A., The next election, the surprising reality.
(3) La Psychose Ordinaire, La convention d’Antibes, Agalma – Le Seiul Paris 1999.
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JANELA
Daphné Leimann
Alguns meses antes da publicação da Vida de Lacan, na qual Jacques Alain Miller fala de sua intenção de fazer viver, palpitar e dançar « a pessoa de Lacan, como ele havia feito viver e dançar os conceitos e matemas em seus cursos e no estabelecimento dos Seminários, saiu no cinema (neste outono saiu em DVD) o último filme de Wim Wenders Pina, homenagem à coreógrafa alemã desaparecida brutalmente dois anos antes. Como pode a dança tornar-se objeto cinematográfico? Essa é a questão que se pode colocar antes de ver o filme. Ora, longe de ser um balé filmado ou uma série extraída de balés, o filme torna visível outra face da dança que não aquela que se vê em cena, notadamente em Paris, nas representações anuais do Tanztheater no teatro da cidade. Com efeito, independente do uso do 3D, a câmera de Wenders apodera-se de uma potência de corpos comparável à que Deleuze marca e nomeia « lógica da sensação », à obra na pintura de Francis Bacon. Esta lógica ligando Cézanne a Bacon, segundo o filósofo, chega a tornar visíveis as forças invisíveis dos corpos testando a sensação. O termo « detector de forças invisíveis » sensação da qual o corpo é a sede – empregado por Deleuze a propósito de Bacon – esclarece a operação realizada por Wim Wenders sobre os corpos dançantes do Tanztheater. O primeiros planos (close-ups) produzem efeito de proximidades dos dançarinos, cortes sobre os corpos de detalhes isolados são alguns meios para tornar visíveis estas forças.
Assim, desde a abertura, filmando a Sagração da Primavera, os corpos palpitam na tela de outro modo que sobre toda a cena. Se a dança faz parte do que se chama espetáculo vivo, longe de congelar, o cinema de Wenders torna esta visível, palpável, de um modo novo fazendo ressoar no expectador a célebre fórmula de Paul Klee: « a arte não reproduz o visível, ela torna visível ». As montagens tornam possíveis as aproximações convincentes como aquela das três gerações de intérpretes do espetáculo Kontakthof que a coreógrafa havia montado, primeiro com a sua companhia, e que foi retomado por pessoas mais velhas, antes de ser dançado por adolescentes alguns meses antes da morte da coreógrafa. Outra invenção própria do olhar de Wenders: as danças no meio natural. Se as decorações da coreógrafa de Wuppertal são marcadas principalmente por uma profusão de elementos naturais (a terra na Sagração da Primavera, o campo de cravos de Nelken, as cascatas de Ein Trauerspiel, os vídeos de peixes de Danzón, etc), nunca se viu sua companhia dançar em outro lugar que não numa cena de teatro. No filme, a dança se mostra fora dos muros, fazendo explodir a vida e o movimento nos lugares mais inesperados: zona industrial, túneis, parques, entradas de teatro… Longe da homenagem fúnebre enterrando o defunto num discurso morto, o filme poderia também chamar-se « vida de Pina Bausch », na tradição da Vida dos Homens ilustres reatualizada por Jacques-Alain Miller em sua Vida de Lacan. Porque, do mesmo modo que Jacques-Alain Miller não quis fazer uma biografia que « mimetiza a ciência » (2) e a objetividade, mas buscou pequenos fatos, detalhes, bagatelas que testemunham uma ética, cada cena dançada é a lembrança encarnada do modo de ser da coreógrafa
Estilo, do qual cada dançarino testemunha que tinha como efeito revelar o desejo. Os mais tímidos haviam encontrado a audácia, os mais frágeis uma potência incomparável. Ressoando com o « não ceder em seu desejo » de Lacan, o filme se fecha sobre esta frase de Pina Bausch: « dancem, dancem, senão vocês estão perdidos ».
(1) Gilles Deleuze, Francis Bacon: logique de la sensation, Paris, Éditions de la différence, 2002 (première édition, 1981).
(2) Jacques-Alain Miller, Vida de Lacan. São Paulo: Lituraterra Editora, 2011, p. 20.
LacanQuotidien.fr
por Victor Rodriguez
# Vamos nessa
>>Escritura e filiação em Ferdinand de Saussure
A Associação da Causa Freudiana – NANTES – ST-NAZAIRE propõe um encontro com
CLÁUDIA MEJÍA QUIJANO
Autora de uma biografia de Saussure cujo segundo tomo saiu pelas edições Cécile Defaut.
Le cours d’une vie: Portrait diachronique de Ferdinand de Saussure
Sexta-feira, 9 de dezembro de 2011 às 20h no Lieu Unique em Nantes.
>>Por ocasião do centenário de nascimento de Jean Genet
« Physiques de GENET »
Jornada sob a direção de Hervé Castanet
Sábado, 3 de dezembro de 2011, de 9h 30 às 17h em AIX-EN-PROVENCE
Genet coloca as bombas de seu estilo romanesco a serviço de uma liturgia, incensando as virtudes antiteologais: o roubo, a traição, a homossexualidade. O estilo de Genet não poderia, portanto, limitar-se apenas às formas que a estilística enumera. Recusamos uma concepção envelhecida do estilo, reduzida a um formalismo em proveito de uma tese. O estilo de um escritor, de um poeta – é inseparável de um ponto específico do real – seja o que escapa da tomada de palavra, da representação ou do conceito.
# Vamos nessa > Campo Freudiano
A Escola da Causa Freudiana recebe
BLANDINE KRIEGEL
Sábado, 3 de dezembro, das 15h às 18h na ENS
para falar
DO PRÍNCIPE MODERNO
de Guillaume d’Orange à Nicolas Sarkozy
no lançamento pela PUF de seu livro,
La Republique et le prince moderne
Les Français et la naissance des Provinces-Unies
Depois da exposição introdutória da autora, a Conversação, moderada por Jacques-Alain Miller, desenvolver-se-á com a participação de Bernard-Henri Lévy.
Interlocutores:
Alexandre Adler, Vicent Giret, Aléxis Lacroix
Pela Escola exprimir-se-ão destacadamente:
Marie-Hélène Brousse, Philippe La Sagna, Eric Laurent e Lilia Mahjoub
Escola Normal Superior, sala Dussane, 45, Rua d’Ulm 75005, Paris.
Recepção a partir de 14h 30 – início às 15 h00. Entrada livre.
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CORREIO
De: Ronald Klapka
Objeto: De la Trinité
« Bom dia Kristell Jeannot, um pensamento matinal: http://www.letre-de-la-magdalaine.net/… Eu não lhe contaria o trajeto de significante que comandou esta manhã! Isto seria um pouco longo…
Obrigado pelo eco dado à revisão do livro de Ph. Hellebois. Ele, assim como as edições Michele, têm necessidade, certamente, do impulso que os faça conhecidos no oceano de tudo o que se publica (que comporta milhares de tolices, mas também algumas raridades a desenterrar, como Marie de la Trinité (e a carta de Lacan), o index de Encore, o espantoso livro de Françoise Wilder, sobre um outro a priori pouco atrativo, e certamente Catherine Millot).
Amigavelmente, RK »
La Lettre Mensuelle 303 Revue des ACF
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lacan cotidiano
publicado por navarin editor
INFORMA E REFLETE 7 DIAS EM 7 A OPINIÃO ESCLARECIDA
▪ comitê de direção
presidente eve miller-rose [email protected]
difusão anne poumellec [email protected]
conselheiro jacques-alain miller
redação kristell jeannot [email protected]
▪ equipe do lacan cotidiano
membro da redação victor rodriguez @vrdriguez (sur Twitter)
designers viktor&william francboizel [email protected]
técnico mark francboizel & family
lacan e livrarias catherine orsot-cochard [email protected]
mediador patachón valdès [email protected]
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Tradução: Maria Bernadette Soares de Sant’Ana Pitteri