Release do Livro Psicanálise caso aCaso
Celso Rennó Lima
Celso Rennó orienta o desenvolvimento de seus estudos clínicos a partir dos pontos de impasse de sua localização discursiva, lembrando-nos que o fator que determina uma situação é justamente aquele que nela não se encontra representado. Suportado pela convicção solitária que atravessa, em diagonal indiferente, a inevitável banalidade das grandes opiniões dominantes, dispensando inclusive a companhia das grandes hostes do pensamento psicanalítico, Celso Rennó nos conduz à difícil seara da meditação clínica. O leitor que abrir esses Estudos Clínicos terá, assim, em mãos, o retorno de Celso Rennó, para o Outro que ele faz existir com a Escola, da experiência absolutamente singular de um analista que se autoriza de si. Mas aquilo que se recebe termina por receber a forma do recipiente, dizia São Tomás de Aquino.
O leitor terá, assim, ocasião de contemplar, nas diversidades das harmonias que ali se ouve, a variação temporal dos distintos modos de entrada do pensamento lacaniano em nossas paragens, do qual Celso foi testemunha. Assim o primeiro relato, provocante e anedótico, no qual os grandes nomes da psicanálise se reúnem para discutir um instigante caso clínico, parece reverberar o entusiasmo lírico dos primeiros anos do lacanismo tropical no Brasil. A ele se alterna o segundo caso, escrito em 1988, emblema ético da orientação lacaniana de não recuar diante da psicose que tanto marcou a entrada do discurso psicanalítico no campo da saúde mental, acrescido do comentário inigualável de Jacques-Alain Miller.
Mais adiante assistimos ao uso do sextante topológico como dispositivo de orientação lacaniana, seguido de um comentário filológico sem par sobre o que seria o uso devido do termo freudiano de “traço” na abordagem de um caso de perversão. Os textos sobre a melancolia, sobre histeria e sobre o umbigo do sonho colocam por sua vez em valor, cada um a seu modo, a temática relativa ao elemento pulsional articulado ao significante, reverberando a leitura de Lacan proposta por Jacques-Alain Miller a partir desse período. Ali já se anuncia o tratamento da questão do passe a partir do qual Celso Rennó irá expor, nos dois textos subseqüentes, o que foi o nervo de sua própria experiência psicanalítica. Percebe-se, assim, ao longo da leitura dessa coletânea, que Celso Rennó, ao se voltar para o Outro do campo freudiano, confere um envelope ficcional ao núcleo real da experiência que ele recolhe, de acordo com os modos de configuração desse Outro que a cada tempo ele se endereça, em seu esforço de se fazer ouvir. —
Celso Rennó Lima
@celsorenno