Querido colega,Esse livro é uma homenagem a Lacan e um presente para você. Passaram-se trinta anos desde a morte de Lacan, e nesse tempo as Escolas da AMP trabalharam de maneira decidida para manter vivo o discurso analítico e a orientação lacaniana em nosso mundo. Como disse Borges em uma de suas conferências, “dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. (…) Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”.É um livro para ler e guardar em sua biblioteca pessoal. Como você sabe, as bibliotecas tem sido objeto de especial atenção em nossa comunidade. Nos seminários das bibliotecas, no intercâmbio entre elas, no trabalho com os autores e sobre a autoria. De fato, a escrita tem um lugar privilegiado para a psicanálise e, para nós, muitas vezes é ela que faz um corpo. Escrita que nos enlaça numa comunidade que não se limita nem às fronteiras, nem à língua de nosso país. Escrita presente em nossas investigações teóricas, nos trabalhos de cartel, em nossas jornadas onde levamos os frutos de nossa elaboração, e também na particularidade da análise de cada um de nós, onde nos esforçamos para escrever aquilo que insiste em escapar à palavra.Esse livro de Miller é um produto de seu seminário, que acompanhamos, e que tem um lugar central na transmissão da psicanálise feita por nossa Escola. Como o próprio Miller relata aqui, foram anos tornando Lacan vivo entre nós a partir da incansável leitura de seus seminários e escritos. Seminário que lemos, discutimos, traduzimos, publicamos. Mas, para além do ensino de Lacan, Miller, em seu desejo que não esmorece, quis fazer viva e palpitante a pessoa de Lacan. É da escrita desse desejo que temos aqui a oportunidade de desfrutar.Esse presente não seria possível sem o desejo, também incansável, de Angelina Harari.Que sua leitura seja para você um motivo de prazer e alegria, tal como ainda Borges nos diz que devem ser os bons livros. Que ele seja um encontro com Lacan. E que você o guarde como se guardam os objetos preciosos: com aquele cuidado que permite conservar dentro dele o afectus societatis que circula entre nós. Cristina DrummondLilany PachecoOndina Machado
