Caros colegas, O V Encontro Americano tem se mostrado surpreendente em mais de um aspecto. Inicialmente, o quantitativo: recebemos 415 propostas de intervenção e já estamos, mais de dois meses antes do evento, ultrapassando a marca dos 900 inscritos. Mas a surpresa foi também a de receber cerca de 180 propostas de membros de escola, quase a metade do total. Ela indica uma mudança importante com relação à tradição dos Encontros Americanos de acolher, sobretudo, os “nouveaux venus”. Certamente é efeito do “acontecimento de Paris” e da orientação por uma política da enunciação analisante que a partir dele tem se desenvolvido. Ao convocar nossa comunidade a demonstrar como uma análise introduz uma forma original de dar lugar ao gozo singular de nossas maluquices, recebemos um grande número de propostas de intervenção de colegas dos quais a prática da psicanálise já é reconhecida e duradoura. Visam momentos cruciais da clínica e o que os move, podemos presumir, não é o reconhecimento de efeitos terapêuticos, ou a possibilidade da psicanálise ir além de seus lugares habituais, mas o desejo de demonstrar como uma análise ex-siste à prática clínica. Como levar isso em conta no próprio funcionamento das mesas, sabendo que qualquer alteração deve ser feita em pleno vôo? Chegamos à seguinte proposta. Sábado Os trabalhos visarão, sobretudo, atestar como o discurso analítico permite acolher a loucura de cada um, seu sinthoma, dando-lhe um novo lugar no Outro. Poderiam ser reunidos, todos, sob a rubrica da salvação pelos dejetos. Trata-se em cada caso de destacar o modo como a intromissão do singular exige e conduz uma recomposição do universal. Três eixos contemplam três declinações deste último: a saúde mental, a educação e o direito, recobrindo aquilo que nos habituamos a chamar de psicanálise nas instituições. Uma segunda trinca privilegia a subversão analítica promovida pelo discurso inconsciente, pelos loucos artifícios do sintoma e finalmente, pelo embate com o misticismo da avaliação. Os 180 trabalhos selecionados serão distribuídos em seis sessões de uma hora, uma por eixo temático ocorrendo em dez salas simultaneamente, das 14:00hs às 20:00hs de sábado. Em cada sala, a mesa terá uma hora para a apresentação e discussão de três trabalhos, sob a condução de um coordenador que promove, pelo manejo do tempo e mesmo do corte, os entrecruzamentos das variadas singularidades. O horizonte tem a vastidão das Américas, mas apostamos nas ressonâncias desta enorme rede social da insensatez. Domingo As propostas acolhidas neste dia, menos marcadamente articuladas aos seis eixos e mais articuladas à temática geral do Encontro abrem-se a outra modalidade de apresentação. Trata-se de apontar para um momento em que se tenha apresentado, na prática clínica do autor, de que maneira sua análise pessoal sustentava seu gesto. Todas as mesas contemplarão este tema, o mesmo das simultâneas do Pipol: “Quando surge o analista na experiência do clínico”. Convida-se os autores a articular seu lugar como clínico a seu trabalho analisante, a demonstrar como a lida com o opaco de seu gozo, de sua própria loucura, pôde permitir que ele acolhesse as maluquices daquele que ouvia. “Clínico”, aqui, nomeia o quotidiano de nossa prática, de cada um de nós, ocupada em orientar-se em meio à terapêutica, ao diagnóstico e às demandas as mais diversas na qual, porém, surge, aqui e ali, o analista. Os trabalhos serão mais curtos: 3000 signos apenas para que a apresentação possa ser desdobrada. A redação seguirá um funcionamento inspirado no dos mentors posto em prática nas últimas jornadas da ECF e no Pipol. Trata-se, para o autor de aquilatar suas palavras a partir das reações de um Outro prévio, função exercida pelo coordenador. Ele será esse leitor privilegiado que recebe o texto com antecedência, descobre-o e o comenta, contribuindo diretamente com sua versão final. Após enviar suas reações ao autor, ele ainda define a sequência de apresentação dos três trabalhos e propõe um título para a mesa. Espero ter transmitido a vocês a impressionante mobilização que este trabalho tem causado em cada um dos que tomam parte das comissões e além. Estamos contando com o bom encontro de vocês com estas subversões do plano original, na aposta de que elas venham acrescentar um “psiu de luz” decisivo aos tantos que fazem a vida de um verdadeiro Encontro. Marcus André Vieira (pela direção do Enapol).
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