nesta segunda (29.11.10) para terça-feira, 0h30, TV Cultura
Jacques Lacan ficou conhecido, e ainda assim é visto, como, talvez, o mais importante continuador de Freud, alguém que deu estatuto racional iluminista ao Inconsciente, desde sua famosa formulação do ‘inconsciente estruturado como uma linguagem’. O que pouco, no entanto, se sabe é que nos últimos anos de seu ensino Lacan deu uma guinada de 180 graus em tudo o que tinha feito até então e, como se estivesse pensando contra si mesmo, propôs uma nova clínica, muito diferente da primeira e ainda a mais difundida, uma clínica própria a um homem que iria viver a crise de um mundo globalizado. A desestruturação das relações patriarcais exigiu uma clínica além do Édipo, na qual Freud não mais explica, Freud implica. É a psicanálise de um mundo novo e o que se faz hoje na clínica, à diferença do que se fazia antes, que iremos debater.
Palestra do módulo “A psicanálise do século XXI. Lacan para desesperados da crise“, de Jorge Forbes
Jorge Forbes é psicanalista e psiquiatra. Preside o Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA) e dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano da USP. É membro (A.M.E.) das Escolas Brasileira e Européia de Psicanálise. Escreveu vários artigos e livros, a maioria, sobre a psicanálise que responde às mudanças do homem na globalização.
“Há uma expectativa crítica em relação à psicanálise no ar, que poderia assim ser enunciada: “E agora você, e agora Lacan, que nos contou as vantagens da pós-modernidade, da queda dos padrões, da liberdade de escolha: o que fazer com esta crise que se abateu sobre o mundo e pede novas regulações?”.
O primeiro engano nesta questão é pensar que foi a psicanálise a responsável pela globalização dos laços sociais e pela sua transformação de estrutura verticalizada em estrutura horizontal, constituindo redes. Não cabe à psicanálise promover uma visão do mundo (Weltanschaung) mas acompanhar, legitimar e incidir sobre as mudanças que ocorrem nos modos de estar bem ou mal do Homem.
O segundo engano é acreditar que frente a novos problemas a melhor solução seja os velhos remédios, no caso, a regulação.
Oh, saudosistas! Velhos remédios são calmantes enganadores que além de não tratar um problema, geram mais um decorrente do mau tratamento.
O título deste módulo – “A Psicanálise do Século XXI” – deve ser entendido em suas duas acepções: de qual psicanálise serve a este novo século, e que psicanálise pode-se fazer desse novo século.
Na primeira acepção, tomaremos o ensino de Jacques Lacan como o mais relevante para examinar o que é uma psicanálise própria ao século XXI. Na segunda acepção, trabalharemos as novas soluções que já existem e aquelas que estão sendo criadas, para cuidar do homem atual, sem cair no fascínio das seguranças ultrapassadas. ” Jorge Forbes