Boletim Nro. 7 – Julho 2010Maria Beatriz Almeidinha Maia respondeu para o Boletim:Entendo por delírio generalizado algo como todos na cultura partilhando do mesmo delírio. No alicerce pós-moderno de uma civilização capitalista e competitiva, o delírio em comum ronda cada cidadão, e suas diversas versões se apresentam, por exemplo, nas crises de pânico, ou na violência contemporânea, na depressão, na drogadicção ou na loucura propriamente dita, no caso da persecutoriedade. O mais curioso é que algumas destas modalidades do “delírio generalizado”, que antes eram vistas como patológicas, atualmente são encaradas como um agir e pensar normal, algo como uma “normalização da loucura”.Maria Beatriz Almeidinha Maia é fonoaudióloga e gerente do Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas-CAPS/AD de Campo Grande (MS)
EditorialApresentamos a leitura de Márcio Peter de Souza Leite sobre a foraclusão generalizada. Partindo de Freud em A negativa, recupera a expulsão primordial, anterior ao recalque primário, para articulá-a como foraclusão generalizada, foraclusão da falta no Outro, condição do parlêtre. Além da teoria, seu ponto de interesse é a clínica. A clínica da conexão, proposta por Miller, seria mais própria ao delírio generalizado? O debate continua… As atividades preparatórias ao Encontro estão acontecendo nos quatro lados do país, como o Estudo Preparatório para a V Jornada da Seção Pernambuco (em formação) com o tema A clínica do delírio generalizado… Aconteceram coisas em São Paulo, Gisele Gonin nos conta algo…Carmen Silvia Cervelatti
AMP/EBP (SP)TextoO Boletim editou alguns trechos de um texto de Márcio Peter de Souza Leite sobre a foraclusão generalizada:A relação entre foraclusão generalizada e recalque originário
Existe uma diferença entre defesa e recalque. Freud, em “Inibição, Sintoma e Angústia”, fala de uma defesa anterior ao recalque. O recalque é um tipo de defesa, mas há defesas diferentes do recalque, tanto que temos a foraclusão. Freud chega a essa conclusão: a defesa na neurose, que é o recalque, é secundária a uma defesa anterior. Há o recalque porque antes houve a foraclusão. No texto A Negativa, Freud coloca nesses termos: tem-se primeiro a foraclusão, depois o recalque; há portanto a expulsão primordial que funda a possibilidade do recalque.
Se não tiver sido instaurada a falta original pela foraclusão não há a linguagem. A foraclusão original funda a linguagem, e o recalque originário é do S1, o primeiro significante. A presença do significante pressupõe a existência da linguagem. Lacan trabalha essa questão no Seminário 23 a partir do nó e conclui que o sentido é foracluído pelo real, que é um efeito das propriedades do nó, onde o sentido está completamente fora do real.A foraclusão generalizada é condição do parlêtre
Em Lacan o paradigma é a psicose, e a neurose entra como uma exceção à psicose. A foraclusão é condição para que o sujeito possa entrar na linguagem, e a foraclusão da função paterna é a condição da psicose. A conclusão que se impõe é que há uma foraclusão generalizada para qualquer um que fale, inclusive o psicótico, só que o psicótico, além da foraclusão generalizada, tem a foraclusão do Nome do Pai. Na foraclusão generalizada, o que fica foracluído é a falta no Outro, condição da estrutura de linguagem. A falta no Outro é uma evidência clínica que a teoria tenta explicar, para tanto o texto freudiano A Negativa é o mais importante.
O sujeito não consegue pensar se não houver uma falta, se não houver algo que tenha sido expulso, algo que não está presente, porque pensar é presentificar uma ausência, uma falta daquilo que foi posto para fora. Esse é o mecanismo fundante da linguagem. Se o sujeito não tem a foraclusão generalizada, não tem a linguagem. Na linguagem, uma palavra sempre remete à outra, à outra, à outra, na busca da completude que não é possível, pois o Outro é faltante.Para o autista o Outro é completo
A explicação teórica de Lacan para a falta no Outro é a foraclusão generalizada, sempre houve algo no início que não está presente, por condição de estrutura. Pode-se pensar no autismo como uma condição clínica que exemplifica isso: o sujeito autista seria aquele que não acede à falta; para o autista, o Outro é completo. O que leva um sujeito a se dirigir ao outro, Outro ou semelhante, é a busca de algo que não está nele. Se um sujeito se pensa ou se sente incompleto, busca no outro o que lhe falta; se está completo, não precisa do outro para nada. O autista é o outro, o outro para ele é indiferenciado, é ele mesmo.A clínica da conexão é baseada na foraclusão generalizada
O nó borromeano é uma formalização clínica sustentada nessa maneira de compreender a clínica: uma compreensão nova baseada na foraclusão generalizada.
Trata-se de uma clínica que Miller chama de clínica da conexão e que é diferente da compreensão da clínica como clínica da substituição, que continua a existir, porque uma compreensão não anula a outra. Penso que não se trata tanto a da clínica da substituição, mas mais a extração do objeto ‘a’ do S1, por isso, a prática da sessão pontual, curta, sem o enunciar e sem sugestãoO que orienta o analista na direção do tratamento não é a teoria
Na direção do tratamento, o que nos interessa não é a substituição, perceber num dito de um paciente as sincronias e diacronias do significante que permitiriam a substituição por outro significante, nem a veracidade do relatado, mas a materialidade, a fixidez do significante, para poder intervir sem preocupação com as articulações. Porque substituição significa articulação.
Na clínica da conexão, o analista não está preocupado com a articulação, com a substituição, com o conhecimento da realidade dos fatos, mas apenas com a articulação de um significante com outro. O que orienta a ação do analista não é a explicação teórica. É isso que Miller fez na Conversação de Arcachon: ao invés de ir para a clínica do nó, pura metafísica, toma casos clínicos, mostrando, em cada um, onde está o point de capiton, onde está a intervenção do analista que produziu algum efeito, que seria a generalização da função paterna.
A função paterna é a própria função do analista
A função paterna pensada dessa maneira deve ser entendida como agente de separação, o que separa o objeto ‘a’ do S1. É a própria função do analista. No “Aturdito”, Lacan fala das diferentes interpretações e das ocasiões em que se impõem erros de linguagem, de lógica, de gramática, de semântica, homofonias. A interpretação pode ser apofântica, modal. São interpretações minimalistas e tremendamente operativas. É o saber-fazer do analista.Márcio Peter de Souza Leite
AMP/EBP (SP)…. Aconteceu na cidade de Sâo Paulo, en 1997, no VII Encontro Brasileiro do Campo FreudianoAlguns colegas já ouviram falar do meu book histórico de fotografias com os colegas da EBP/AMP desde 1997. Foi neste ano em São Paulo no VII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano que tirei a primeira foto. Para mim, um acontecimento histórico marcante foi a foto com Jacques-Alain Miller autografando o seu livro recém-lançado Lacan Elucidado- Palestras no Brasil.
Hoje surpreendo-me: devo ter mais de 200 fotos. A partir daí foi sendo construído com os meus colegas o Book Histórico de Fotografias da EBP/AMP. Essa idéia surgiu quando, num cartel em 1996, falávamos da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e chegou em minhas mãos um livro de Mario de Andrade chamado o Fotógrafo Aprendiz. Ao virar das folhas encantei-me com as fotos, sorrisos espontâneos ali presentes, registrando um momento tão especial de personagens da nossa história da arte e da literatura.
Dois movimentos surgiram em mim, o de pintar obras abstratas inspiradas em Kandinsky e o de registrar a história da psicanálise através das fotos. Fico feliz, pois vejo os mesmos sorrisos no Book histórico de fotografias da EBP/AMP.Gisele Gonin
AMP/EBP (RJ)
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