A PSICANÁLISE DO SÉCULO XXI Lacan para desesperados da crise Há uma expectativa crítica em relação à psicanálise no ar, que poderia assim ser enunciada: “E agora você, e agora Lacan, que nos contou as vantagens da pós-modernidade, da queda dos padrões, da liberdade de escolha: o que fazer com esta crise que se abateu sobre o mundo e pede novas regulações?”. O primeiro engano nesta questão é pensar que foi a psicanálise a responsável pela globalização dos laços sociais e pela sua transformação de estrutura verticalizada em estrutura horizontal, constituindo redes. Não cabe à psicanálise promover uma visão do mundo (Weltanschaung) mas acompanhar, legitimar e incidir sobre as mudanças que ocorrem nos modos de estar bem ou mal do Homem. O segundo engano é acreditar que frente a novos problemas a melhor solução seja os velhos remédios, no caso, a regulação. Oh, saudosistas! Velhos remédios são calmantes enganadores que além de não tratar um problema, geram mais um decorrente do mau tratamento. O título deste módulo – “A Psicanálise do Século XXI” – deve ser entendido em suas duas acepções: de qual psicanálise serve a este novo século, e que psicanálise pode-se fazer desse novo século. Na primeira acepção, tomaremos o ensino de Jacques Lacan como o mais relevante para examinar o que é uma psicanálise própria ao século XXI. Na segunda acepção, trabalharemos as novas soluções que já existem e aquelas que estão sendo criadas para cuidar do homem atual, sem cair no fascínio das seguranças ultrapassadas. Dois psicanalistas e um filósofo se responsabilizarão pela tarefa. Jorge Forbes
1ª. AULA. 13/8/2009 – JOEL BIRMAN Novas subjetivações e o mal estar na contemporaneidade A proposição da conferência é de circunscrever as novas formas de subjetivação na atualidade, indicando os impasses do discurso psicanalítico de se confrontar com um mundo no qual o Estado perdeu o seu lugar de referencia axial no espaço social ,tendo como contra partida a disseminação da economia neo liberal. A questão da autoridade paterna foi colocada na berlinda ,de forma que o imaginário da barbárie se atualizou no espaço social.É nessa perspectiva que o Édipo como referencia ética foi colocada em questão. JOEL BIRMAN é Psicanalista, Membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos e do Espace Analytique, Professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).
2ª. AULA. 20/8/2009 – ALAIN GROSRICHARD Mal-estar na globalização – Lacan e as Luzes Depois de Freud, o psicanalista Jacques Lacan reinvidicava sua filiação às Luzes, aquelas do século de Voltaire, chamado também de “o século dos filósofos”. Entretanto, foi praticando a “anti-filosofia” que ele afirmava continuar o combate daqueles, contra os todos os tipos de preconceitos. O que ele queria dizer com isso? Em que, e até que ponto, a “anti-filosofia” lacaniana se inspira no Iluminismo? E que luzes, por sua vez, nos traz hoje sua obra para analisar o do que se trata no mal-estar ou na crise da civilização, a qual um J-J- Rousseau – anti-filósofo esclarecido, mesmo não sendo o Doutor Lacan – já tinha recenseado com tanta lucidez, e encarnado até à loucura, alguns de seus sintomas? ALAIN GROSRICHARD é ex-aluno da Escola Normal Superior, « agrégé » de filosofia, Professor honorário da Universidade de Genebra, Presidente da Sociedade Jean-Jacques Rousseau, membro da Escola da Causa Freudiana (França) e da Escola Brasileira de Psicanálise. Escreveu muitos trabalhos sobre a literatura e a filosofia iluminista, especialmente sobre Rousseau, como também sobre o enfoque psicanalítico da literatura.
3ª. AULA. 27/8/2009 – JORGE FORBES Jacques Lacan e a psicanálise do século XXI Jacques Lacan ficou conhecido, e ainda assim é visto, como, talvez, o mais importante continuador de Freud, alguém que deu estatuto racional iluminista ao Inconsciente, desde a sua famosa formulação do “inconsciente estruturado como uma linguagem”. O que pouco, no entanto, se sabe é que nos últimos anos de seu ensino Lacan deu uma guinada de 180 graus em tudo o que tinha feito até então e, como se estivesse pensando contra si mesmo, propôs uma nova clínica, muito diferente da primeira e ainda a mais difundida, uma clínica própria a um homem que iria viver a crise de um mundo globalizado. A desestruturação das relações patriarcais exigiu uma clínica além do Édipo, na qual Freud não mais explica, Freud implica. É a psicanálise de um mundo novo e o que se faz hoje na clínica, à diferença do que se fazia antes, que iremos debater.
NOTA (1) aos leitores de Veredas: Eric Laurent, que tinha confirmado sua participação nesse programa, tendo suspendido uma viagem à Argentina, na mesma época, informou-nos que, por conseguinte, não viria mais ao Brasil. NOTA (2) : todos os programas são gravados às 19h, na sede da cpflcultura (café filosófico), em Campinas. A entrada é livre.