Lumen 124 – Delegação Paraíba

No último dia 14 de março foi realizada a Abertura das Atividades da Delegação Paraíba. Para este momento, contamos com a presença de nossa representante no Conselho da EBP, Ana Lydia Santiago, que participou conosco de três momentos importantes:Primeiro, proferiu uma conferência sobre Sinthoma e Semblante, tema que reunirá os membros da AMP em Paris em 2010, seguida de uma excelente discussão; num segundo momento, ela participou com os demais membros da delegação da discussão do filme “Nossa Inquietudes” de Judith de Pasquier, ambas atividades abertas ao público e, finalmente, de uma conversação institucional, onde foi discutida a questão da formação do analista na Escola de Lacan, tendo como pano de fundo, o texto de Lacan, ´Situação da psicanálise e a formação do psicanalista em 1956´ (in: Escritos), esta restrita aos membros da delegação.Ana Lydia nos propõe nesta conferência, as questões do semblante como fonte de inspiração para Lacan que postula, em psicanálise, o seu uso próprio a partir do que podemos ter nas perguntas das crianças, “é de verdade ou de mentira?”. Pergunta apropriada para interrogar o valor do semblante na relação com o que é o status do objeto na experiência da análise.É introduzindo a idéia de genitivo objetivo, que Ana Lydia, de acordo com Lacan, pontua: « é precisamente como objeto do que apenas se produz no discurso, que o semblante se coloca”, marcando, então, que o uso do semblante na psicanálise situa-se além do significante, já que se trata de um nome que determina algo de essencial de outro nome, um fator essencial na definição do discurso, no que concerne à economia de gozo.Além da articulação entre o objeto a e o semblante, Ana Lydia nos traz dois outros semblantes, considerados capitais na psicanálise: o Nome–do-Pai, que inscreve o gozo nomeando o obscuro do desejo da mãe e o falo como significante que formula e articula o gozo sexual como elaboração que vela a castração, dizendo que, embora estes semblantes tenham suas funções na linguagem, é preciso se indagar se o objeto a seria da mesma ordem do Nome-do-Pai e do falo.É com o “faz de conta” das crianças no brincar da sessão analítica que Ana Lydia nos diz que o jogo infantil não é um fato, mas, como uma ficção, está fadado ao meio-dizer a verdade sobre o efeito castrador da incidência da linguagem para o ser falante, introduzindo aí, para nós, outro ponto interessante na sua conferência: a fantasia e objeto postiço, marcando aqui a incidência clinica do objeto a como semblante, dizendo que este toma a forma de objeto postiço quando, por exemplo, o ato analítico conduz aos limites do discurso na direção do encontro com o real, sendo a fantasia, o meio pelo qual o sujeito faz uso para recobrir a angústia.Para colocar isso em questão, Ana Lydia nos aproxima do discurso analítico e do encontro deste com o real, ali onde o sujeito encontra obstáculos para situar o desejo, onde se manifesta a angústia de castração na sua relação com o Outro, deixando para nossa discussão, a possibilidade de ir além desse obstáculo – do objeto postiço – e a pergunta se esta possibilidade estaria condicionada pela criação do objeto a semblante no discurso analítico, lembrando-nos, na sua conclusão, que o objeto a semblante não se restringe ao objeto a da estrutura (das substâncias episódicas), nem ao significante do ser do sujeito.Num segundo momento, tivemos a discussão do filme “Nossas Inquietudes”, que nos foi instigante, não só pelo que cada experiência ali nos revela, mas pelos dispositivos que a clínica nos oferece por meio da fala. Deixamos aqui, estes ditos dos próprios autores:“As palavras na sessão têm um valor que não possuem noutro lugar”.“A fala vem de muito longe…quando eu falava, havia outro sinal… »“É diferente de falar para um amigo e um analista, este não compreende”
“Acho que falei de uma coisa que repetia bastante e um dia não falei e algo aconteceu: algo da minha feminilidade”.“Falar é um passo, é aceitar a análise”“O falar, por mais banal que seja, tem importância para o inconsciente. Não é à toa que falamos – o verbo não existe por acaso ““Há perigo aqui (…) apareceu o problema da sexualidade”“Quando ficamos 30 minutos no divã, se contorcendo, isso é muito doloroso – aí damos importância do verbo”“Você se joga sobre um divã… é surrealista esse negócio – captamos ali o que nos faz sofrer”

Por Sandra Conrado

Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Medicina – NEPPSIM