del VI congreso de la AMP
los objetos a en la experiencia analítica
21 a 25 de abril de 2008 • Marriott Plaza Hotel, Buenos Aires •
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« la pragmática de la cura a partir del objeto a »
Breve comentário sobre um relato de AE
Ana Lucia Lutterbach Holck
Para abordar a pragmática da cura a partir do objeto a, trago um sonho de Marie-Hélène Brousse, relatado em seu depoimento do passe, que ilustra a extração do objeto a como gozo real,1 no final de análise: “Tenho a cabeça cortada. O corte é tão claro, tão preciso, que a cabeça continua sujeitada ao corpo. Só é visível uma marca vermelha muito fina que contorna o pescoço como uma fita, quase um adorno, sem que as funções vitais se interrompam. Mas é imperativo não correr, o que produziria a quebra desse frágil equilíbrio. Talvez certas circunstâncias levem a infringir esta exigência, que posso esquecer. A um momento dado me ponho a correr. Minha cabeça cai e rola diante de mim. Coloca-se então uma pergunta: como é possível encontrá-la se minhas mãos, que podem pegá-la, e meu corpo, que pode deslocar, está de um lado e minha cabeça de outro, com meus olhos para guiar-me, estão de outro? É possível que nesta tentativa um se afaste da outra. A resposta é: impossível. Desperto-me.”2
A primeira marca no pescoço ela situa no registro fálico, como um adorno, mascarada que permite sustentar a posição sexual na ordem do semblante. O segundo corte é de outra ordem, indica uma hiância entre cabeça e corpo, imaginarização do que não é mais da ordem do recalque, fazendo surgir o real da castração. O objeto a cai e o que surge não é o horror da mutilação mas a ilustração de uma impossibilidade lógica no corpo. O objeto a, olhar, se encontra dissociado da imagem narcísica do corpo e do ideal – ter a cabeça sobre os ombros. A cabeça extraída do corpo vem apresentar uma impossibilidade lógica, o corpo é cego (gozo cego) e a cabeça-olhar é imóvel são figuras da diferença absoluta, o espaço entre as duas não pode ser transposto, só poderia sê-lo num encontro contingente que aboliria a hiância produzindo um efeito de real.
Brousse nos diz que o um sonho a desperta. Sabermos que os sonhos de angústia fazem despertar, mas ela diz que no seu caso o desejo foi despertado e não a angústia.
No Seminário 10, logo depois que Lacan apresenta a operação de divisão, ele diz que para fazer viva essa abstração, vai ilustrá-la com uma imagem, afirmando que o irredutível do objeto a é da ordem da imagem, e lança mão mais uma vez à tragédia de Édipo em Colono: “Aquele que possuiu o objeto do desejo e da lei, aquele que gozou de sua mãe, Édipo para nomeá-lo, dá esse passo, vê o que fez. […] Um instante depois, seus próprios olhos no chão, inchados por um tumor vítrio, confuso montão de lixo já que por haver arrancado os olhos das órbitas, evidentemente perdeu a vista. No entanto, não é sem os ver, vê-los como tais, como o objeto–causa enfim desvelada, não mais culpa mas fora dos limites, da derradeira concupiscência: aquela de haver querido saber”.
A outra referência é a imagem citada por Brousse em suas associações, o quadro que representa Lucia e Ágata, com seus seios em um prato. Comentando as duas referências, Lacan pergunta-se então qual é o momento da angústia. A imagem de Zurbaran, Lacan diz que são objetos do desejo não são da ordem da angústia. Ele considera que a chave para a angústia, seja qual for a maneira que ela se apresente, não é a oferenda sacrificial, não é a possibilidade de mutilar-se mas é a impossível visão que ameaça Édipo, vinda de seus próprios olhos no chão. A angústia estaria nesse trágico encontro do que está radicalmente separado, fixando o sujeito no horror da presença do objeto.
No Seminário 7,3 Lacan observa que o final de análise de um analista comporta um desarvoramento para o qual a angústia já é uma proteção, não espera, mas expectativa que deixa delinear um perigo, embora não haja perigo na experiência última do desamparo. Onde estaria a diferença entre a angústia no início ou durante a análise e a angústia no final da análise.
A angústia que pode levar o sujeito a procurar análise e que se manifesta, às vezes como pânico, às vezes como inibição no ato, ou só como um aperto no peito, está associada a um desfuncionamento da fantasia. Perdendo sua função de encobrimento da castração, a fantasia desvelaria como horror o objeto em sua pureza e neste caso, a tentativa do sujeito é recuperar a função da fantasia, voltar ao que era antes.
A angústia do final surge depois que houve um trabalho em análise e a angústia é um momento pontual da travessia da fantasia que indica o trágico do encontro com o real. É a expectativa por uma operação já realizada, um momento que precede e anuncia o desejo.
O sonho de Brousse parece se situar num momento posterior ao atravessamento da fantasia, onde o objeto cai, é cedido e dissocia o que a fantasia unia, separa esses dois elementos heterogêneos o corpo e o olhar, gozo e cabeça, corpo e alma, S1 e a, que só podem se unir na contingência, algo que não está escrito necessariamente e que se escreve em uma análise: O que uma análise visa é possibilitar, através da operação da castração, recolocar o objeto a em sua função de causa, retirando o sujeito do desencantamento neurótico para deixá-lo desejar: “Tornar a encantar o mundo, não é o que se realiza em cada sessão de análise?”4
[1] Este sonho está também comentado no texto A Angústia e o mundo encantado da fantasia [Lutterbach Holck,A.L. in Latusa n.8. Revista da EBP-Seção Rio]
2 Brousse,Marie-Hélène. Posición sexual y fin de análisis. Buenos Aires:Tres haches. p. 26 ss
3 “No término da análise didática, o sujeito deve alcançar e conhecer o campo e o nível da experiência do desarvoramento absoluto, a nível do qual a angústia já seria uma proteção, não Abwarten (espera), mas Erwartung (expectativa). A angústia se desdobra deixando perfilar um perigo, embora não haja perigo a nível da experiência última da Hilflosigkeit (desamparo)”. (Lacan, 1959-80/1988:364).
4 Miller,J.-A. (2002-2003) Curso de Orientação lacaniana: Um Esforço de poesia, Lição 11. (inédito)
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