Fórum Lei e violência | 3 de agosto de 2019
Faculdade Nacional de Direito- UFRJ
A opinião comum tende a tomar lei e violência em oposição, desconhecendo que há algo de violento no próprio exercício e manutenção da lei. Para a abordagem desses temas, Freud traz a necessidade de levarmos em conta outro par, lei e desejo, igualmente em oposição relativa e sempre articulados na prática psicanalítica.
Poderiam os psicanalistas, a partir de sua experiência, contribuir com o debate sobre esse tema nas condições de extrema desigualdade e polarização de nossos dias? Pedimos a nossos convidados, com largo percurso nessa incontornável questão, que abordem alguns pontos relevantes para nossa elaboração. A aposta é que possamos, com eles, desenvolver uma interrogação conjunta sobre o modo de participação da psicanálise de orientação lacaniana nesse momento decisivo para a democracia no Brasil. Serão três mesas em que dois convidados nos dirão o que pensam a partir de nossas perguntas.
A comissão Zadig escolheu como título para a primeira mesa Torções da lei. Essa mesa partirá da premissa de que não há lei sem interpretação da lei e vai interrogar: de que modo, então, os diversos ordenamentos jurídicos podem levar a leituras e intervenções opostas, ou mesmo tendenciosas? A partir do modo como a psicanálise lida com a interpretação, teria o analista algo a dizer a respeito?
A segunda mesa, Segregação, violência extermínio, propõe a hipótese de que, quando a segregação se desenrola no plano de uma invisibilidade radical, para o qual o termo “exclusão” parece tímido, é difícil não pensar em uma lógica de extermínio. Queremos avançar no debate sobre a desigualdade que delimita uma população de matáveis, e justifica assassinatos « dentro da lei ». Terá o analista algo a contribuir na discussão a partir do modo como Lacan delimita o objeto paradoxal de uma análise como rebotalho e resto irredutível?
Finalmente, a terceira mesa, Tiranias contemporâneas, vai se desenrolar em torno das seguintes questões: como abordar a ressurgência de um extremismo reacionário no mundo e no Brasil? Qual seria, neste fenômeno, o papel das redes sociais, e da crise da representatividade política? Que alcance teriam, neste contexto, as formulações freudianas sobre o pai, o líder [e o tirano]?
Aguardamos os convocados a este debate pelo convite de Zadig Doces&Bárbaros, com apoio da Escola Brasileira de Psicanálise, a responder à urgência que a forma particular de violência dos nossos tempos impõe.
(Marcus André Vieira)
Movida Zadig Doces&Bárbaros | coordenação: Jésus Santiago.
Fórum Zadig “Lei e violência” | coordenação: Angela Bernardes e Marcus André Vieira
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