20 de maio de 2011 Seminário de Formação Permanente O DEFEITO NO UNIVERSO No próximo dia 25 de maio vamos trabalhar esse texto de Pierre Skriabine, psicanalista francês, nosso convidado para a XVII Jornada da EBP-Ba. que acontecerá em outubro.É um texto sobre a última clínica de Lacan trabalhado pela vertente da topologia, onde o autor afirma que “se existe o Um a falta não está na estrutura da linguagem”, a estrutura não é mais de linguagem, a estrutura não é mais do significante articulado. Ele vai explicar porque a estrutura suporta uma falta, procura demonstrar a causa da falta no Outro. É uma demonstração topológica e matemática muito difícil para quem não tem o domínio da topologia. Sua teorização passa pelo cubo de Necker, pela banda de Moebius, pelo oito interior, pelo cross-cup e pela garrafa de Klein. Skriabine procura demonstrar topologicamente que o nome do Defeito no universo é a Foraclusão generalizada. Pretendemos trabalhar esse texto recortando algumas passagens teóricas para comentá-las a partir da última clínica de Lacan. Qual a relação entre a primeira e a última clínica de Lacan? É a relação entre sentido e real. Da primeira para a última clínica, Lacan opera uma passagem do significante para o signo. E, na Introdução alemã aos Escritos, ele pergunta qual o sentido do sentido? E diz: a resposta para essa questão é o gozo, e volta a perguntar: qual é o signo do signo? Vamos tentar responder a essa questão de Lacan, tentando demonstrar que a foraclusão generalizada é a condição da linguagem que faz surgir o signo como traço significante primário (primären Zug), que sucumbe ao recalque originário, mas não se anula jamais, porque se metaforiza em outro signo – o traço unário (einziger Zug). O traço unário como herdeiro do traço primário, é o Um da estrutura que ex-siste, é signo do real. E, quando um signo se substitui por outro signo, é uma metáfora especial, não há lugar para a produção de sentido, e, sim, de gozo. Reinaldo Pamponet Apresentação – Reinaldo PamponetCoordenação – Paulo GabrielliLocal: Sede da EBP – Rua Comendador Alves Ferreira 60, GarciaTel 3235 9020 e 3235 0080Quarta-feira 25 de maio – 20h00 – 21h30 Ecos da Última Quarta Na última quarta feira, escutamos Analícea Calmon que nos comentou a décima aula do livro Perspectivas do Seminário 23 de Lacan. Em sua exposição ela ressaltou que em 1964 Lacan define o inconsciente como aquilo que dizemos. Essa definição é contemporânea à definição do inconsciente na modalidade da pulsação (Seminário 11). “Acreditamos que dizemos o que queremos, mas dizemos o que os outros quiseram (vem do Outro, do campo da linguagem e seus representantes)”. Alguns tópicos que foram evocados:- A Psicanálise não é como a Filosofia, se atém aos fatos de seu campo de estudo. É incompleta, está pronta para corrigir ou modificar suas teorias. Admite paradoxos, não se enquadra no domínio da ciência. A clínica norteia a teoria. – A Psicanálise faz vacilar os semblantes quando existe como “Psicanálise absoluta”, na perspectiva do Um, fora das conexões. Não deve se contentar na direção do que o Outro quer que digamos. – Todos os fenômenos da crença são da ordem do engano. Todo semblante é da ordem do sentido. – O sinthoma confere um sentido ao real. Anotações: Carla Fernandes A seguir, enviamos um comentário feito por Bernardino Horne Comentario de Bernardino Horne sobre a aula de Analícea Calmon Gostaria de comentar sobre duas questões relacionadas com o excelente e organizado comentário da lição 10 do curso “Perspectivas do seminário 23 de Lacan – O Sinthoma” de J-A. Miller apresentado por Analícea. A primeira questão tem a ver com os paradoxos que levam Lacan a, permanentemente, questionar psicanálise. Analícea cita Freud – em torno de 1922 – onde ele diz que psicanálise é sempre aberta e mutável. Gostaria também de discutir a idéia explicitada no debate sobre a importância do início da análise. Não que isso não tem nenhuma importância senão que, penso, depende do conceito que temos no final de análise. Desde o momento fundador da psicanálise, a estratégia de Freud consistiu em construir a teoria a partir do que a clínica indicava, ou seja, fazer a teoria clínica. Neste sentido, sua grande descoberta foi estabelecer um dispositivo clínico do discurso analítico e, escutando seus pacientes, construir a teoria e, modificá-la na medida em que as evidências clínicas o exigiam. O dispositivo tomou deste modo, o lugar fixo – na verdade é o que perdura desde antes de 1900 – e a teoria tomou o lugar do que é mutável. Lacan tem clareza a respeito do procedimento freudiano e, quando faz sua proposição do retorno a obra de Freud, aos seus fundamentos, se dedica a estudar seus grandes casos clínicos. Recentemente, Miller afirmou que a prática da teoria, como disse Althusser, não tem lugar entre nós analistas e acrescentou que a única coisa que nos interessa é a teoria da clínica. [1] Quando Lacan, em 1967[2], propõe o passe, para dar um nome genérico ao final de análise, permite que diversas formas desse dispositivo possam agrupar-se sob essa denominação. Isto tem grandes vantagens heurísticas, uma vez que permite através do estudo de cada passe, fazer a teoria da clínica do final de análise, propor novas formas de pensar e, teorizá-las. Esta é uma das principais tarefas de nossa Escola, desde quando existem diferentes concepções do conceito de final de análise nos vários grupos analíticos existentes. Assim como o dispositivo analítico é o ponto fixo que permitiu criar a teoria e, ajustá-la dia a dia, o passe funciona como a relação permanente com o final de análise e permite que a teoria do final vá se elaborando e se modificando a partir do estudo de cada passe e das modificações que a teoria vai sofrendo, mudanças que estão, sem dúvida, articuladas ao trabalho sobre os casos clínicos que os Analistas da Escola (AE) nos oferecem. Segundo comentário: Ao ler a lição 10 foi me dando certa ansiedade porque a desconstrução de sua obra, que executa Lacan , e Miller está enfatizando, é tão radical, que eu tinha a sensação de ficar sem nada, sem psicanálise, sem teoria e sem possibilidade de prática. A “psicanálise absoluta”, como é denominada por Miller, nos leva a uma exclusão radical do sentido, uma exclusão total do Outro e ao predomínio do UM que não dá chances à clínica. Elimina a transferência e nos conduz à idéia do analista totalmente mudo. Neste momento, para meu alívio, aparece a idéia de um hiância, uma clivagem entre a teoria psicanalítica e prática. Na neurose, « parte-se do UM mergulhado no Outro e os semblantes que estão veiculados vacilam e se evacuam, até que o sujeito tenha acesso ao seu falar para si mesmo, ao autismo de seu discurso ». Neste sentido Miller desenha a neurose como o mergulho do UM no campo do Outro e, a psicose como mergulho do Outro no campo Um. A citação de Analícea se encontra no Volume XVIII das Obras Completas de Sigmund Freud, no tópico intitulado “Dois verbetes de Enciclopédia” no final do capítulo, onde há uma afirmação que menciona que a psicanálise pode falar com clareza de seus conceitos mais gerais, mas seus postulados são provisórios. Ela deixa as definições mais precisas deles para os resultados do trabalho futuro. E assim termina essa parte dedicada à psicanálise, que começa definindo-a como: 1)-Um procedimento para a investigação dos processos mentais.2)-Um método de tratamento3)-Uma coleção de informações psicológica obtidas ao longo de ambas as linhas criadas e que gradualmente se acumulam numa nova disciplina científica. ANOTEPROGRAMAÇÃO DA EBP-BAHIA PARA MAIO E JUNHO(Até o ENAPOL) 25/05: SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO PERMANENTEComentário de Texto: A Falha no universo (primeira parte)Autor: Pierre SkriabineApresentação: Reinaldo PamponetCoordenação: Paulo Gabrielli 01/06: Seminário de Orientação LacanianaTexto: lição 11 e 12 do livro “Perspectivas do seminário 23”Autor: J-A. MillerApresentação: Nora GonçalvesCoordenação: Analícea Calmon 08/06: Seminário de Formação PermanenteComentário de Texto: A Falha no universo – continuação da Primeira parte ou Segunda parte (a definir).Autor: Pierre SkriabineApresentação: Mario NascimentoCoordenação: Reinaldo Pamponet
[1] Intervención de Miller en las Jornadas de Otoño de la ECF, 2006
[2] Jacques Lacan, “Proposición del 9 de octubre de 1967 sobre el analista de la Escuela”Autres Ecrits
[1] Intervención de Miller en las Jornadas de Otoño de la ECF, 2006