@DDito 9
Boletim da XVII Jornada da EBP-MG
Enviem suas contribuições para a Comissão Científica da XVII Jornada da EBP-MG
Caro leitor,
Se você ainda não finalizou a sua contribuição para a XVII Jornada, ainda é tempo! A Comissão Científica estará recebendo trabalhos no período do dia 1º ao dia 20 de agosto, através do e-mail [email protected].
Pensando naqueles que já estão a trabalho, e também nos que começarão a redigir seus trabalhos nos próximos dias, trazemos neste número duas inestimáveis contribuições ao debate sobre a política da psicanálise na era do direito ao gozo.
Celso Rennó Lima tece suas considerações sobre a célebre inversão de perspectiva operada por Lacan no Seminário 14, A lógica da fantasia: ao invés de “a política é o inconsciente”, Lacan afirma que “o inconsciente é a política”. Acompanhando e comentando uma instigante entrevista com Jacques-Allain Miller realizada em 2003, analisa o impacto do declínio da função paterna e do discurso do capitalismo sobre o inconsciente, e sobre a política. O que mudou com a globalização? Confira neste número de @DDito!
Cristina Drummond também parte de uma assertiva, desta vez, proferida por Jacques-Alain Miller, no contexto de uma conversação sobre o autismo ocorrida em junho de 2012: “Todo mundo é autista!”. O referido autismo aponta para o que, do gozo, estará sempre em desacordo com os ideais da cultura, e implica que cada um tenha que inventar sua própria fórmula para fazer laço social. Enquanto os protocolos psicológicos e psiquiátricos uniformizam e proliferam aos borbotões, apagando o sujeito, a política da psicanálise implica em enfrentar o autismo de cada um.
Boa leitura!
Estamos esperando o seu trabalho!
Lucíola Freitas de Macêdo
P/ Equipe Editorial de @DDito.
FLASH
Flash das contribuições dos colegas Celso Rennó e Cristina Drumond.
Os textos, na íntegra, encontram-se em: www.jornadaebpmg.blogspot.com.br
« O Inconsciente é a política »
Celso Rennó Lima
Quando Lacan, em seu seminário sobre a “Lógica da fantasia” nos diz não afirmar que “a política é o inconsciente”, mas sim que “o inconsciente é a política” ele abre um novo espaço levando em consideração os efeitos que se faziam incidir, sobre sua época, do declínio da função paterna e das consequências do “discurso do capitalismo” que fazem chegar o objeto ao zênite de nossa cultura.
(…)A psicanálise mudou o mundo, nos diz Miller em “Lacan e a Política”, pela via da transformação dos costumes e dos valores morais. Ao levantar o véu do recalque estabeleceu o “reconhecimento e aceitação da carne”, ou seja, a necessidade de satisfação das pulsões. Se isto falta, o que vai surgir é o mal-estar, a neurose, os sintomas.
É neste ponto que o capitalismo se aproveitou para oferecer uma satisfação na figura de substitutos comercializáveis do objeto a, do prazer imediato, dos corpos esvaziados que se prestam a uma troca na crença de fazerem existir a relação sexual.
« Todo mundo é autista »
Cristina Drumond
(…) Pensar que o discurso poderia tomar como ponto de partida o real é, diz Miller, o pensamento radical do Um-dividualismo moderno. Assim, a oportuna leitura desse seminário de 70-71 nos traz luzes sobre essa ideia de Lacan a respeito da ordem simbólica que tem como manifestação sintomática central as adições, índices desse autismo do gozo do Um reiterado infinitamente. É importante distinguir repetição e iteração: enquanto que a iteração é um “é isso”, onde há uma supressão do Outro, a repetição é a diferença em si mesma, ela é da ordem de um “não é isso”.
(…) A manutenção do discurso analítico que o discurso da ciência insiste em tentar fazer desaparecer depende dessa aposta na contingencia e na invenção, em oposição às soluções estandardizadas e aos protocolos universalizantes que apagam o sujeito. A política da psicanálise implica, portanto, enfrentar o autismo de cada Um.