Neste número:
Efeitos de uma presença orientada – Esthela Solano-Suarez
Psicanálise « líquida » – Romildo do Rêgo Barros
Contingência e impossível na prática da psicanálise – Maria do Rosário do Rêgo Barros
« Nós inventamos a felicidade! » (sobre Nietzsche e Jacques-Alain Miller) – Manoel Barros da Motta.
Editorial
Latusa 35 conclui o ano 5 de suas publicações com quatro textos que versam sobre questões pungentes da psicanálise, apresentadas e desenvolvidas por Jacques-Alain Miller em seu Curso de orientação lacaniana de 2007-2008, dentre as quais os conceitos de contingência e de interpretação se destacam.
Esthela Solano extrai ensinamentos da apresentação de relatos de tratamentos da criança autista, cuja posição de isolamento ela define como fora do discurso, do laço social, e ausência de desejo. Ela demonstra como o lugar da contingência, da não relação sexual, foi condição para o tratamento e como o trabalho realizado com cada criança revelou a presença de um analista leitor que fez o significante assemântico passar por um processo de leitura, o que desembocou finalmente em efeitos de sentido.
Romildo explora as conceituações millerianas de “psicanálise liquida” e de “psicanálise sólida” e acrescenta que as noções de “sólido” e de “líquido” são relativas e não absolutas. Nesse contexto, Romildo localiza o conceito de interpretação a partir do momento em que a decifração declina, trazendo a questão da interpretação relacionada ao inconsciente estruturado como uma linguagem poder ganhar uma outra forma. Sublinha também a interpretação em relação ao inconsciente como um “um saber fazer com a lalíngua”, e aqui, ele diz, a tarefa compete, sobretudo, ao analisando.
Maria do Rosário relaciona “psicanálise sólida” e “psicanálise líquida” no que toca ao tratamento analítico. Ela esclarece que é preciso ao analista operar a partir do real próprio à psicanálise: a não relação sexual que articula a contingência ao impossível e dá outra dimensão à articulação da contingência com o necessário, que é um dos aspectos do inconsciente sob transferência.
Manoel Motta nos brinda com esclarecimentos sobre as conceituações de Nietzsche de “último homem” e de “super-homem”. O último homem “é uma imagem ou uma caricatura do homem moderno, do homem do presente que se gaba do que lhe traz felicidade”. Ele ressalta que Miller situa esse mundo descrito por Nietzsche como sendo aquele do não desejo, uma vez que o desejo depende sempre de um elemento não homogêneo, ao passo que a demanda é sempre relacionada à quantidade. Por outro lado, com o “super-homem não se trata de uma equalização para um modelo ideal, mas de um desafio que se expressa em um estado lúdico e criativo de autossuperação”.
Editora de Latusa