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ATUALIDADE SAÚDE MENTALpor Carole Dewambrechies-La SagnaPodemos evitar as rupturas e os conflitos?
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CRÔNICA
ATUALIDADE SAÚDE MENTAL
por CaroleDewambrechies-La Sagna Podemos evitar as rupturas e os conflitos?Apresentei recentemente aos leitores de LQ (1), a proposta de evitar rupturas, como recomendação do Ministério da Saúde. Relembro o contexto: foi criado um comitê de orientação do planejamento da saúde mental no período 2011-2015, o Ministério apresentou os eixos estratégicos que se baseiam na recomendação principal de “reduzir e prevenir as rupturas “.A idéia subjacente a estas recomendações pouco claras poderia ser a de que se devem evitar ao máximo as rupturas relativas aos pagamentos dos pacientes. Isto não é suficiente, pois como podemos cobrar alguém que não está presente? Evitando a ruptura geográfica. Como cobrar continuamente aqueles que estão? Evitando a ruptura temporal. Como cobrar aqueles que não se sentem doentes? Explicando à sociedade que as doenças psiquiátricas não são graves e não devem preocupar ninguém: podemos então solicitar um tratamento psi, da mesma maneira que pedimos um antálgico para tratar uma dor nas costas. É bom para todos. Para convencer os pacientes disto, os teóricos devem se apresentar com uma imagem pacificada e não apaixonada por eles mesmos: evitando as querelas teóricas dos pesquisadores ou dos clínicos. Ao se colocar em acordo a respeito das praticas consensuais e com as teorias aceitáveis ou já aceitas, seremos mais bem vistos e melhor compreendidos pelo público, e consequentemente pelos pacientes e futuros pacientes. E, Freud se este principio tivesse sido proposto antes, ele provavelmente não teria inventado a psicanálise ou não poderia valorizá-la por aqueles capazes de evitar conflitos. Já que atrás do termo ruptura como sendo o nome daquilo que deve ser evitado inclui o termo conflito que dá outra tonalidade à recomendação do Ministério.A doença mental nasce de um conflito? Se assim for, como ele poderia ser evitado?Freud se dedicou muito a responder esta questão atribuindo ao conflito o nascimento da neurose: conflito de desejos, conflito entre uma pulsão que exige sua satisfação e um ideal que recusa, conflito entre um sujeito e sua família, entre um ser humano e a sociedade que pede cada vez mais renuncias da parte dele. É desta maneira que o sintoma psicanalítico traz desde sua origem a marca do conflito. É desta forma que Freud pode dizer que o sintoma analítico é ora sinal, ora satisfação substituta de uma pulsão que não se realizou. (2)Freud estende esta consideração ao campo das psicoses: há três grandes tipos de doenças segundo as instâncias conflitivas: “a neurose de transferência que corresponde ao conflito entre o eu e o isso, a neurose narcísica cujo conflito se dá entre o eu e o super eu, na psicose conflito entre o eu e o mundo exterior” (3)A origem do conflito poderia ser evitada? As instâncias, eu, isso e supereu, podem ficar em paz? Por existir a linguagem esta ilusão não pode ser vislumbrada. O conflito entre as instâncias é também o que faz com que o sujeito apareça, é também aquilo que faz com que ele possa se utilizar de seu inconsciente para se orientar em sua existência. Poderia a sociedade ser mais permissiva? Alguns teóricos se apóiam nesta via, sem sucesso uma vez que a falha de que se trata é aquela que separa um corpo de seu gozo, que separa um ser falante daquela que seria sua satisfação.O conflito ao contrário é operatório, produtivo constituinte de uma subjetividade. O conflito é o pai de todas as coisas dizia um filosofo grego antigo. Nada acontece sem oposição, se colocar é o mesmo que se opor e isto vale para todos os sujeitos, doente mental ou não, se nós queremos deixar de ter o déficit como referência para a psicose e para a mentalidade. O conflito está sempre presente, a questão é saber nos termos de Freud “em quais circunstâncias e através de quais meios o eu consegue escapar destes conflitos, sempre presentes, sem cair doente.O novo plano de Saúde Mental previsto para dezembro 2011: vamos nos preparar então para responder a ele defendendo as rupturas frutíferas e fecundas, o conflito dialético e dinâmico contra a obediência, o assujeitamento e o pseudo consenso teórico. A psicanálise reconhece o conflito como força da doença: cabe a nós explicarmos que o conflito não deve ser erradicado: isto seria o reinado da pulsão de morte que se infiltra no silêncio. _____________________________________________________________________________________________(1) « Pas de rupture pour une bonne santé mentale », in Lacan Quotidien n°80, publié le 6.11.11, lire l’ ar tic le . (2) Freud, S. “Inibições, Sintomas e Ansiedade” (1926). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1976.(3 ) Freud S., Névrose, psychose et perversion, PUF, Paris, 1974.