Eixo 5 – Corpo e tecnociência no Século XXI
Contribuições para o debate Escrevem Samuel Basz e José Fernando Velásquez
Os textos de Samuel Basz e de José Fernando Velásquez, que lhes apresentamos hoje, respondem claramente à perspectiva de trabalho proposta pelo quinto eixo elaborado pela comissão científica do Enapol.
Cada um, à sua maneira, percorre com precisão alguns dos temas do amplo espectro que ali se aborda.
Velásquez destaca como a política de mercado e a tecnociência, apostando encontrar no mapeamento neuronal as causas das ações humanas, aspiram reduzir o homem a um « animal consumidor ».
A partir daí, o texto percorre o que diferentes escolas de pensamento disseram a esse respeito, para se interrogar sobre o lugar da psicanálise nesse concerto.
O artigo de Samuel Basz, de certa forma, dá a resposta a essa aspiração. Percorrendo diferentes práticas nas quais o corpo fala, destaca que em psicanálise quem fala não o faz a não ser com o corpo, propondo aí considerar o ar um objeto pulsional. As razões para isso constituem o próprio artigo; de modo que não os reteremos mais.
Leitura à obra!
O ar, como objeto, causa o corpo com que se fala Samuel Basz – EOL Buenos Aires
No corpus clínico da medicina, o corpo fala. Não somente nos signos obtidos do organismo, mas no questionário semiológico que inclui um instrumento maior: o interrogatório. Não deixa de ser um pedido ao paciente para que fale; mas trata-se de uma demanda orientada à objetivação dos sintomas do corpo, isto é, a reduzi-los –de acordo com a exigência de cientificidade‒ o mais possível ao seu núcleo fisiopatológico.
Outras práticas sociais (artísticas, divinatórias, ideológicas, psicoterapêuticas) constroem, cada uma à sua maneira, um código que permite saber o que diz o corpo que fala.
Na psicanálise, o corpo não é um corpo que fala, porém quem fala em uma análise não o faz sem o corpo.
E é aqui, precisamente em sua articulação com o falar, que convém considerar o ar como objeto pulsional.
Objetando as objeções de Jones, apoiando as intuições de Otto Rank em « O trauma do nascimento »; valorizando o significado fundador do ruah, (1) Lacan, especialmente nas últimas aulas do Seminário sobre a angústia, não deixa de indicar a pertinência objetal do ar.
É necessário considerar seu estatuto metapsicológico como núcleo real do Eu ‒corporal‒, e, econômico, como objeto pulsional referido a uma borda libidinal específica, para poder fundamentar que se o falasser não fala sem o corpo é ao preço de produzir o ar como objeto.
A linguagem, enquanto estrutura, é um verdadeiro aparelho de gozo que instala um regime regulador com que intervém a alíngua. Inscritas nesse regime, as cordas vocais vibram de prazer, trabalhando para o senhor estruturante…
O ganho de satisfação do exercício de alíngua é um resto irredutível que acompanha toda emissão de palavra. Toda emissão de palavra é pulsional, na medida em que há satisfação na alteração, na interrupção do ritmo respiratório basal (em silêncio e em repouso), que necessariamente acompanha o falar.
Esse ritmo respiratório, mediado pelo exercício efetivo da palavra falada, é a condição estrutural para que, o mesmo, esteja disponível para ser afetado pelo simbólico e pelo imaginário.
O suspense do thriller, o do jogador no cassino, o da espera de uma iminente interpretação do analista, o suspense ligado ao diálogo amoroso, são testemunhas do estatuto do ar como objeto (no suspense « a respiração é cortada »).
As fantasias de emparedamento, a excitação sexual com apneia provocada, as claustrofobias, as descargas satisfatórias do bocejo, as fantasias de afogamento, o suspiro, a respiração vital, o sopro vital, o uso do afogamento nas práticas de tortura, a angústia concomitante da dispneia, e a dispneia concomitante da angústia… sempre implicam, para a psicanálise, acontecimentos de corpo.
O ar, captado em sua condição de objeto, é um resto da operação metafórica, pela qual o organismo é substituído pelo corpo. Inscreve-se como objeto de angústia, fazendo com que o falar, a emissão de voz, não emerja senão de um corpo libidinal.
Este é o corpo que o sujeito pode ter, o corpo com o qual se fala e se goza, onde os acontecimentos de corpo podem não ser uma variável deslocada e sofrida do organismo.
Tradução: Elizabete Siqueira
1. NT: « significa vento, ou ainda fôlego, se quiserem, nuvem, coisa que se apaga… » (Lacan, J. Sem. 10, p.358).
Sobre o debate filosófico e científico em torno do corpo que fala José Fernando Velásquez – NEL Medellín
Barack Obama anunciou recentemente que o seu governo vai investir mais de três bilhões de dólares na próxima década no projeto para mapear a atividade cerebral a nível celular. O objetivo do projeto é entender mais profundamente « as causas das ações humanas e, claro, ganhar o prêmio principal da neurociência: compreender a consciência ». (1)
A reflexão sobre as manifestações corporais que estão envolvidas nas ações de um ser humano encontra imediatamente uma referência à neurociência. Não há nada mais natural para um ser humano que o seu corpo e as suas realidades de crescimento, doença, sexualidade e morte. O debate filosófico sobre o corpo e o chamado « mental » pode ser levantado como uma questão: como é possível explicar os fenômenos psíquicos ou subjetivos a partir de estados e eventos corporais?
Várias têm sido as escolas de pensamento neste ponto: um dos fundamentos é que Descartes concebeu a mente como uma entidade cuja natureza é o pensamento e tudo o mais é para ele uma substância material. Este dualismo material é o que Gilbert Ryle denunciou como « o dogma do fantasma na máquina »: a alma ou a mente imaterial (o fantasma) que vive no corpo controla os comandos do corpo material (a máquina). (2) Contrário à posição dualista de Descartes, a maior parte da ciência contemporânea tem escolhido uma explicação monista: o fisicalismo também insiste que a mente, as idéias e os sentimentos ou emoções devem inscrever-se no âmbito do físico, afirmando que os fenômenos psíquicos são idênticos aos fatos e processos cerebrais, e acreditam assim na filosofia de arrebatar seu domínio especulativo sobre a consciência do homem. O sistema nervoso se interpreta como se fosse um sistema computacional complexo que transforma a informação em estados bioquímicos e celulares, que por sua vez altera o sistema produzindo neurotransmissores e novas proteínas e também modificando os estados funcionais, tais como o sono, a ansiedade e o humor . Essa corrente chegou a especulação de supor que os seres humanos podem ser melhorados artificialmente, negligenciando a educação e o apoio social. Também se chega ao reducionismo, como estamos acostumados, por parte de certos cientistas, que promovem manchetes como « Temos a felicidade programada no DNA », (3) « Foi encontrado o gene da preguiça » ou « Se nasce homossexual ». Parecem noções ingênuas que se espalham e circulam no discurso social aumentando a consideração biologista da natureza humana, enquanto alguns entusiastas tratam de encontrar em algum lugar do cérebro, o lugar da consciência.
Spinoza, por sua vez, disse que o dualismo se refere não a substância, mas sim as propriedades: a um mesmo sujeito pode ser atribuído propriedades mentais e físicas, mas esses atributos são diferentes e os termos para analisa-los não são intercambiáveis. Esta é a base do humanismo. O que se ressalta é o caráter subjetivo da experiência, o « modo » determinado com que o indivíduo, diferente de outros, subjetiva uma determinada situação. Presumimos que os outros desfrutam de uma vida interior de pensamentos, emoções e satisfações muito semelhantes aos nossos, mas duas pessoas podem reagir ou experimentar de maneira singular uma mesma percepção. Um exemplo disto é a estética: cada ser falante, a seu modo, tem ações determinadas por uma concepção estética singular. O emocional se acomoda a parâmetros que também estão mais além do modelo genético ou neuronal. Os humanistas, como os positivistas, também caem no extremo de considerar que mais além de nossa « natureza natural », temos uma « natureza sobrenatural ». (4)
No debate filosófico contemporâneo somou-se Alan Turing, o pai da informática, e outros defensores da Inteligência Artificial, que sustentam a visão de que a tecnologia pode tornar-se autônoma, de que computadores devidamente programados desenvolvem uma forma de pensamento inteligente que, por sua vez, geram a sua própria realidade, tal como recriou o filme Matrix. Outros, ao contrário, como John Searle, consideram que por mais sofisticado que seja um computador, ele não deixa de ser mais um manipulador de signos essencialmente sintático, mas que não pode compreender a dimensão semântica. Nesta perspectiva do debate perguntamo-nos de forma especulativa: na Matriz, onde está o corpo pulsional? Qual lugar para o acontecimento sintomático?
O contexto social contemporâneo é particularmente semelhante ao descrito em Matrix: o mercado emite seus cantos de sereia e o sujeito fica aprisionado ao seu destino. Qualquer experiência, sentimento, emoção, sociedade, tem um preço que alguém hoje está disposto a pagar; a evolução nos levou a ser o « animal consumidor compulsivo » e pelo mecanismo da seleção natural, os indivíduos que são mais consumidores serão aqueles capazes de passar mais genes para a próxima geração, em detrimento de outros menos eficazes.
À medida que mais entramos neste real sem lei, o que observamos é que surgem novos sintomas nesse « animal consumidor », sintomas que parecem não poder ser interpretados por esse mesmo sujeito. O que vemos é que, em muitos casos contemporâneos, o sintoma não é um sintoma próprio, mas de Outro. O sintoma não acontece na Matriz, mas sim nos sujeitos que emprestam seus corpos para que a Matrix se inscreva neles. Os corpos abusados, os corpos sobrecarregados, os corpos em situação de risco, os corpos do sintoma que não falam como as fibromialgias, os corpos consumidores de medicamentos sem os quais estão literalmente condenados a incapacidade, etc.
Nossa participação neste debate se orientará pela pergunta: Como é que estas considerações se veêm redirecionadas a partir do conceito psicanalítico do gozo do chamado parlêtre?
Tradução: Eduardo Benedicto
1. Revista Arcadia, Nº 90, 15 de março a 11 de abril de 2013, Semana S.A., Bogotá, p. 12.
2. Dupré, B., 50 cosas que hay que saber sobre filosofía, Ariel, Madri, 2010, p. 33.
3. Diario El Tiempo, 23 de fevereiro de 2013.
4. Botero, J., « Nuestra naturaleza », Revista Arcadia, Nº 90, 15 de março a 11 de abril de 2013, Semana S.A, Bogotá, pp. 18-19.
Eje 5 – Cuerpo y tecnociencia en el Siglo XXI
Contribuciones para el debate Escriben Samuel Basz y José Fernando Velásquez
Los textos de Samuel Basz y José Fernando Velásquez que les acercamos hoy responden claramente a la perspectiva de trabajo que plantea el quinto eje elaborado por la comisión científica del Enapol. Cada uno, a su modo, recorre con precisión algunos de los temas del amplio espectro que allí se aborda.
Velásquez destaca cómo política de mercado y tecnociencia, apostando a encontrar en un mapeo neuronal las causas de las acciones humanas, aspiran a reducir al hombre a un « animal consumidor ». Desde allí, el texto recorre lo que distintas escuelas de pensamiento han dicho al respecto para interrogarse por el lugar del psicoanálisis en ese concierto.
El artículo de Samuel Basz de alguna manera da respuesta a esa aspiración. Recorriendo distintas prácticas en las que el cuerpo habla, destaca que en psicoanálisis quien habla no lo hace sino con el cuerpo, proponiendo considerar allí al aire como objeto pulsional. Las razones para ello constituyen el artículo mismo; así que, no los demoramos más.
¡Lectura a la obra!
El aire, como objeto, hace al cuerpo con el que se habla Samuel Basz – EOL Buenos Aires
En el corpus clínico de la medicina, el cuerpo habla. No solo en los signos que se obtienen del organismo, sino en la indagación semiológica que incluye un instrumento mayor: el interrogatorio. No deja de ser una solicitación al paciente para que hable; pero se trata de una demanda orientada a objetivar los síntomas del cuerpo, es decir a reducirlos –como conviene a la exigencia de cientificidad‒ lo más posible a su núcleo fisiopatológico.
Otras prácticas sociales (artísticas, adivinatorias, ideológicas, psicoterapéuticas) construyen, cada una a su manera, un código que permite saber qué es lo que dice el cuerpo que habla.
En el psicoanálisis el cuerpo no es un cuerpo que habla, pero quien habla en un análisis no lo hace sino con el cuerpo.
Y es aquí, precisamente en su articulación con el hablar, que conviene considerar al aire como objeto pulsional.
Objetando las objeciones de Jones, apoyando las intuiciones de Otto Rank en « El trauma de nacimiento »; valorando el significado fundante del ruaj, Lacan, especialmente en los últimos cursos del Seminario sobre la angustia, no deja de indicar la pertinencia objetal del aire.
Es necesario considerar su estatuto metapsicológico como núcleo real del Yo ‒corporal‒, y económico como objeto pulsional referido a un borde libidinal específico, para poder dar razón de que si el parlêtre no habla sin el cuerpo es al precio de producir al aire como objeto.
El lenguaje, en tanto estructura, es un verdadero aparato de goce que instala un régimen regulatorio con el que interviene a lalangue. Inscriptas en ese régimen, las cuerdas vocales vibran de placer trabajando para el amo estructurante…
La ganancia de satisfacción del ejercicio de lalangue es un resto irreductible que acompaña toda emisión de palabra. Toda emisión de palabra es pulsional en tanto hay satisfacción en la alteración, en la interrupción, del ritmo respiratorio basal (en silencio y en reposo), que necesariamente acompaña el hablar.
Ese ritmo respiratorio intervenido por el ejercicio efectivo de la palabra hablada es la condición de estructura para que ese ritmo esté disponible para ser afectado por lo simbólico y lo imaginario.
El suspenso del thriller, el del jugador en el casino, el de la espera de una inminente interpretación del analista, el suspenso ligado al diálogo amoroso, testimonia del estatuto del aire como objeto (en el suspenso se « corta el aliento »).
Las fantasías de emparedamiento, la excitación sexual con apnea provocada, las claustrofobias, las descargas satisfactorias del bostezo, los fantasmas de ahogo, el suspiro, el aliento vital, el soplo vital, el uso del ahogo en las prácticas de tortura, la angustia concomitante de la disnea y la disnea concomitante de la angustia… siempre implican, para el psicoanálisis, acontecimientos de cuerpo.
El aire, captado en su condición de objeto es un resto de la operación metafórica por la que el organismo es sustituído por el cuerpo, y se inscribe como objeto de angustia haciendo que el hablar, la emisión de voz, no emerja sino de un cuerpo libidinal.
Este es el cuerpo que el sujeto puede tener, el cuerpo con el que se habla y se goza donde los acontecimientos de cuerpo pueden no ser una variable dislocada y tormentosa del organismo.
Sobre el debate filosófico–científico entorno al cuerpo que habla José Fernando Velásquez – NEL Medellín
Recientemente Barack Obama anunció que su gobierno invertirá más de 3 mil millones de dólares en la próxima década en el proyecto que busca mapear a escala celular la actividad del cerebro. El propósito del proyecto es entender a fondo « las causas de las acciones humanas y, desde luego, conquistar el premio gordo de la neurociencia: comprender la conciencia ». (1)
La reflexión sobre las manifestaciones corporales que se implican en las acciones de un ser humano encuentra inmediatamente una referencia a la ciencia neurológica. No hay nada más natural para un ser humano que su cuerpo y sus realidades por crecimiento, enfermedad, sexualidad o muerte. El debate filosófico sobre el cuerpo y lo llamado « mental » puede plantearse como una pregunta: ¿cómo es posible explicar los fenómenos psíquicos o subjetivos a partir de estados y acontecimientos corporales?
Varias han sido las escuelas de pensamiento en este punto: uno de los fundamentos es Descartes quién concibió lo mental como una entidad cuya naturaleza es el pensamiento y todo lo demás para él es sustancia material. Este dualismo material es lo que Gilbert Ryle denunció como « El dogma del fantasma en la máquina »: el alma o la mente inmaterial (el fantasma) que vive en el cuerpo, controla los mandos del cuerpo material (la máquina). (2) Contrario a la posición dualista de Descartes, la mayor parte de la ciencia contemporánea ha optado por una explicación monista: el fisicalismo insiste en que también la mente, las ideas y los afectos o emociones deben inscribirse en el ámbito de lo físico, afirmando que los fenómenos psíquicos son idénticos a los hechos y a los procesos cerebrales, y creen así arrebatar a la filosofía su dominio especulativo sobre la conciencia del hombre. El sistema nervioso se interpreta como si fuese un sistema computacional complejo que transforma información en estados bioquímicos y celulares, el que a su vez altera el sistema produciendo neurotransmisores y nuevas proteínas, y también modificando los estados funcionales como el sueño, la ansiedad, el ánimo. Esta corriente ha llegado a la especulación como la de suponer que los seres humanos podemos ser mejorados de manera artificial, dejando de lado la educación y el soporte social. También se llega al reduccionismo como aquel al que nos tienen acostumbrados ciertos científicos a los que se les da lugar en titulares de prensa como « Tenemos la felicidad programada en el ADN », (3) « Se descubrió el gen de la pereza », o « El homosexual nace ». Parecen nociones ingenuas que se difunden y se ponen a circular en el discurso social aumentando la consideración biologista de la naturaleza humana, mientras que algunos entusiastas tratan de encontrar en alguna parte del cerebro, el lugar de la conciencia.
Spinoza por su parte sostuvo que el dualismo se refiere no a las sustancias sino a las propiedades: a un mismo sujeto pueden atribuírsele propiedades mentales y físicas, pero estos atributos son diferentes y los términos para analizarlos no son intercambiables. Esta es la base del humanismo. Lo que se resalta es el carácter subjetivo de una experiencia, el « modo » determinado para que ese individuo, diferente a otro, subjetive una situación dada. Damos por sentado que otros disfrutan de una vida interior de pensamientos, afectos y satisfacciones muy parecidos a los nuestros, pero dos personas pueden reaccionar o experimentar de manera singular una misma percepción. Un ejemplo de ello es lo estético: cada ser hablante, a su modo, tiene acciones determinadas por una concepción estética singular. Lo emocional se acomoda a parámetros que también están más allá del modelo genético o neuronal. Los humanistas, como los positivistas también caen en el extremo de considerar que además de nuestra « naturaleza natural », tenemos una « naturaleza sobrenatural ». (4)
Al debate filosófico contemporáneo se sumó Alan Turing, el padre de la informática, y otros defensores de la Inteligencia Artificial, quienes sostienen la tesis de que la tecnología se puede volver autónoma, de que las computadoras debidamente programadas desarrollan una forma de mentalidad inteligente que a su vez genera su propia realidad, tal y como nos lo recreó la película The Matrix. Otros, por el contrario, como John Searle, consideran que por más sofisticado que sea una computadora ella no deja de ser un manipulador de signos esencialmente sintáctico, pero que no puede comprender la dimensión semántica. En esta perspectiva del debate nos preguntamos en forma especulativa: en la Matriz, ¿dónde queda el cuerpo pulsional?, ¿qué lugar para el acontecimiento sintomático?
El contexto social contemporáneo es particularmente similar al descrito en The Matrix: el mercado emite sus cantos de sirena y el sujeto queda atrapado en la fatalidad. Cualquier experiencia, sentimiento, emoción, pertenencia, tiene un precio que alguien hoy está dispuesto a pagar; la evolución nos ha conducido a ser el « animal consumidor compulsivo » y por el mecanismo de selección natural, los individuos que son más consumidores serán aquellos capaces de pasar más genes a la siguiente generación en detrimento de otros menos eficaces.
A medida que más nos adentramos en ese real sin ley, lo que observamos es que surgen nuevos síntomas en ese « animal consumidor », síntomas que parecieran no poder ser interpretados por el mismo sujeto. Lo que vemos es que en muchos casos contemporáneos, el síntoma no es un síntoma propio, sino de Otro. El síntoma acontece no en la Matriz sino que los sujetos prestan sus cuerpos para que el síntoma de la Matriz se inscriba en ellos. Los cuerpos del maltrato, los cuerpos de las sobredosis, los cuerpos expuestos al riesgo, los cuerpos del síntoma que no habla como las fibromialgias, los cuerpos consumidores de medicamentos sin los cuales están literalmente condenados a la incapacidad, etc.
Nuestra participación en este debate se orientará por una pregunta: ¿Cómo estas consideraciones se ven re-direccionadas a partir del concepto psicoanalítico del goce del llamado parlêtre?
1. Revista Arcadia, Nº 90, 15 de marzo al 11 de abril de 2013, Semana S.A., Bogotá, p. 12.
2. Dupré, B., 50 cosas que hay que saber sobre filosofía, Ariel, Madrid, 2010, p. 33.
3. Diario El Tiempo, el 23 de febrero de 2013.
4. Botero, J., « Nuestra naturaleza », Revista Arcadia, Nº 90, 15 de marzo al 11 de abril de 2013, Semana S.A, Bogotá, pp. 18-19.
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