VIII Colóquio da EBP – A psicanálise aplicada à terapêutica Com a participação de 181 inscritos realizou-se nos dias 22 e 23 de agosto, em Salvador, o VIII Colóquio da EBP – A psicanálise aplicada à terapêutica. Um produtivo debate se estabeleceu a partir das contribuições dos colegas Jesus Santiago e Marcus André Vieira na primeira mesa de trabalho (Controvérsias dos CPCTs), após a abertura realizada por Leonardo Gorostiza – em uma vídeo-conferência diretamente de Buenos Aires (O tempo dos Centros de Atendimento na AMP-América) – e por Iordan Gurgel (A Clínica e a Política dos Centros de Atendimento). Com a participação de Hugo Freda, que fez uma conferência sobre O que o CPCT? e participou ativamente das discussões dos 14 trabalhos apresentados, constatamos a riqueza do trabalho que a Escola Brasileira de Psicanálise e as Clínicas dos Institutos do Campo freudiano no Brasil vem realizando em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Paraíba aplicando a psicanálise à terapêutica em diversos dispositivos institucionais. A seguir apresentamos um resumo dos temas abordados nas quatro mesas de apresentação de casos clínicos. Iordan Gurgel MESA I – Consulta e Encaminhamento – Simone Souto As consultas orientam-se pelo encontro com o real do gozo. Nesse sentido, o mais importante, o que é fundamental nas consultas, é poder localizar os pontos de fixação de gozo do sintoma. São esses pontos que irão orientar as manobras e as intervenções do analista. Essas intervenções podem ser resumidas em duas operações: 1) localização do gozo; 2) separação e/ou redução Para isso, é preciso que o analista possa intervir de maneira decidida, fazendo uso do semblante para tratar o gozo. Fazendo-se, por exemplo, de sujeito ou de mestre, ele poderá promover um deslocamento que vai do significante ou da teoria que um paciente tem sobre seu sintoma, à satisfação em jogo nesse mesmo sintoma, o que pode possibilitar a continuação do tratamento ou não. Sendo assim, é necessário que o analista seja experiente, que ele tenha uma formação sólida, o que significa que ele mesmo tenha podido, através de sua análise, identificar esses pontos de fixação em sua própria experiência. Aquele que faz a consulta deverá transmitir ao praticante responsável pelo tratamento, essa delimitação precisa, feita nas primeiras consultas, no que diz respeito ao problema de gozo em jogo em cada caso. É, também, através de sua intervenção, que o analista pode introduzir, desde a consulta, o amor, amor à palavra. Isso se dá através da mudança de discurso que pode advir como efeito de uma intervenção e, também, a partir da percepção de que aquilo que se diz pode significar uma outra coisa. Portanto, é desde o início, é desde as consultas que, separando as coisas no interior do discurso, um tratamento poderá advir. MESA II – Clínica e Transferência – Fátima Sarmento Há o momento da consulta e do tratamento. A consulta por si mesma deve funcionar como tratamento ao cumprir o seu papel de identificar o ponto de fixação de gozo do sintoma. Nessa direção, a consulta orienta o tratamento. O CPCT é o encontro possível do sujeito com o analista. Há um antes e um depois desse encontro. Encontrar um analista produz efeitos diferentes. O amor à palavra é necessário para que um tratamento seja possível. O amor é o que permite que o inconsciente se articule ao saber. Diferentemente do primeiro momento teórico em que a palavra mata a coisa, no segundo a palavra cria a coisa e, ao mesmo tempo cria o Outro. O Outro se faz aí no encontro com o analista. O significante ordena o sintoma. O SsS é uma criação do sintoma. O analista no inicio é aquele que quer saber. Nesse sentido, ele deve provocar a elaboração. Falando, o paciente percebe que o significante tem mais de um sentido o que lhe possibilita inventar, ter acesso a um significante oposto ao que ele trouxe no inicio do tratamento. No entanto, nem todo paciente pode se beneficiar com a lógica do significante. Existem casos que são exemplares de contra indicação ao CPCT. O CPCT é um funcionamento regulado, principalmente no que diz respeito à duração e ao pagamento. Alguns sujeitos não podem aceitar as regras de funcionamento ( nem do tempo e nem da gratuidade). Se o sujeito não aceita a regra é porque a falha se encontra no simbólico. Isso denuncia os limites do que o analista pode e não pode fazer. O CPCT não deve ter a pretensão de querer fazer um homem normal. O que define o CPCT é o analista. O analista sabe antes de começar que tem os dias contados. A conclusão já está antecipada. O momento de parar o tratamento tem a ver com o sintoma e com o fantasma. O tempo limite produz resíduo, produz resto. O resíduo pode relançar e também infinitizar. MESA III – Novos sintomas – Maria do Carmo Dias Batista O que se pôde discutir sobre os Novos Sintomas com aplicação no atendimento dos casos e no funcionamento dos CPCTs: 1. Transferência A transferência nos Novos Sintomas tende à transferência negativa. Neles, melhor será utilizar o do desejo do analista como pivô do tratamento e o amor, como disse Hugo Freda, para obter efeitos terapêuticos rápidos. Aqui o matema seria, segundo Elisa Alvarenga, em vez do SsS, o do Discurso Analítico, onde o objeto a, no caso objeto-droga ou objeto-alimento, por exemplo, tem o sentido apontado para o $. _a → $ _ S2 S1 2. Direção do tratamento Como na psicose, trata-se de trocar o gozo do sintoma pelo gozo da palavra, pelo saber e pelo sentido como direção (→). Para tanto, retornamos à função do desejo do analista. 3. Identificação do ser ao sintoma Os sujeitos se apresentam identificados aos novos sintomas: “tenho TOC”; “sou drogadito”; “ouço vozes”; “sou da rua”. 4. Ponto de angústia A delimitação do ponto de angústia é importante no momento da mudança na relação do sujeito entre o novo sintoma e o querer saber sobre ele. 5. Efeitos Terapêuticos Os efeitos terapêuticos muitas vezes são difíceis de detectar. Porém, em geral, marcam o momento de saída do tratamento. Podem se apresentar como uma ancoragem em torno do pai imaginário ou o aparecimento de um afeto ou o surgimento de uma nomeação outra, diferente daquela à qual o sujeito estava identificado, que abre para um possível trabalho com o simbólico. 6. O traumático Deixo como questão: qual seria a importância do traumático nos novos sintomas? A queda dos semblantes: do novo sintoma ao sintoma analítico e deste a um possível trabalho com o traumatismo, seria uma direção para o tratamento? MESA IV – Efeitos terapêuticos e final do tratamento – Ana Lucia Lutterbach Holck O título da última mesa traz o debate sobre a relação entre a psicanálise aplicada (efeitos terapêuticos) e psicanálise pura (o final do tratamento). Este é hoje o tema essencial para tirarmos as conseqüências de atendimentos no CPCT. Angelina Harari ao abrir o debate levanta uma questão já lembrada por Jésus Santiago na véspera, os pontos que fazer coincidir o dispositivo dos CPCT e o do passe: a transferência não está dirigida a quem escuta mas ao dispositivo (no CPCT o paciente não escolhe o analista e no passe não há transferência ao passador mas à Escola); poucos encontros que exigem um trabalho de redução nos dois casos. Ressalto também o comentário de Hugo Freda: « No CPCT, quando o fantasma surge está na hora de concluir ». Se podemos fazer algumas aproximações quanto ao dispositivo, não devemos, no entanto, nos esquecer da distância que marca as duas experiências, tanto no que diz respeito aos objetivos quanto à tática e estratégia. Como se trata apenas de anotações deixo apenas alguns pontos essenciais sobre o assunto: 1. Toda análise se inicia como psicanálise aplicada e poderá ou não vir a ser uma psicanálise pura; 2. Nem toda psicanálise aplicada indica uma psicanálise pura em seu horizonte; 3. Os efeitos terapêuticos, objetivos de uma psicanálise aplicada, indicam também seu termo; na psicanálise pura, os efeitos terapêuticos podem se tornar o ponto decisivo de uma análise. Se uma vez alcançados, o paciente encontra seu fim, não é indicada a continuidade. Se não, é o indício de que estamos diante de alguém disposto a atravessar o deserto e ir até um fim; 4. Não podemos perder de vista que a psicanálise aplicada não substitui uma análise levada a seu termo e as demandas de um caso a outro não se confundem. Mas a pesquisa sobre as duas clínicas trazem ricas contribuições às duas modalidades; 5.O critério para se fazer um atendimento no CPCT não deve ser econômico mas clínico, aqueles casos em que, por um motivo ou outro, é impossível para o sujeito pagar por uma análise.
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