O século XVIII fez da felicidade, um objeto político. Assim, na Inglaterra, Mandeville, com sua fábula das abelhas, demonstrou que os vícios privados da Aristocracia contribuíam para a felicidade pública. A felicidade privada tinha uma função econômica: vício privado, benefício público. Ao contrário, na França, Saint-Just colocava que a felicidade era algo novo na Europa e sustentava que só a virtude privada poderia contribuir para a felicidade pública. Até que a báscula da revolução no Terror marcou o impasse do homem do desejo, tal como concebeu a Ilustração. Foi Freud quem permitiu retomar as aporias da Razão, sustentando que a razão é uma razão libidinal, criticando todo universal do Bem e mostrando a aporia da busca do prazer que abre as portas para o mais além do prazer. Não há um hedonismo tranqüilo para a psicanálise. É o avanço da biologia nos séculos XX e XXI que vai ter conseqüências decisivas para a biopolítica moderna. Franqueia-se, então, um passo decisivo com o anúncio do descobrimento de uma nova ciência: a ciência da felicidade. Esta parece uma contribuição decisiva à política das emoções, tão vibrante no novo espaço público. É Lord Layard, reformador social – diretor do Centre for Economic Performance at the London School of Economics – que, junto com Lord Davies e Anthony Giddens, convertem a London School em um laboratório do new labour de Tony Blair – que faz este anúncio em um livro publicado em 2005. Layard se faz conhecer primeiro, propondo novas políticas de emprego onde se apontam estímulos tanto positivos quanto negativos para reintegrar os desamparados ao trabalho e, assim, tirá-los da lista de beneficiários do sistema. Sua proposta se concretiza ao flexibilizar os salários e trabalhar mais tempo. Isto conduz à desconstrução do estado de bem estar, em nome de uma nova definição da felicidade. Esta ciência da felicidade se baseia na economia como busca de uma medida adequada da atividade humana. Mas, a medida nunca é a boa, por isso requer que se mantenha a conversação de forma permanente. Depois da Grande Depressão, começou-se a usar o PIB para medir a riqueza dos países. Passado o momento de recuperação da produção, constatou-se que esta não é uma medida ideal, já que não inclui, por exemplo, o que uma economia contamina e não só o que produz, como na China neste momento. Buscam-se outras medidas, mas como a economia é manejada no campo de uma racionalidade limitada, parcial e não total, mostra um buraco em seu centro, por nós chamado de A (barrado).O índice seria uma suplência que tentaria tapar este buraco. Mas, como se introduz a medida da felicidade? (Continua no Boletim n° 2.)
* Conferência de encerramento das VI Jornadas da ELP: A experiência do objeto na clinica psicanalítica. Corpo e Causa, celebradas em Madrid, em 10 e 11 de Novembro de 2007.
Transcrição não literal realizada por Joaquín Caretti Ríos, Madri
Tradução: Maria Cristina Maia Fernandes Revisão: Fernando Coutinho
Colaborações para o Boletim, entrar em contato com Luiz Fernando Carrijo da Cunha: [email protected]