EDITORIAL
José Martinho
Colaboram comigo neste no 4 da série Desassossegos dois prestigiados psicanalistas argentinos de origem polaca radicados em França que nos visitaram recentemente em Lisboa, Carolina Koretzky e Fabián Fajnwaks, ambos membros da Escola da Causa Freudiana de Paris; um prezado co- lega da vizinha Espanha, José Ramón Ubieto, psicanalista e professor uni- versitário em Barcelona; Marcelo Veras, psiquiatra, psicanalista da Escola Brasileira de Psicanálise e responsável pelo Blog da Associação Mundial de Psicanálise; e o Vice-Presidente da ACF, de Portugal, Filipe Pereirinha.
A todos pedi que escrevessem, sempre que possível numa linguagem acessível ao grande público, sobre a “psicanálise que interessa”.
A psicanálise que interessa os contemporâneos será uma psicanálise que se interessa por eles ou não será. Os psicanalistas encontram agora pessoas muito diferentes daquelas que se deitavam outrora no divã de Freud. Não nascemos, vivemos e falecemos mais como ainda há alguns escassos anos atrás. Reproduções e mortes tecnologicamente assistidas, e um processamento cada vez maior dos dados biométricos dos indivíduos convergem hoje com todo o tipo de informações digitalizadas recolhidas por vários sectores da sociedade, nomeadamente por aqueles que prome- tem aos cidadãos maior saúde, segurança e sossego.
Apesar destas sedutoras promessas, da globalização do mercado e do galopante progresso da ciência e da tecnologia, não se pode dizer que as crises que afectam a mente e o mundo diminuíram em quantidade e qualidade.
O cidadão hiperatarefado, hiperapressado e hipermedicamentado sente menos disponibilidade para procurar um psicanalista capaz de escutar o que teria para dizer livremente sobre a sua singularidade; e são inúmeros os obstáculos que têm surgido no caminho da psicanálise que podia servir de pulmão artificial a uma humanidade cada vez mais sufocada pelos poderes que poluem o ambiente.
Se apesar de tudo os psicanalistas continuam a acompanhar aqui e ali os novos sintomas que emergem na nossa civilização não é para os erra- dicar, ou adaptar à realidade que contribuiu para a sua formação, mas porque, mais do que a intermitência dos sonhos, é a insistência do sintoma que indica a melhor saída da situação.
9 Editorial
11 Abertura
José Martinho
A mais-valia de uma psicanálise
A Corda do Acordar
22 Carolina Koretzky
Sonhos e despertares
33 Fabián Fajnwaks
O ininterpretável
Saber-Fazer com o Sintoma
49 José Ramón Ubieto
Orientar-se pelo sintoma
62 Marcelo Veras
Saber fazer com a paranoia
69 Fabián Fajnwaks
Lidar com o sem limite
77 Filipe Pereirinha
O estado da arte